Felix

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Eu não era burro e sabia que Chan estava falando sobre mim no dia do ensaio, o que é uma droga. Eu não conseguia parar de pensar em quanto aquilo pode arruinar nossa amizade, como arruinou a minha amizade com Hyunjin. Eu gostava de Hyunjin e não queria admitir que gosto do Chan.

Por essas razões, novamente eu estava sendo um pouco evasivo com ele, tentava não puxar muito papo e sempre inventar uma desculpa para não termos "aquela conversa". Eu sabia que isso era errado e que deveríamos ter essa conversa mais cedo ou mais tarde, mas quem sabe se não falássemos sobre isso, o sentimento sumiria.

Ele não estava tentando me pressionar, estava respeitando meu espaço, não mencionava sobre o que havia acontecido e sempre dizia um "ok" para quando eu dizia que não podia conversar naquele momento.

Mas eu não poderia escapar para sempre, estávamos na mesma banda e eu não podia decepcioná-lo tentando escapar do ensaio, não depois de ele ter nos inscrito para tocarmos em um pequeno festival que se aproximava.

- Para onde vai? - minha mãe pergunta quando eu desço as escadas apressadamente.

Eu não fazia ideia do porquê ela estava em casa nesse dia.

- Clube do livro - sorrio para ela.

Ela me censura com o olhar.

- Pensei que esses encontros fossem online, não?

- Eram, mas não estava dando muito certo, então resolvemos nos encontrar para a discussão - sorrio mais uma vez, mas dessa vez sai mais forçado.

- Hmm, vão se reunir onde? - ela desliga a TV.

- Em um café no centro da cidade.

- Quer que eu te leve? - ela força um sorriso para mim.

A oferta de carona só havia sido feita porque ela queria se intrometer na minha vida.

- Não precisa, a senhora deve estar bem cansada - dou outro sorriso para ela - Vou indo.

Durante o percurso do ônibus, eu rezava para que não ficasse um climão entre nós, mesmo sabendo que isso não seria possível.

Felix: Cheguei

Mando a mensagem para Chan quando para na porta da Fraternidade. Depois de alguns minutos Lee Know aparece abrindo a porta.

- Eai - ele dá um sorriso fraco.

- Eai - passo pela porta quando ele me faz um sinal para entrar.

Nos dirigimos diretamente para a garagem. Chan e Changbin já estavam lá arrumando seus instrumentos.

- Eai - digo um pouco sem jeito.

- Beleza? - Changbin pergunta.

Chan só se limita a olhar para mim e dar um pequeno sorriso, com isso já estava assada a torta de climão.

Enquanto estamos todos nos preparando, Chan passa as instruções.

- Eu acho que a gente deve apresentar umas três músicas, a gente pode apresentar Back Door e esses dois covers - ele entrega as partituras para nós.

- Beleza - Changbin responde - Vamos começar ensaiando Back Door.

Durante o ensaio em si, o clima fica mais leve, pois rimos, discutimos e tocamos. Lee Know e Changbin não tinham nada a ver com o que estava rolando entre Chan e eu, então não podíamos deixar que isso influenciasse no nosso treinamento.

Eu estava afinando a guitarra quando terminamos de ensaiar e acabo nem percebendo que os outros garotos já haviam saído. Olho para o lado e vejo Chan guardando sua guitarra no suporte.

- A gente tem que conversar - falo enquanto guardo meu baixo no suporte.

- Sim - ele me olha - Vamos, eu vou te levar.

- Para onde? - pergunto.

- Qualquer lugar - ele dá de ombros.

Íamos ter aquela conversa e enquanto ele nos leva a qualquer lugar, eu fico pensando em como guiar toda aquela discussão. Eu estava confuso, não queria ser tão sentimental, queria deixar que a razão dominasse.

Estacionamos bem próximo a praia que estava deserta já que o clima estava frio e chuvoso. Descemos andando o caminho íngreme até a areia e o único som que se fazia presente era o das ondas que estavam agitadas.

- Sabe, eu nunca quis que as coisas fosse assim, só pra deixar claro. Eu entendo que somos amigos e eu não quero estragar isso - Chan quebra o silêncio, ele olhava de soslaio para mim.

- Eu entendo que os sentimentos surgem involuntariamente, mas seria tão mais fácil se de fato eles não existissem - falo, sem olhar em sua direção, enquanto caminhamos.

- Eu tenho sentimentos reais por você, eu não sei como eles funcionam, se vão sumir se não forem correspondidos, mas se você virar para mim e disser que não sente nada por mim, então eu vou ignorar tudo - ele olha fixamente para mim.

Retribuo rapidamente seu olhar apenas para captar que ele estava falando sério, que suas palavras eram verdadeiras. Eu não sabia o que falar, eu não queria dizer abertamente que eu estava gostando dele, na verdade isso não estava claro nem para mim mesmo. Porém, eu não queria mentir, ele estava sendo sincero comigo e merecia pelo menos um pouco da verdade.

- Não daria certo - decido dizer - meus pais são muito religiosos, eles não aceitariam isso, o que iriam dizer? o que as pessoas iriam dizer? - dessa vez falo o encarando.

- Você realmente se importa com a opinião das pessoas - ele fala sério - Não é como se estivéssemos em um país super rígido e super preconceituoso. E você vai viver para sua família até quando? Quando vai viver como quer?

- Você não entende - falo sério também.

- Não passei pelo que está passando, mas o mais importante é você não mentir pra si mesmo, não deixar os seus sonhos e os seus desejos por pessoas que não te entendem ou não fariam o mesmo por você - ele me olha por alguns segundos e depois desvia seu olhar para o mar quando paramos perto da maré.

- E se estiver enganado e for passageiro, só iria resultar em algo mal pra algum de nós - falo enquanto olho para a água cinzenta.

A chuva começa a cair.

- Se você me disser que é recíproco, então eu vou fazer de tudo pra isso dar certo, vamos fazer tudo no seu tempo, não é como se eu fosse experiente nisso também, a descuberta vai ser de ambas as partes... - ele para quando a chuva começa a ficar intensa - Vamos sair daqui.

Corremos em direção a moto. Literalmente voamos para o apartamento de Chan, mas basicamente já estávamos encharcados quando chegamos lá.

- Vou pegar toalhas pra gente -
Chan fala enquanto tira seu casaco e sua camiseta.

Meu olhar se fixa em sua costas nuas e molhadas enquanto ele segue para o seu quarto.

- Toma aqui - ele aparece com a toalha um minuto depois - tira a camisa, senão não vai adiantar nada.

Retiro minhas roupas da parte de cima do meu corpo e começo a me enxugar. Chan me olha enquanto isso, havia um certo calor em seus olhos.

A conversa que havíamos tido ainda ressoava em minha cabeça, eu tinha que dar uma resposta a ele. Para tomar aquele tipo de decisão, eu devia escutar meu coração o que eu não fazia muito, mas às vezes era necessário, eu entendia isso. Respiro fundo.

- Vamos tentar, só não vamos nos jogar de cabeça nisso - dou um sorriso fraco.

Ele me olha surpreso e depois abre um sorriso de orelha a orelha.

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Muito obrigado por lerem, por favor deixem a estrelinha e compartilhem para me incentivar a continuar escrevendo. Sintam-se a vontade para comentarem, eu amo interagir com os leitores. Eu estava com um pouco de bloqueio enquanto escrevia esse capítulo, então se não ficar tão bom, me perdoem kkkkk

Stray with Me (Chanlix)Onde histórias criam vida. Descubra agora