Eu não namoro coreanos

16. Tudo é azul.

Tudo era mais colorido quando ela estava por perto, pela primeira vez em muitos anos, eu conseguia respirar aliviado. Mesmo que Aurora fosse o maior furacão que tivesse passado em minha vida, por alguma razão distorcida, eu estava em paz com ela. Haviam incontáveis maneiras de estragar as coisas entre nós, entretanto, eu nunca poderia imaginar que dizer que a amava seria uma delas. O que quer que fosse que estivesse impedindo-a de se entregar pra mim completamente, a impediria de corresponder a minha fala também.

Não sei por que, mas eu vi medo nos olhos dela naquele momento. Era algo inexplicável, ela estava realmente aterrorizada com tudo aquilo. Será que ela tinha medo de amar? A palavra amor costuma ter um grande impacto nas pessoas quando dita de forma sincera, mas ao mesmo tempo, ela pode também ser bastante destrutiva.

— Você me deixa mais alta que qualquer droga. — Ela respondeu com uma expressão que misturava constrangimento e um sorriso sem graça. Acho que ela queria levar tudo na brincadeira, mas eu estava sério.

Aquela resposta me entristeceu, eu estava cansado de pisar em ovos. Queria que meu eu do futuro me visitasse e dissesse como terminaria aquele final de semana. Porque se eu soubesse naquela época o que sei agora, continuaria fingindo que não me importava com tudo aquilo. Se eu soubesse que naquele final de semana tudo deixaria de ser colorido e se tornaria azul, eu não teria dito a infame frase.

Sempre achei interessante o poder que a frase eu te amo possui e o quão volátil ele pode ser. As vezes, pode não significar nada, as vezes é muito melhor ouvir um eu te odeio carregado de raiva do que um eu te amo vazio de sentimentos. Ela parecia estar querendo me poupar de alguma coisa.

As pessoas pintam o amor como algo simples, mas na verdade é a sua complexidade que o faz ser tão fascinante. Resolvemos adiar aquela conversa, não faria sentido insistir em uma declaração que ela não estava confortável em fazer. Dormimos rápidos, a verdade é que o dia havia sido cansativo em todos os sentidos.

Ter ido ao casamento foi uma péssima ideia, não consigo parar de pensar no que teria acontecido se eu simplesmente tivesse partido para Los Angeles. As coisas acabariam daquele jeito? Ou nossa história teria tomado outro rumo?

Quando acordamos, foi como se nada tivesse acontecido na noite anterior. Aurora me tratava da mesma forma de sempre, ignorando que eu havia me declarado. Eu deveria ter achado aquilo uma coisa boa, afinal nosso relacionamento não mudaria, mesmo depois daquele momento estranho. Mas não... Ao invés disso eu escolhi ficar incomodado.

— Você pode fechar o zíper pra mim? — Ela pedia com as mãos dos dois lados do fecho de seu vestido, unindo-os. — Obrigada. — Ela agradeceu quando eu a obedeci.

— Pronta? — Perguntei pensando que já deveríamos ter saído, não estávamos atrasados, porém também não podíamos abusar do pouco de tempo que nos restava. Ouvi ela respirar fundo por trás de mim, quase como se estivesse se lamentando por algo. — Você está bem? — Perguntei sem entender o motivo daquilo.

— Sim. — Respondeu monossilábica e seca. — Eu só estou me preparando para mais uma sessão de perguntas indelicadas. — Explicou-se enquanto colocava os sapatos. — Estou pronta, vamos?

Por alguns segundos, eu quis acreditar que aquele era o problema, mas eu sabia que estava perigosamente próximo de descobrir a verdade. Chegamos no local da cerimônia e nos sentamos onde fomos designados. Não demorou muito para que o casamento começasse. Devo admitir que Hana tem um ótimo gosto para decoração e arranjos, peônias não são as melhores flores para um casamento, mas ela havia feito tudo ficar tão harmonioso. Talvez eu esteja me deixando levar por meus próprios desejos. Seu vestido era escandalosamente longo, em um tom de creme e com adereços de renda nas mangas e tronco. Haviam luzes penduradas em todo o local, mesmo que não houvesse necessidade de iluminar o local naquele instante.