Undercover - Jace x Simon

The one on the boat

   "Simon tirou a mão da boca. As presas tinham sumido.

— Eu poderia tê-lo matado. — disse ele. Havia uma espécie de desespero na sua voz.

— Eu teria deixado. — disse Jace."

    O vampiro havia ficado ainda mais pálido, se é que aquilo era possível. Os olhos arregalados de Simon o davam um certo charme, Jace pensou, se recusando a dizer em voz alta. Era interessante observar todos os efeitos que seu comentário havia tido, mesmo na situação em que se encontravam, Jace ainda conseguia esboçar um sorriso e aquilo pareceu irritar o outro.

— Você pode tirar o sorriso convencido da cara por um minuto? — Simon resmungou, se levantando do chão assim que sentiu suas pernas de novo.

    O sangue de shadowhunter correndo dentro do corpo de Simon o deixava elétrico, sua vontade era de sair dando pulinhos alegres por todo o barco, até se lembrar que Maia possivelmente estava morta e que Valentine poderia matar todos os submundanos a qualquer momento. Aquela não era a hora de pulinhos.

— Te incomoda, mundano? — Jace provocou, tomando de volta a atenção do garoto pálido e fazendo questão de sorrir ainda mais.

— Eu não sou mais um mundano! — Simon deu um passo para frente ao falar, mantendo a mandíbula tensa em irritação.

— Tanto faz.

    O revirar dos olhos de Jace aparentemente foi o estopim para Simon, que rapidamente se deslocou até estar perigosamente perto do outro, agarrando nas laterais da jaqueta de couro que destacava tão bem os traços dourados de Jace e jogando o shadowhunter contra a parede com toda a força que tinha. 

— Quantas vezes eu vou ter que salvar sua pele até você perceber que eu não sou um simples cara engraçadinho? — com um passo para trás, Simon podia jurar que o sangue dentro de si estava fervendo, mas era só uma memória de quando se irritava antes de morrer e voltar a vida. 

— Eu não te acho engraçado. — Jace provocou ainda mais, sabendo que levaria Simon a loucura.

— Cansei! — anunciou ele, colocando as mãos para o alto e virando lentamente de costas. Não fazia ideia de como sair dali, mas não conseguiria suportar o loiro por muito mais tempo.

    E Simon teria de fato ido embora, se não fosse a mão de Jace agarrando seu braço e o puxando com desespero para trás de uma divisão escura da sala dentro da embarcação.

— Ei! — o moreno tentou protestar, porém teve a boca tapada pela mão de Jace que não estava fortemente em seu braço.

    Simon pode ouvir passos pesados no local amplo logo atrás da coluna de metal em que eles estavam agora, passos no centro da sala onde estavam discutindo a poucos segundos. Teriam sido pegos. Simon tinha noção de que vampiros tem veneno e que esse veneno deixa as pessoas tontas, entre outros efeitos que Raphael citou, é como uma droga, e Jace provavelmente estava se sentindo drogado pela mordida, mas ainda assim conseguiu pensar rápido o suficiente para salvar a pele dos dois. Conforme os passos foram atravessando a sala, eventualmente sumiram. Jace finalmente soltou a própria respiração, lentamente tirando as mãos de Simon, com os olhos dourados presos nos castanhos a sua frente, preferia acreditar que só estava assim por algum tipo de encanto de vampiro, mas no fundo sabia que não. Simon admirava Jace, sabia o quão bom ele era na batalha e nunca teria sobrevivido sem o resgate dele, entretanto nunca falaria isso em voz alta.

— Eu te admiro muito. — a voz suave do vampiro foi ouvida, em um tom tão baixo que nem Jace tinha conseguido ouvir direito, mas ele ouviu o suficiente. — Quer dizer… — Simon tentou se corrigir, sem jeito. — Você salvou minha vida, eu agradeço.

    O silêncio de Jace fazia Simon querer morrer de novo, a única coisa que o outro esboçou ao ouvir aquilo foi mais um sorriso. Entretanto, dessa vez não foi um sorriso idiota ou convencido, foi um sorriso tímido, seguido de uma leve corada na bochecha, que Simon nunca pensou que veria no grandioso Jace Wayland. Simon queria apertar o rosto de Jace e o encher de carinho… espera. No que diabos eu estou pensando?

— Eu não te acho tão inútil assim… — o loiro disse, sem voltar a olhar nos olhos do outro.

     Jace também percebeu que estava a poucos centímetros de distância de Simon, com a bochecha levemente avermelhada e um sorriso adorável no rosto. Quem é essa pessoa e o que ela fez com Jace? 

    Dando um passo para trás, Jace voltou a falar.

— E eu teria deixado você se alimentar do meu sangue o quanto fosse preciso. — era duro para o garoto orgulhoso admitir aquilo daquela forma, mas eles talvez nunca saíssem daquele barco, então era melhor deixar tudo explícito naquela hora.

    Com os olhos fixos nos detalhes do rosto alheio, Simon teve um lapso de consciência, se perdendo em sua própria imaginação. O moreno agarrou as duas bochechas de Jace, espremendo o rosto delicadamente com suas mãos e o puxando com rapidez até acabar com toda a distância que havia entre eles. Sentiu os lábios levemente ressecados de Jace apenas sendo esmagados contra os seus. Simon estava esperando um soco, um empurrão, uma surra, tudo. Qualquer coisa menos a ponta língua do shadowhunter encostando levemente em seus lábios fechados. Jace não chegou a colocar as mãos em Simon, ele não fazia ideia do que fazer também, apenas continuou ali, delicadamente o beijando e estranhamente gostando do sabor de seu próprio sangue que ainda estava presente na boca alheia. As mãos de Simon escorregaram do rosto de Jace, se prendendo com afinco a gola da jaqueta aberta, sentindo as mãos quentes do outro tocarem os lados de seu pescoço conforme o loiro ditava mais movimento para aquele contato. Eles não estavam raciocinando aquilo direito, não sabiam o que estavam fazendo, mas combinaram tudo que tinham em um beijo quente. Jace mordeu o lábio inferior de Simon, porém quando o outro foi retribuir a ação, acabou deixando as presas rasparem de leve. O moreno travou, não queria morder Jace de novo, ele morreu de medo de ter estragado o clima, mas Jace apenas riu, se aproximando para mais um selinho.

    Eles pareciam ter esquecido do mundo ao redor, ainda sem raciocinar qualquer coisa. Gostaram de fazer aquilo. Porém um estrondo no lado de fora da sala fez Jace se afastar bruscamente, havia sido alto o suficiente para machucar a audição de alguém.

— É… — Simon quis começar a falar, mas outro barulho foi ouvido.

— A manhã já deve estar perto demais de chegar e eu preciso te tirar daqui.

    Jace agarrou novamente o braço de Simon, o puxando o mais rápido que podia através da sala, para o lado oposto do barulho. O vampiro estava um pouco indignado com a forma que Jace parecia não ter mudado nada mesmo depois de ter beijado outro homem, beijado Simon.

— Você vai fingir que não tava me beijando? — perguntou diretamente, sussurrando enquanto o outro checava a próxima sala do barco em busca de qualquer perigo.

— Sem tempo para isso, vampiro. — Jace o chamou de vampiro e não de mundano, talvez beijos fossem a solução para tanta implicância.