CAPÍTULO 11 - LUMA

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Bom dia leitoras, peço desculpas por pausar as postagens, eu andei desanimada, confesso. Voltar a ativa é sempre difícil, pois é necessário começar do zero e isso exige muita paciência. Enfim as postagens voltam aos dias certos ok? Terças e sextas sempre entre 18:00 e 20:00 hrs.
Espero que curtam a história e tem sorteio do livro físico rolando la no insta, participe! 😘

Boa leitura

​Vez ou outra, Clara tem a brilhante ideia de juntar a família

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Vez ou outra, Clara tem a brilhante ideia de juntar a família. O que resta dela, pelo menos. Não sei a razão de ela ficar tão carente a ponto de colocar todos no mesmo espaço. Contudo, é evidente que, fora ela, ninguém está satisfeito com a "reuniãozinha". ​
À cabeceira da mesa, tio Teodoro mastiga a comida com olhos vidrados em algum ponto atrás de mim que desconheço. Minha mãe, que ainda fede a cachaça barata, tomou banho minutos antes do jantar, e seu cabelo molhado está encharcando a gola da blusa que está vestindo.
Recuso-me a fingir qualquer satisfação, e vez ou outra Clara, que está ao lado esquerdo do pai, lança olhares suplicando um pouco de simpatia e ânimo da minha parte. Nenhuma conversa no mundo fluiria entre nós, eu sei, ela sabe, mas insistência é o seu nome do meio, amorosa e cheia de esperança também.
— Está gostando do mestrado, Clarinha? — minha mãe, que a venera, puxa assunto.
— Muito, tia, mas só volto no fim do mês que vem. Entramos de férias. A área que escolhi é maravilhosa, tem várias ramificações. E peguei o melhor orientador do mundo, tive muita sorte.
— Isso não tem a ver com sorte — interrompe tio Teodoro enquanto fatia sua carne. — Você é esforçada, conquistou dignamente, e seus professores reconhecem isso.
Engulo a comida, ignorando o que acabei de ouvir.
— Isso mesmo, sobrinha, seu pai tem toda razão.
— Tenho, e orgulho também. Perdemos nossa herança de família, mas não o nome nem nossas raízes. Maria Clara é prova disso.
— Obrigada. — Suas bochechas ficam vermelhas.
Inspiro uma boa quantidade de ar e mantenho minha concentração no garfo em minha mão. Teodoro não desvia o olhar de mim, e sei o quanto ele deseja que eu evapore.
— Vai ficar aqui comigo, filha? Quero levar você à fazenda do Osmar. Ele comprou um belo gado e quer que você dê uma olhada nos animais.
Enquanto conversam, espero desesperadamente uma ligação no meu celular, escondido entre as minhas coxas, na cadeira. Seria a desculpa perfeita para sumir desta reunião. Gilvan e eu temos trocado mensagens. Ele falou algo sobre eu trabalhar para ele e que isso renderia uma grana legal, o que, claro, é muito do meu interesse.
— Luma, vai ter vestibular no próximo semestre. Posso te ajudar a estudar, falar com meus professores. Administração. São 15 vagas.
Meu celular finalmente vibra.
— Eu na faculdade? Não sou inteligente como você, prima — deixo escapar, distraída.
— Talvez devesse focar em algo descente, que dê futuro. — A voz do tio faz a ficha cair de que falei alto.
Ergo a cabeça e sou metralhada por olhares incrédulos.
No fundo sei que Clara sabe como me sinto e tem conhecimento do universo de diferenças que nos separa. A única coisa que ela ainda não entende é que não vou permitir que isso me afete a vida inteira, ou seja, mais cedo ou mais tarde, ela vai engolir esse olhar de pena.
— Eu preciso ir. Tenho que trocar um cheque com a minha patroa — minto e fico de pé com o celular na mão.
— Quem é que você vai encontrar, Luma? Outro homem casado? — Tio Teodoro larga os talheres, que fazem barulho ao bater no prato de vidro. — É uma vergonha o que dizem de você, a maneira como se comporta! Vestida desse jeito, chamando a atenção e se deitando na cama com qualquer um!
— Pai...
Ele ergue a mão, e no mesmo instante Clara se cala.
— Eu vou falar com a minha patroa, já disse! — Sigo para a porta, as mãos suando e o coração prestes a explodir.
Cerro os dentes, mantenho a postura. Não pretendo perder nem mais um minuto sequer com tanta baboseira. A vida é minha, o corpo é meu, ele pode ir para o quinto dos infernos com essa opinião arcaica.
— Volta e senta! — ordena. O arrastar da cadeira me faz gelar.
— O meu pai está morto, e você não manda em mim. — Assim que falo isso, sei que coloquei mais um prego no meu caixão.
Menos de uma hora sentada à mesa, ainda assim o nível de intoxicação está alto. Ele pode até sobreviver com toda essa amargura, sentir-se forte com tanto rancor. Todavia, eu tenho meu limite, e se ficar aqui mais um segundo me sufocarei até a morte. Nós dois jamais teremos outro tipo de relação, nem quero que tenhamos. Nada pode apagar o que sinto pelo tio Teodoro, e, decidida, sigo para a porta, abro-a e a fecho atrás de mim.
Ando o mais rápido que posso e, quando dou por mim, já estou na praça principal, de frente para a igreja matriz. Sento-me no banco mais isolado, coloco a bolsa no colo e olho ao redor com meu telefone nas mãos. Como de costume, 7h30 da noite, todos estão na missa, a sorveteria está fechando, e a pastelaria, abrindo.
Desbloqueio a tela para conferir a mensagem. É de Henrique, querendo sair e ir ao motel de costume.
Há muito tempo saímos juntos, e no ensino médio achei que poderíamos até namorar. Ficamos várias e várias vezes, e ele sempre queria sexo, sempre pedindo e exigindo uma relação ousada. No fim, não passou disso, ele se casou com uma das certinhas e recatadas, e eu nunca deixei de ser só a amante. Não sei explicar o porquê de deixar as coisas seguirem por esse rumo, só sei que um dia, sem nem perceber, aceitei que ninguém nunca ia me oferecer mais. Desde então extraio o que posso e me esqueço de cada um deles assim que visto minhas roupas.
Sem clima, não respondo.
Volto a caminhar, sem ter compromisso ou algum lugar definido para ir. Prefiro isso a ter de voltar para casa e encontrar Lúcia bêbada ou tio Teodoro com a cinta.
Novamente meu celular vibra, e Henrique insiste em sair.
Por mais que eu esteja me sentindo sozinha, vagando à noite na rua, ele não vai suprir minha necessidade hoje, não faz sentido aceitar. E tem... esse lance com o Gael. Ele não pretende ficar na cidade por muito tempo, mas gosto de pensar que podemos continuar enquanto ele estiver aqui.

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