Capítulo 14 - GAEL

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Vamos que vamos!!!
Boa terça e boa leitura?!!😘😘

A impulsividade com que às vezes trato todos os meus assuntos sempre me afeta muito

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A impulsividade com que às vezes trato todos os meus assuntos sempre me afeta muito. Não imaginei que ciúmes e instabilidade, algo que nunca senti, iriam me afetar ainda mais. Odeio admitir: desde a primeira noite com Luma, nunca foi opção não querer algo a mais... É estupidez baixar tanto a guarda, sei disso, mas não sei mais como fingir que ela não tem esse efeito sobre mim.
Travo as portas do carro e sigo até Gilvan.
Luma sabe que ouvi o que Samuel disse, pois me encara em silêncio, não por escolha, e sim por ter consciência de que nenhuma explicação faz sentido. Traição para mim é imperdoável, e, de alguma forma, ela parece captar isso.
Muito prazer e alguma dor, essa é a minha expectativa com Luma. Seus olhos provocantes denunciam sua intensidade, ao mesmo tempo em que me assombram com dúvidas. Pensar em como me sinto quando estou com ela é a razão de tanta cautela, o que gera pouco ou nenhum controle.
Ironicamente.
Nunca gostei de metades, o meio-termo nunca foi a minha praia, por isso esse joguinho entre nós não faz sentido, nunca seguiu regras ou conheceu limites. Foi engano meu pensar diferente, achar que seria fácil persuadi-la até que se entregasse por inteiro, e então eu pudesse fazer o mesmo.
Desvio o olhar, resolvendo ir direto ao ponto com meu irmão e ir embora logo. Não vou debater nada com ela aqui nem agora.
— Estou te ligando — não cumprimento ninguém, apenas falo com Gilvan. — Por que não atendeu essa merda?
— Ei, cara! — Samuel me chama, porém permaneço de costas. — O gato comeu sua língua? Não falou com ninguém! Não vai se sentar com a gente e tomar uma? Luminha está nos servindo.
Troco olhares com Gilvan, e, por me conhecer bem, ele sabe que estou prestes a socar a cara do Samuel.
— Meu celular morreu, zero bateria — responde, ficando de pé, pronto para me segurar se for preciso. — Às 2h, não era? Vamos, então, Gael, melhor. — Toca no meu ombro sutilmente, reforçando que é melhor eu ir e deixar para lá.
Retorno para o carro acompanhado de Gilvan, lutando contra a forte vontade de voltar lá e tirar satisfação com Samuel, deixando claro de uma vez por todas que não gosto dele, nunca gostei.
De soslaio, percebo que Luma voltou para o caixa e que, de lá, olha para mim. Não faço a menor ideia do que está pensando, entretanto, não vamos ter essa conversa agora.
Ligo o motor e piso no acelerador, colocando a cabeça para fora da janela e conferindo se posso sair da vaga.
— Vamos até o km 19, na serra, estrada oposta da reserva — comento, focando no nosso trabalho.
Gilvan acende um cigarro.
— Você é foda, essa rota ficou do caralho. Ah, já ia me esquecendo de falar. — Ele alterna olhares entre os dois lados da rua e se vira para mim. — A Marcela me ligou, disse que podemos ficar no apartamento dela quando formos para o Rio.
— Ela me mandou mensagem também.
O asfalto termina, e trafegar em chão de terra batida com pedra de brita em péssimo estado, com desníveis em vários pontos, faz o carro trepidar bruscamente, exigindo mais habilidade ao volante.
Concentrado na tarefa, tento não pensar em Luma, mas, quanto mais me esforço, mais penso nela e no quanto odeio a ideia de outro cara se aproximar. Sei que não tenho o direito de exigir nada, porém não vou negar que esperava que essa atitude partisse dela: não ficar com mais ninguém.
Não é traição. No entanto, é como sinto.
Três quilômetros depois, chegamos à primeira porteira, e Gilvan desce para abri-la, acendendo o terceiro cigarro. Assim que retorna, traga e se senta, não evito e faço a observação:
— O que foi? — Aponto para o cigarro. — Você fuma muito, mas não assim, um atrás do outro.
— Estou numa boa, se é isso que quer saber. Não perco mais o controle — responde ríspido, referindo-se ao seu problema com drogas no passado.
Um dos motivos para ele ir morar comigo foi porque nossa mãe queria que eu ficasse de olho nele. Gilvan ficou internado para desintoxicação contra a vontade por várias semanas. Galdino nunca foi vê-lo nem nunca esqueceu. Em toda conversa e oportunidade, fazia questão de mencionar o ocorrido da forma mais inconveniente possível.
— Espero que não. Você não faria essa besteira de novo.
— Não faria — grunhe de má vontade.
— Mesmo com todo esse contato? — insisto.
— Já falei que não! E é por isso que estamos fazendo do seu jeito, não do meu e da forma que propus. — Joga o cigarro fora e apoia o braço na janela. — Preciso me manter sóbrio para sair de uma vez por todas das terras do Galdino, o que eu já até poderia ter feito, mas, em consideração a você, não fiz.
Passamos por um buraco; giro rápido o volante para amenizar o impacto. Gilvan fica ereto, estreitando os olhos para checar se já estamos próximos da segunda porteira.
O lugar faz jus a tudo que Felipe mencionou: é longe; em dias de chuva, é de difícil acesso; e a lei aqui não tem muita importância. A polícia parece fazer vista grossa com os palmiteiros da região devido aos rumores de extrema violência. Por essa razão, vamos apenas negociar acesso com os fazendeiros ao redor, passagem segura e discreta para o carro com as drogas. Esse foi o combinado, e, do meu ponto de vista, é bem melhor que o plano original, afinal vender nos exporia muito, e transportar, como Gilvan pensou a princípio, seria ainda mais arriscado.
Descemos do carro, ambos colocamos os óculos escuros, e, ao nos aproximarmos da porteira, o casal de velhos dono do rancho logo vem nos encontrar, amistosos, acenando fervorosamente.
Dois Rios fica na divisa Rio de Janeiro/São Paulo. A serra e reserva ecológica tem acesso a várias cidades, com trilhas e cachoeiras por toda parte, que, para serem acessadas, muitas vezes existe a necessidade de pedir permissão para atravessar algumas propriedades privadas. E essa é a nossa primeira tarefa: conseguir esses acessos negociando por eles em nome de uma empresa de fachada localizada no Rio de Janeiro e registrada no nome de um laranja, que virá "entregar embalagens esterilizadas" para melaço de cana. Essa propriedade tem um dos melhores acessos, discreto, sem fiscalização e com palmiteiros ao redor que também escoarão a cocaína. Com a rota pronta e segura, os amigos de Gilvan farão o resto.
O casal simpático nos oferece café, bolo e outros quitutes, e, com seu dom, meu irmão domina a conversa, faz com que ambos se sintam importantes em meio a muitos elogios, perguntas aleatórias sobre a propriedade e mentiras sobre amar a vida simples do campo. Gilvan venderia o diabo a qualquer um sem que o comprador se desse conta do erro.
Tento não rir enquanto assisto calado ao espetáculo, praticamente invisível aqui sentado.
Orgulhoso, Benedito, o dono da propriedade, mostra-nos sua horta, explicando para um Gilvan impecavelmente atencioso e comunicativo como ele cuida e irriga a plantação. Tecendo ainda mais elogios, meu irmão troca dicas de adubo, coisa que eu nem sabia que ele conhecia e que não faço ideia de onde aprendeu ou como inventou.
— Marta, esse café é maravilhoso. Se importa se eu tomar mais? — pergunta sorridente após mastigar outra fatia de bolo de milho, que eu nem toquei. É impressionante vê-lo em ação.
Sem esforço, fechamos o negócio, e assim entendo como Gilvan é capaz de dominar e manipular as pessoas à sua vontade, de forma tão natural que assusta.
— Você é uma cozinheira fantástica! E, seu Benedito, vou com certeza falar com uns amigos jornalistas. Essa horta orgânica dá uma excelente matéria e precisa estar na TV.
O casal nos acompanha.
— Voltem mais vezes, para almoçar! — convida a senhora de cabelos totalmente brancos, entusiasmada.
— Obrigado pelo convite — agradeço, apertando a mão de ambos. — Esse é o primeiro pagamento. — Entrego o envelope com dinheiro. — Nosso amigo ficará encarregado dos outros, semanalmente, às quintas, tudo bem?
O casal concorda feliz.
Saímos da casa com a melhor rota a nosso dispor por um preço baixo e com uma cesta cheia de doces, queijos e compotas caseiras.
Acenamos do carro ao atravessar a porteira.
Piso no acelerador e finalmente me permito rir ao vê-lo revirar a cesta sentado ao meu lado.
— Adubo? — indago, balançando a cabeça.
— Cala a boca... — Ele abre um saco com o que parece doce de leite de corte em pequenos cubos. — R$ 50.000 semana que vem na conta bancária. Parece piada pra você?
— Não. — Mudo a marcha, ainda achando graça de sua atuação. — Você é um cara de pau.
— É, eu sou, mas, graças à minha cara de pau, temos passagem segura. Não vamos ter com o que nos preocupar. Temos acesso à plantação de cana e à pista aérea ao mesmo tempo que temos ao palmital. Duas formas de escoar as paradas. Nós criamos a melhor rota!
— Só temos que ficar de olho na polícia da cidade — concluo.
— Vou dar um jeito nisso.
Alguns carros passam no sentido oposto, e, no meu bolso, o celular vibra três vezes seguidas. Por eliminação, só podem ser duas pessoas: Felipe, que foi quem indicou o casal e deu o endereço, ou Luma, que deve ter encerrado o expediente e quer falar sobre mais cedo.
Se for ela, prefiro ignorar. Ainda estou entalado com as merdas que o Samuel disse.
— Seu celular, atende. Chato pra caralho apitando. — Estende-me o aparelho, e o nome da Luma surge no visor. — A coisa entre vocês tá ficando séria, hein?
Apago a tela e deixo o celular de lado.
— Vai saber... — solto involuntariamente.
— Cuidado, cara, amor não existe — ouço Gilvan e dou de ombros.
— Não é bem assim. Eu não consigo te entender, sabia? O porquê de pensar assim.
— Qual é, Gael, você sabe que nada é tão simples. Se fosse, estaria com a Luma, não é?
— O que a Luma tem a ver?
— Tudo a ver. Se me falar o que rola, eu exponho meu ponto de vista, aí quem sabe você me entende — ele me desafia, recosta-se ao banco e tira os óculos escuros.
Bufo e troco novamente de marcha.
— Não vou ficar em Dois Rios e não quero nenhuma ligação com esse lugar. Luma sabe disso, e estamos apenas curtindo.
— Mentira — rebate. — Você tem é medo. Tá gamado nela já e tá lutando contra isso.
Ele ri e balança a cabeça com desdém, com a mesma mania de sempre de achar que tem razão sobre tudo.
— Curtir ficar com alguém não sustenta uma relação — argumento.
— Para, cara!
— Qual é a sua? Se não acredita em porra nenhuma do que eu falo e tem sua própria teoria, por que insiste nesse assunto?
— É a primeira vez que alguém te prende pra valer, e é engraçado pra caralho te ver sem o controle da situação. Justo você! É por isso que eu falo, amor é uma merda de um sentimento que desestrutura e fode a mente de um cara. Confiar em alguém nesse nível está fora de questão para mim.
— É isso que você pensa, então? A ideia de estar nas mãos de outra pessoa?
Finalmente chegamos ao asfalto, seguindo direito para a outra extremidade da cidade a fim de pegar a estrada de chão mais uma vez e ir para a fazenda.
Gargalhando, ele se vira para mim.
— Isso é você, não eu. — Apoia o braço na janela. — O Galdino, por mais que nossa mãe quisesse, nunca a amou. Ele nunca amou nada! Não é irônico que ele não tenha me reconhecido como filho, sendo que sou o mais parecido com ele? Amor não existe, Gael, eu nunca senti... por nada, nem por ninguém. Tá no meu DNA...
Não há mais traços de humor e nenhum argumento que eu possa usar para contestar seu ponto de vista. Todavia, algo me diz que são palavras vazias de alguém que sofre nos próprios termos.
— A Luma me confunde... — admito, sem encará-lo. — Não consigo confiar nela.
Acendo o farol alto, desacelero e dobro à direita. Dez minutos, e chegaremos à fazenda.
— Ela gosta de você.
— Será? Ela não sabe que estamos falidos, e, com tudo que falam dela, eu não sei...
— Agora você chegou ao ponto certo! — Gilvan respira fundo. — É fácil tirar essa dúvida. Deixe-a entrar na parada com a gente, só como informante. Garanto que será de um jeito seguro. Com dinheiro na mão, ela só fica se quiser.... Não acha? Dê poder ao homem e descobrirá quem ele realmente é. Não é isso que dizem?
Chegamos ao pátio da fazenda, onde manobro em silêncio, refletindo sobre os conselhos do meu irmão. Tenho a sensação de que suas palavras, bem orquestradas, escondem o real propósito do desafio. Não que ele queira me fazer algum mal; mesmo com seu jeito sombrio, não seria capaz.
Abro a porta, salto do carro, Gilvan faz o mesmo, e o assunto morre.
Sinto algo forte pela Luma, e não é do meu feitio joguinhos e armadilhas quando o lance fica sério. A verdade é que toda a minha incerteza vem do fato de eu ter consciência de quem sou, e isso significa que, se eu permitir que esse sentimento cresça, vou querê-la para mim e só para mim o tempo todo. Se eu deixar chegar a esse ponto e quebrar a porra do meu coração, também sei que é nessa hora que perderei toda a razão e o pior de mim virá à tona.
Coloco o celular e as chaves do carro no bolso. Seguimos para a entrada iluminada por pequenos holofotes, e, de longe, tanto Gilvan quanto eu notamos que há alguém sentado na escadaria da frente do imóvel.
Assim que nos vê, a pessoa fica de pé, revelando sua identidade.
Luma...
— Falei que devia ter atendido — debocha Gilvan, batendo no meu ombro e mudando de caminho para entrar pela porta lateral.
Meu olhar se volta novamente para ela, que vem ao meu encontro com as mãos nos bolsos da calça jeans preta e justa como sempre, realçando suas curvas.
— Oi — cumprimenta cautelosa.
— Oi — respondo, respirando fundo.
— Tem um minuto?
— Sim.
Seu corpo fica tenso, enquanto tento ficar calmo e ser paciente.
— Eu te liguei.
— Estava ocupado.
Trocamos olhares.
— Só quero que saiba que o que Samuel disse é passado. Ele é um babaca prepotente e só fala merda. — Luma cruza os braços para se proteger do frio, pois está só de regata, também preta.
Balanço a cabeça, comprimo os lábios e volto a respirar fundo.
— Você não me deve satisfações — tento soar casual, mas no mesmo instante meu sangue gela, denunciando a mentira.
— Eu sei, mas acho que devemos ter essa conversa. — Umedece os lábios e coça a cabeça, não se deixando abalar com a minha "frieza". — Não estou saindo com mais ninguém...
Ergo o olhar diante de sua sinceridade, que me desarma, deixando claro que realmente precisamos conversar e esclarecer alguns pontos. Necessitamos disso, porém não agora, não enquanto a raiva ainda estiver fervendo em mim.
— Olha, Luma, eu tô cansado. Acho melhor não conversarmos agora.
Amargas, minhas palavras a atingem em cheio, mas não sei dizer se ela está brava, chateada ou surpresa com a minha ignorância. Sei que estou bancando o moleque, mas imaginar Henrique ou Felipe com ela está entalado na minha garganta.
— Ok — assente, ajustando a alça da bolsa, dando um passo à frente e passando por mim.
Odeio-me imediatamente. Não sou esse tipo de cara.
Arrependido, viro-me para Luma, tirando a chave do bolso.
— Espera, eu te levo em casa. — Vou até ela.
Sem dizer nada além de um sim, Luma me segue. Atravessamos o gramado até o carro totalmente mudos. O cascalho sob nossos pés perto do veículo é o único barulho à nossa volta, já que nossos pensamentos estão ocultos.
Assim que ela afivela o cinto de segurança, sua atenção se volta para a janela, queixo apoiado na mão e o cotovelo no vidro.
Ao dar partida no motor, automaticamente minha playlist começa a tocar do mesmo ponto em que parou quando cheguei com Gilvan. Enquanto manobro, internamente travo uma batalha dolorosa comigo mesmo, tentando controlar minha impulsividade ao mesmo tempo em que o cansaço me faz querer jogar a toalha. Todo mundo passa por isso em algum momento da vida, o coração quer uma coisa, e a mente reluta, discorda, assim nenhum conselho se encaixa perfeitamente ou pode salvar alguém, afinal cada experiência é pessoal.
Olho para ela e depois para a estrada.
Ainda calada, algo que Luma não é, observo-a de soslaio, notando que está tremendo de frio. Inclino-me para ligar o ar e aquecer o interior do carro.
— Melhor? — Observo sua expressão.
— Sim — responde neutra, sem me encarar diretamente.
Em modo aleatório, as músicas não seguem um único estilo, e toca de tudo um pouco. Concentro-me na letra de Santeria, Sublime, fazendo o meu melhor para mudar o foco dos meus pensamentos a fim de acalmar seja lá o que, dentro de mim, rouba a paz desde o dia em que nos conhecemos.
Brad Nowell segue, cantando os últimos versos de sua mistura de ska-punk e reggae. Entretanto, a tensão do clima entre nós dois só aumenta. Chego ao limite com Birds, que dá sequência na playlist, não favorecendo em nada a situação.
"Dois corações, uma válvula
Bombeando o sangue, nós fomos a inundação"
CARALHO! NÃO DÁ MAIS!
Num brusco movimento, giro o volante, mudando de pista, e os pneus cantam quando piso no freio para inverter a direção, levando o carro para o acostamento. Sufocar o que sinto está me deixando louco, e estou completamente exausto, com um puta medo de me enganar, porém com ainda mais medo de nunca mais sentir a porra do meu coração bater tão forte assim só por chegar perto de alguém.
Luma... LUMA! O que você fez comigo!?
Assustados, seus olhos se voltam para mim ao mesmo tempo em que suas mãos agarram o assento, tentando se equilibrar.
Desligo o carro, e aos poucos os faróis se apagam. Esmurrando ainda mais o peito, meu coração dispara e se inunda de adrenalina.
Baixo a cabeça, solto o volante e volto minha atenção para Luma, que me analisa ofegante.
— Eu não quero que fique com mais ninguém — declaro convicto, sem desviar a atenção por nem um segundo.
Seus dedos deslizam no couro rumo às suas coxas, e sua expressão suaviza.
— E eu não quero ficar com mais ninguém — confessa.
Aliviado, sinto que posso e devo relaxar, por isso ligo o carro e volto para a pista.

***

De volta à fazenda após deixar Luma em casa, sigo para a escadaria falando ao telefone com Felipe, que insiste em passar a noite no chalé do Alto, há 2km da Cachoeira do Sal, que tem vista para o mar por fazer divisa com o litoral. É aniversário das gêmeas, e Gilvan já topou.
Encerro a ligação sem dar certeza, coloco o celular no bolso e, entrando na sala, dou de cara com Gilvan conversando com Guto, que parece apreensivo.
Troco olhares com meu irmão.
— Qual o problema?
— Dois, na verdade. — Gilvan traga, solta a fumaça e se desencosta do parapeito da janela.
Ando até o sofá e me sento de frente para o Guto, que esfrega o rosto.
— Osmar insiste que a Clara Nogueira cuide do gado, e eu não sei se gosto da ideia. Não quero o pai dela causando problemas.
— Posso ver o que consigo, tenho amizade com ela — falo, depois confiro a reação de Gilvan, que não esboça nenhuma. — E o segundo problema?
Guto faz uma pausa dramática e por fim dá a notícia:
— Emma vem pra cá. — Ele desaba contra o encosto da poltrona. — Vai resolver umas coisas e deve chegar em algumas semanas, nem eu sei direito.
— Não entendo o porquê de você continuar casado com ela. — Gilvan, sem nenhuma delicadeza, vai direto ao ponto. — Amor não é. — Joga-se ao meu lado.
— É complicado. — Guto fica de pé. — O que estou montando aqui, tudo que tenho feito, quero fazer do meu jeito, já que vocês dois me deram carta branca. A Emma é um pouco controladora, e eu não queria ter que lidar com isso agora.
— Um pouco? Ela escolhe suas roupas, sua comida, monta a agenda! — Gilvan segue com sua sinceridade inconveniente. — Chamaria isso de psicótica.
Guto enruga a testa, e Gilvan ergue as mãos, calando a boca.
— Bom, não sei o que vou fazer. Não acho boa ideia morarmos todos juntos. — Respira fundo e massageia as têmporas. — Eu saio, claro, se for o caso.
Levanto-me do sofá e vou até ele.
— Relaxa. — Dou um tapinha em seu ombro e o aperto. — Damos um jeito.
Ele meneia a cabeça.
Vou para o meu quarto.
Emma é um campo minado. Se está de mudança para Dois Rios, Guto vai realmente precisar de muita ajuda, então podemos deixar nossos problemas de lado e esquecer as brigas. Somos irmãos, no fim.

******

E esse Guto ein???
Ele é tão misteriosoooo

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⏰ Última atualização: Nov 10, 2020 ⏰

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