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Pov Priscilla

- Por que você não me esperou? - Vicky perguntou ao me ver entrando em casa depois de deixar o Miguel no colégio.

- E deixar o Miguel chegar atrasado? Não obrigada. - Eu disse ao colocar as chaves na mesa de costas para Vicky. - Só vim buscar um documento, já vou pra confeitaria.

- Tudo bem, amanhã eu saio junto com vocês.

- O Miguel vai voltar a ir de van escolar a partir de amanhã.

-Não precisa, pode cancelar isso e também não vejo mais necessidade da Renata aqui em casa.

- Ah pronto!

- Qual o problema?

Quem vai levar e buscar o Miguel todo dia na escola? Você vai deixar de trabalhar pra ficar com ele a tarde? Vai levar na aula de futebol, no judô? - Eu disse enquanto ela me fitava em silêncio um pouco assustada.  -  Faz quanto tempo que você voltou, hein? Será que não notou que aqui a gente segue uma coisa chamada rotina?

- Não precisa falar comigo assim, eu só pensei que a gente podia...

- Pensou errado.

- Cara, você está tão estúpida comigo. Que saco! Será que não dá pra você abaixar essa guarda? Eu só quero que a gente fique bem e tudo volte ao normal.

- O que é normal pra você? Você indisponível a maior parte do tempo, me deixando criar o Miguel praticamente sozinha?

- Você está sendo injusta comigo, Priscilla.  A gente sempre se resolveu, mas agora você está irredutível, o que mudou?

Eu parei pra pensar nas palavras dela e tudo que ela disse fazia sentido. Não é a primeira vez que a gente briga, não é a primeira vez que ficamos em crise, não é a primeira vez que ela volta por algo ter mudado na rotina dela ( que a propósito, ela nunca disse o que fez ela sair do emprego realmente, dizer que queria ficar mais presente nunca me pareceu realmente o motivo principal). Não é a primeira vez que tentamos terapia, não é a primeira vez que ela volta e tenta me seduzir pra eu esquecer e empurrar pra debaixo do tapete todas as outras nuances desse relacionamento.

- Eu não te amo mais. - Ela ficou estática. - Na verdade isso já faz um tempo, mas só agora eu to conseguindo entender que... Não funciona mais.

- Priscilla...

- Foi você mesma que disse, lembra? Na terapia que você fugiu,  eu sou uma hipócrita por querer tentar algo que eu sei que já foi, você também sabe.

- Não foi isso que eu quis dizer, eu...

- Nós estamos presas numa lembrança de quem a gente era quando nos apaixonamos, Vicky. A gente casou,  tivemos o Miguel, vivemos juntas até você se cansar de ter essa vida e usar seu trabalho pra não estar aqui, mas mesmo assim você não consegue se desprender da gente.

- Priscilla eu falei na hora da raiva.

- Olha pra mim, Vicky. É isso que te faz feliz? Todas essas discussões? Todo esse estresse?

- Priscilla a gente prometeu.

- Eu sei e podemos manter essa promessa de sempre estarmos aqui uma pra outra, o Miguel sempre vai ser nosso elo, mas não como um casal, na verdade a gente já deixou de ser há muito tempo.

- Como assim? O que você tá dizendo?

- Eu li sua carta, aquela que você rasgou na terapia. Eu sei.

O silêncio pairou até eu quebrá-lo novamente.

- Eu demorei pra ler, viu? Quando eu li eu entendi muita coisa.

- Quando foi que você leu a carta?

- Isso importa? - Franzi o cenho. -
No dia que cheguei da confeitaria com o Miguel. - Ela deu uma risada sem um pingo de humor.

- Você está interessada em outra pessoa.

- Não

- Não foi uma pergunta.

- Você diz isso só por eu ler sua carta?

-  Se estava com ela todo esse tempo e não se interessou em ler antes, alguma coisa mudou. - Eu fiquei novamente pensando em suas palavras, processando devagar e ela percebeu isso. - Eu preciso de ar - Ela se aproximou da mesa e pegou as minhas chaves.







Elo (Natiese)Onde histórias criam vida. Descubra agora