Os modelos do feminismo no Período Medieval

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O período medieval destaca-se como um momento histórico caracterizado por uma profunda misoginia. A chamada Idade Média, período que é didaticamente estabelecido entre os séculos V e XIV, é um momento em que o discurso religioso se estabelece como principal elemento ideológico a orientar as sensibilidades e a realidade cotidiana de homens e mulheres. Os primeiros séculos do medievo se constituem como um período de consolidação do cristianismo, e há uma série de disputas no estabelecimento de um dogma unificado e no combate às práticas vigentes então entre os diferentes povos. Este é um período de tensões sociais, marcado pelas chamadas “invasões bárbaras”, ou seja, pelas intensas migrações de povos denominados germânicos, os quais, paulatinamente vão se convertendo ou sendo cristianizados por meio da violência. Deste modo, a sociedade no auge do feudalismo (sistema econômico e social constituído neste período) era marcada pela perspectiva de um ordenamento que apresentava três funções sociais: o clero, que tinha por finalidade realizar a mediação entre divino e humano e aplicar os sacramentos, os guerreiros, que tinham por função primordial proteger as pessoas dos constantes ataques militares e, por fim, a massa camponesa que trabalhava para prover os recursos necessários para a manutenção da sociedade.

Neste contexto, no qual a vida ascética monacal será o modelo de comportamento desejado, as mulheres, que em diversas sociedades atuavam em posições de destaque ou respeito, em especial em relação à ritualística e ao exercício do poder religioso, são apresentadas, de modo bastante contundente, por meio da figura de Eva, personagem que irá alimentar os discursos negativos sobre o feminino. De fato, os discursos daqueles que produziam de forma hegemônica o conhecimento no período, ou seja, os representantes do clero, valiam-se da figura da primeira mulher para demonstrar a inferioridade da mulher, que teria sido criada após o homem, sendo criada a partir dele e subordinada a ele. No discurso misógino do período, as mulheres são apresentadas como infantis, incapazes e pérfidas. Associadas muitas vezes à práticas maléficas, as mulheres eram vistas com desconfiança e desprezo.

Entretanto, apesar de vigorar tal discurso, é possível observar que as diferenças de categoria social também influencia as possibilidades sociais das mulheres: enquanto as mulheres da nobreza sofriam um controle mais exacerbado, dada a sua utilidade como elo entre diferentes espaços de poder por meio do casamento, as mulheres de extratos inferiores trabalhavam lado a lado com seus esposos e possuíam muitas vezes influência junto às comunidades como parteiras e conhecedoras da natureza e de plantas medicinais.

Entretanto, apesar das restrições impostas às mulheres e os discursos negativos sobre o feminino, muitas mulheres conseguiram romper com tais  amarras, conseguindo não apenas acesso à educação, mas também exercer o poder por meios diversos. Assim, mulheres como Leonor de Aquitânia, Hildegarda de Bingen e Cristina de Pizan atuaram de forma destacada na sociedade, produzindo conhecimento e influenciando os eventos políticos de sua época. Outras mulheres, como Joana D’Arc, camponesa que liderou exércitos no conflito conhecido como Guerra dos Cem Anos, também tensionou os papéis sociais de sua época. Este período também foi o momento em que surgiu a construção do amor romântico, presente nos romances de cavalaria, forma literária muito apreciada neste momento histórico.

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