Capítulo 17

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Tive alguns lapsos de consciência seguidos de alguns delírios, sem conseguir me mover e com muita dor, logo mergulhei na escuridão novamente

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Tive alguns lapsos de consciência seguidos de alguns delírios, sem conseguir me mover e com muita dor, logo mergulhei na escuridão novamente. Quando acordei em meu quarto, não sabia dizer quanto tempo havia passado, meus olhos se acostumavam com a súbita claridade e ganhavam foco, Lúcia lia um livro concentrada em uma poltrona mais ao fundo do quarto, me ergui um pouco na cama o que atraiu sua atenção, fazendo com que largasse o livro que lia e viesse ao meu encontro.

_ Graças a Aslam, você acordou, o que passou pela sua cabeça ao ir enfrentar aqueles piratas sozinha? - fiquei em silêncio tentando lembrar do ocorrido, mas era como uma névoa em minha mente, sem ter uma resposta certa para lhe dar ela continuou - Quer saber não importa estou feliz que esteja bem - disse ela em um sorriso sincero -.

_ A quanto tempo estou dormindo? - perguntei sentindo minha voz arrastada -.

_ Uma semana, você tinha muitos machucados, mas nada muito grave, o médico disse que o pior era a exaustão e que era normal que você dormisse muito - disse ela como se lembrando de algo - você tem noção do que fez? Está sendo exaltada como heroína por todo país, o próprio rei quer lhe dar um título por salvar seu filho.

_ E o menino como está? - perguntei sem dar muita atenção a adulação desnecessária -.

_ Está bem, só ficou assustado - pude me sentir mais tranquila ao ouvir - ele já contou a história uma dezena de vezes, de como você venceu todos aqueles piratas, e toda vez que conta, ela aumenta um pouco mais - ri fraco devido a dor que ainda sentia - tive que omitir de Pedro os detalhes do que aconteceu mais ainda assim, ele quase veio para cá na mesma hora em que recebeu a carta. Edmundo me escreveu mais cedo dizendo que teve que acalmar Pedro e Susana que estavam prontos a vir a Anvard e iniciar uma guerra com seus gênios difíceis, ele disse a eles que se algo grave realmente tivesse acontecido eles teriam sido informados, do contrário está tudo bem.

_ Obrigada por isso aliás - agradeci sorrindo -.

Passamos o resto do dia conversando calmamente e ela já não mais quis tocar no assunto dos piratas, mas pelo que eu ouvi todo o reino ficou com medo, os guardas estavam se referindo a mim como a ruína dos piratas e eu não estava nada feliz com isso.

Sobrevivi por mais sorte que juízo, os homens eram fracos e sem técnica, suas espadas eram velhas e sem fio, eram farsas assustadoras dos piratas que um dia foram, ainda assim enquanto estava lá tive a certeza de que não sairia viva, apenas ganharia tempo para que os guardas chegassem e eles não pudessem desaparecer no mar com o menino.

Não há honra nenhuma na guerra, fiz o que precisava ser feito não por gosto ou por adulação, mas por que sabia que se não tivesse dito nada ao rei o menino não haveria se aventurado entre piratas para provar seu valor. Levei mais alguns dias para sair do quarto e algumas semanas para me recuperar realmente. Nesse meio tempo recebi muitas visitas me parabenizando por meus feitos, me contentei com apenas caminhar pelos corredores enquanto melhorava.

Em uma noite em específico quando todos se encontravam no grande salão tomando chá próximo à lareira, ouvi o príncipe contar novamente como o salvei de um bando de piratas, tossi algumas vezes anunciando minha presença.

_ Não há honra na guerra - disse deixando-o levemente ruborizado - Estou vendo que gosta de histórias, por que não me deixa contar uma? - ele assentiu, me sentei em uma poltrona mais próxima da lareira que crepitava e logo todos prestavam atenção em mim - Vou lhe fazer uma pergunta, se tudo começou no ano um, o que existia antes disso? - todos me olharam sem compreender - a um pouco mais de 1000 anos atrás, o mundo que conhecemos era um simples vazio, não havia uma única estrela. Só existia a escuridão, o ar era frio e seco. E do vazio surgiu uma voz, que entoava uma bela canção, sem palavras, apenas a notas de uma melodia única. O som mais belo que ninguém jamais ouvira, tão bonito que chegava a ser insuportável, e com ele trazia vida. E então como se respondendo aquela canção outras vozes se uniram a primeira, mais agudas, vibrantes, argênteas.

E tão pronto como começaram a cantar, a escuridão cintilou em estrelas, devagar, uma por uma, milhares de estrelas espalhavam, constelações e planetas iluminavam o céu, e as próprias estrelas cantavam junto a Primeira Voz, a voz profunda, que as despertou.

A Voz na terra estava agora mais alta e triunfante, mas as vozes no céu, depois de entoar com ela por algum tempo, tornaram-se mais suaves. Longe, perto da linha do horizonte, o céu se acinzentava. Movia-se uma aragem leve e refrescante. O céu tornava-se gradualmente mais pálido e surgiam formas de colinas recortadas contra ele. E a Voz continuava a cantar.

O céu do oriente passou de branco para rosa, e de rosa para dourado. A voz subiu, subiu, até que todo o ar vibrou com ela. E quando atingiu o mais potente e glorioso som que já havia produzido, o sol nasceu. Ele subia pelo céu e se podia ouvir seus risos de alegria enquanto seus raios de sol cobriam a terra, que agora se tornaram um vale através do qual serpenteava um grande e caudaloso rio, que corria para o leste, na direção do sol. Ao norte, colinas suaves; ao sul, montanhas altas. Mas era um vale apenas de terra, rocha e água; não havia uma única árvore, arbusto ou folhinha de capim. Ainda assim a terra cintilava em cores quente e brilhantes.

Então a canção mudou, era mais suave e ritmada do que a canção que convocará as estrelas e o sol; uma canção doce, sussurrante. E a medida que a canção seguia o vale ia ficando verde de capim. O capim se espalhava subindo pelas encostas dos pequenos montes como uma onda. Em poucos minutos deslizava pelas vertentes mais baixas das montanhas distantes, suavizando cada vez mais aquele mundo novo. Podia-se ouvir a brisa encrespando a relva. E surgiam outras coisas além da relva. As mais altas encostas iam ficando escuras de urzes. Manchas de um verde mais intenso apareciam no vale.

Árvores, e elas cresciam com uma velocidade jamais vistas, se tornando grandes e belas em questão de segundos, e todo o vale se viu salpicado de margaridas e botões-de-ouro. Mais adiante, ao longo da margem do rio, cresciam salgueiros. Do outro lado, emaranhados de arbustos de groselha floridos, lilases, rosas silvestres e azaléias. E quanto mais a música mudava mais coisas iam surgindo naquele mundo jovem. Até que finalmente cada animal desde os pequenininhos até os grandes surgiram.

_ Mas quem cantava? - perguntou o menino atento -.

_ Aslam cantava, reluzindo sobre a luz do sol, de todos os animais ele escolheu e os separou, e estes o seguiram em silêncio até que foi ouvido "Nárnia, Nárnia, desperte! Ame! Pense! Fale! Que as árvores caminhem! Que os animais falem! Que as águas sejam divinas!". Mas assim como a fundação de Nárnia é bela é triste também, antes mesmo das estrelas surgirem o mal já impregnava o mundo, e desde então não o deixará. Fomos criados com amor, por amor e para o amor, e por isso não há orgulho nenhum nas batalhas que travamos, fazemos o que fazemos por que é necessário, mas nunca deve se orgulhar de ferir outra pessoa - disse sem nenhum orgulho, todos nesse momento me olhavam admirados e só então percebi que a história tocará cada pessoa daquela sala de formas diferentes - acho que já passou da hora de dormir, se me dão licença.

...

Nota da Autora

Eu simplesmente sou apaixonada pela visão de C.S. Lewis sobre a criação do mundo, quem já leu conheça a beleza de suas palavras. Essa capítulo me deu um ânimo inimaginável, e como eu já disse toca cada um que o lê em sua própria forma.

Perdoem os erros a autora é disléxica.

As Crônicas De Nárnia - Uma história da era do ouroOnde histórias criam vida. Descubra agora