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CAROL ON

- Vumbora meu consagrado! -Chamei pela milésima vez- Nós vamos chegar atrasados, odeio essa fama que peguei por sua causa! -Revirei os olhos e escutei a risada dele vindo do meu quarto- VAMOOO JOÃO!

- Calma caralho, a gente nem está tão atrasado assim, marcamos com o pessoal 19:00hrs! -João saiu do meu quarto abotoando a camisa dele e fiz cara de tédio, o mal de ter amigo folgado é esse, come da sua comida e ainda toma banho na sua casa- Talvez um pouco atrasados. -Ele olhou no seu relógio e riu- Porém nada de mais. Vamos?

João era um menino que eu ficava quase sempre quando eu vinha para o Rio, mas a verdade é que ele sempre foi muito mais meu amigo do que meu ficante. Ele é fofo, engraçado, carinhoso, sabe escutar e a melhor pessoa para me dar conselhos sobre tudo e todas as coisas possíveis da vida, a gente sempre se deu muito bem.

- Ave maria! -Andei até a porta com ele- Se você demorasse mais 2 minutos eu desistiria de sair, namoral mesmo! -Abri a porta e dei de cara com o Ramon que na mesma hora olhou pra gente-

- Tô atrapalhando alguma coisa? -Ele perguntou me olhando e depois encarou o João-

O Ramon conhecia o João da faculdade e eles não se davam muito bem por o Ramon cismar com a ideia de que o João ainda queria ficar comigo.

- Ta atrapalhado sim. -João passou o braço no meu pescoço e vi o Ramon fuzilar ele com o olhar- A gente ta meio atrasado pra sair, ta ligado?

- Falei com você não meu filho, tô falando com ela! -Ramon falou grosso e voltou a me olhar. Oi deus, me da uma ajudinha aqui please?-

- Ou, ou, ou, sem aumentar a voz na minha porta! -Tirei o braço do João do meu pescoço e encarei ele que tava com o sorriso sonso na cara- Vai na frente e me espera lá que em 5 minutos eu desço, pode ser? -João só fez concordar com a cabeça e saiu ainda tombando no ombro do Ramon que só fez fechar a mão e respirar fundo- Vem, entra. -Chamei ele que entrou e eu fechei a porta-

- Vai, fala aí. -Ele cruzou os braços e meu deus, ele ficava muito gostoso de social e ainda com essa cara de bravo-

- Eu e o João estamos saindo para encontrar uma galera que andava com a gente, só isso. -Dei de ombros e ele riu cínico-

- E por que você mentiu pra mim dizendo que estava com dor de cabeça e que ia dormir?

- Eu não menti pra você, depois que te mandei mensagem fui realmente dormir, mas acordei com o João quase derrubando minha porta e como eu já estava melhor resolvi aceitar o convite dele e sair com todo mundo. Só isso. -Respirei fundo e ele seguia me encarando- Que foi? Não vai acreditar em mim?

- Engraçado que se eu te contasse uma história dessas tenho certeza que você não acreditaria e ainda falar pra caralho e me chamar de várias coisas, mas quer saber? Tá de boa! -Ele soltou os braços e desviou o olhar do meu- Como você vive dizendo toda hora, a gente não tem nada mesmo, então eu não tenho que te cobrar nada e nem você me dar satisfação de coisa nenhuma, nem sobre você e nem sobre a tua vida. -Voltou a me olhar- Boa noite e aproveita! -Ele deu um sorriso fraco antes de sair-

Confesso que ouvir aquilo e ver ele me tratar daquela forma fria doeu em mim, doeu bastante por sinal. Fiquei mais uns minutos alí na sala só com a voz dele ecoando na minha cabeça.

"A gente não tem nada", ele tinha razão mas não pela primeira vez, eu quis muito que ele não tivesse e que a gente tivesse sim algo, algo somente de nós dois, sem mais ninguém.

Voltei a realidade e arrumei a alça da bolsa no meu ombro, respirei fundo e saí de casa trancando a porta e guardando a chave. Andei até o estacionamento vi o Ramon saindo de perto do carro do João.

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