Capítulo Dois - Parte 2

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Bato na porta do apartamento de Nai uma vez antes de entrar, bufando. Óbvio que depois disso eu não ia esperar a fila do elevador, então foram sete andares correndo escada acima. Pelo menos os gritos pararam em algum momento enquanto eu ainda estava subindo e não ouvi nem explosões nem nada do tipo, então realmente não foi um ataque.

— Falei que ela ia chegar rapidinho — Nai comenta.

Fecho a porta atrás de mim. Nai e dona Edna estão sentadas na mesa e Maira também está aqui, vestindo as minhas roupas velhas que emprestei para ela conseguir vir para os bairros altos sem ser notada. A essa altura ela já tem não sei quantos disfarces diferentes para vir aqui, mas nada disso muda o fato de que qualquer um que saiba o que procurar vai notar a diferença de qualidade entre as roupas de uma draconem e alguém dos bairros altos. Eu deveria ter imaginado que, se teve alguma informação nova vinda de Raivenera, é porque Maira está aqui.

— Eu tenho um celular, sabe? — Resmungo. — Às vezes um aviso é bom.

E já faz um bom tempo desde que meu celular parou com a mania de morrer do nada e me deixar incomunicável.

— Ia dar na mesma — Maira fala. — Cheguei não faz muito tempo.

Reviro os olhos e puxo uma cadeira. Droga. Meu cachorro quente. Desabo na cadeira ao mesmo tempo em que confiro se meu celular ainda está no cós da calça. Pelo menos isso. Não faço nem ideia de onde foi que o cachorro quente caiu. Provavelmente quando atravessei a rua correndo.

Os pelos do meu braço arrepiam.

— E agora que Ana chegou, talvez seja uma boa ideia contar porque tivemos essa revoada de draconídeos — dona Edna fala.

Certo. Não sou a única irritada por não saber o que foi isso e Maira é louca de deixar dona Edna esperando respostas.

Maira suspira e se vira na cadeira. Tenho a impressão de que o cabelo dela está com mais mechas violeta do que antes, mas é difícil ter certeza no meio de todos os cachos. Eu não fazia ideia de que isso era possível, não de forma natural - e eu sei melhor que ninguém que tintas e descolorantes não funcionam bem em cabelo de draconem. Não é àtoa que meu cabelo é azul: azul de metileno foi a única coisa que consegui fazer ficar.

— Essa "revoada", como você disse, foram os emissários de uma possível aliança chegando — Maira conta.

Nai olha para mim e balança a cabeça. Ela também não sabe de nada sobre isso, então.

— Possível aliança — dona Edna repete.

Maira assente e respira fundo.

Informações. Por favor, informações. Não aguento mais ficar só nas teorias.

— Zeli-Amare passou as últimas duas semanas lidando com as informações que nós liberamos sobre o laboratório — Maira começa. — Não temos como liberar isso de um jeito que as pessoas dos bairros altos tenham acesso também, mas os draconem... Isso está rodando o país inteiro e até fora.

— E isso não serviu para deixar eles mais fortes? — Dona Edna pergunta.

Maira sorri.

— Por causa de famílias interessadas no tipo de coisa que eles estavam fazendo? É um risco e tenho certeza que tem gente em contato com eles. Mas ninguém vai fazer nada abertamente, ainda, por causa da repercussão negativa que a história toda está tendo. O tipo de coisa que acontecia naquele laboratório... Zeli-Amare passou dos limites. E o laboratório era conhecido. Todos das grandes famílias na região sabiam que ele existia e provavelmente ouviram o mesmo que Augusto e eu, quando pediram nosso juramento. Descobrir o que realmente acontecia lá foi um golpe pesado na credibilidade de Zeli-Amare.

Marcas de Sangue (Draconem 3) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora