Capítulo Cinco - Parte 2

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Não sei por que me surpreendo quando escuto uma batida na porta, mas é o suficiente para me fazer voltar para o meu lugar no sofá. Nai olha para mim e balanço a cabeça. Não faço ideia de quem seja, só quero estar fora do caminho se for Maira e ela ainda estiver furiosa.

— Entrem — Augusto fala.

No plural e com esse tom solene. Nada bom.

Puxo minhas mangas mais para baixo. Nai me passa um par de luvas escuras de algum tecido meio elástico, com as pontas dos dedos cortadas. Não faço ideia de quando foi que ela arrumou isso, mas com certeza não vou reclamar. Calço as luvas depressa e solto o ar devagar. O tecido é grosso o bastante para esconder o resto de brilho do poder.

A porta se abre e a feiticeira - Brenda - entra, com dois homens usando o uniforme dos cavaleiros atrás dela, mais uma feiticeira e duas mulheres que tenho certeza que não são feiticeiras. Provavelmente matriarcas das famílias draconem, até porque eu acho que me lembro de uma delas. Pelo menos seu rosto não me é estranho. Mas não tem a menor chance de eu me lembrar quem são as matriarcas sendo que eu já não tinha nenhum contato com esse lado dos draconem anos antes de ser banida.

Eles param um ao lado do outro, olhando para Augusto, e inclinam a cabeça. Nai me dá uma cotovelada. Não vou olhar para ela. Não mesmo. Tenho certeza de que ela está segurando para não rir - passei tempo demais ouvindo piadinhas sobre o tradicionalismo dos draconem. E se eu olhar para ela, eu vou começar a rir e isso é uma péssima ideia agora.

— Podem se sentar — Augusto fala.

Eles puxam as cadeiras ao redor da mesa enorme e se sentam praticamente ao mesmo tempo.

Não vou olhar para Nai. Não vou olhar para Nai.

Uma das matriarcas olha para o sofá do outro lado da sala, onde Lena e Natasha estão sentadas. Tenho a leve impressão de que se não estivéssemos exatamente atrás deles, alguém já teria virado para encarar Nai e eu, também.

— Pensei que esse fosse um assunto oficial — a matriarca fala.

E elas estão tampando Augusto. Não tem nenhum ângulo que dê para ver ele e eu realmente queria ver sua expressão agora.

— E é — Augusto responde.

— Então por que tem pessoas de fora aqui? Que eu saiba esse pessoal dos bairros altos não deveria nem estar dentro do castelo.

Claro. Alguém ia ter que falar isso. E não duvido nada que os cavaleiros e talvez até a outra feiticeira estão pensando a mesma coisa, mas pelo menos não foram eles quem falaram isso. Eles viram o que fizemos tanto hoje quanto duas semanas atrás.

Travo os dentes quando sinto Augusto reunindo poder. Isso dói. Qualquer coisa envolvendo poder dói, agora.

— Tem pessoas de fora aqui porque elas correram para o castelo quando viram que estávamos sendo atacados. Saíram dos bairros altos e chegaram aqui em tempo de ajudar o nosso pessoal. Por essa lógica, elas têm tanto direito de estar aqui quanto vocês.

A mesma matriarca que falou dá de ombros e gesticula na nossa direção. É, eu com certeza já vi ela antes - e já tive problemas com ela antes, também. E isso já é o suficiente. Não quero tentar me lembrar de detalhes.

Mas a resposta de Augusto levanta outro ponto: nenhum dos draconem de fora das muralhas do castelo veio ajudar. Nem cheguei a pensar nisso, porque é o esperado. Draconem, se mobilizando para fazer alguma coisa que não seja vantagem para eles? Impossível. O problema é que a situação agora é diferente. É vida ou morte e eles vão ter que ajudar. E não sei se Augusto tem influência o suficiente para fazer isso acontecer. Se fosse a mãe dele lidando com isso, a Domina, seria simples. Ninguém ia pensar em desafiá-la. Mas Augusto é novo, assumiu a cidade recentemente e não tem nenhuma história para impor respeito, como a Domina tinha.

Marcas de Sangue (Draconem 3) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora