Capítulo Três - Parte 2

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Saio do elevador arrastando os pés e paro. Droga. Não preciso nem chegar mais perto da porta do meu apartamento para saber que as duas pessoas encostadas na parede são Natasha e Nai.

Eu só queria poder chegar em casa e me jogar na cama. Foi exatamente isso que falei para Maira quando ela falou que eu devia ficar lá: que não importava o quanto uma cama no castelo fosse confortável, não ia ser a minha cama e eu merecia isso depois do que aconteceu naquela caverna. Minha cama, na minha casa, com o meu sossego. Mesmo que "sossego" nos bairros altos seja uma coisa muito relativa.

Suspiro e volto a andar. Não adianta querer fugir e ir bater na casa de outra pessoa, elas sabem todo mundo que eu convivo. E só tem um motivo para Natasha estar aqui agora.

Droga.

— Eu já estava começando a achar que você nem ia voltar hoje — Nai fala.

Suspiro e começo a destrancar a porta, sem nem olhar para elas.

— E eu estou começando a achar que não devia ter voltado. Eu só queria dormir agora, sabe...

Abro porta e entro.

— Usou o tempo verbal certinho — Nai completa.

Reviro os olhos e jogo minha mochila em um dos sofás.

Natasha entra no apartamento antes de Nai e para na minha frente. Merda. A última vez que vi ela com essa expressão foi em um dos eventos de luta, quando um desafiante fez alguns comentários sobre como ser ridículo pensar que uma mulher manca fosse ter a menor chance de vencer. E me lembro muito bem do que ela fez com o homem. Ele teve que sair carregado.

Nai entra e fecha a porta. Natasha olha para ela de relance antes deme encarar de novo e respirar fundo.

Não. Ela não está respirando fundo. Está farejando alguma coisa. Algum resto de poder?

Merda. Ela sabe exatamente o que aconteceu no castelo, de alguma forma. Não tem outro jeito de entender isso. E pelo visto não gostou nem um pouco.

Ela levanta a manga da blusa larga que estou usando e encara as marcas vermelhas na minha pele. É bem provável que amanhã o vermelho já tenha desaparecido e fiquem só linhas mais claras, mas agora... Nai puxa o ar de uma vez. É, isso doeu tanto quanto parece ou mais.

Me solto de uma vez e vou para a cozinha. O que tem em casa mesmo? Água. Pelo menos isso eu tenho certeza que tem na geladeira e estou morrendo de sede.

— Eu vou arrancar o coração de Augusto. Com as mãos — Natasha praticamente rosna.

Encho um copo de água gelada e volto para a sala.

— É meio complicado arrancar um coração com as mãos — Nai comenta. — Tem a caixa toráxica no caminho, então você teria que quebrar os ossos e tirar eles primeiro, pra só depois alcançar o coração. Vai por mim, precisa de uma serra e um fórceps, pelo menos, e...

Natasha se vira para ela. Nai levanta as mãos.

— Tá, esquece. Vai fundo. Arranca o coração dele. Uhul.

Se fosse qualquer outra pessoa, eu nem ia me preocupar com isso, mas como foi Natasha falando... Ela conseguiria arrancar um coração humano com as mãos. Sem a menor dificuldade, inclusive.

Suspiro e me jogo no sofá.

— Ninguém me obrigou a nada, Natasha. Eu fui convidada e aceitei. Só isso. Não precisa arrancar o coração de ninguém.

Mesmo que eu concorde plenamente com o sentimento, porque Augusto continuou me evitando depois da cerimônia, também. Pelo visto só vou descobrir por que ele queria tanto que eu fizesse a Confirmação quando acontecer alguma merda.

Marcas de Sangue (Draconem 3) - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora