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O ar queimava em meus pulmões enquanto eu caminhava incerto contra a madeira, todo fôlego que eu puxava logo se perdia quando eu a via. 

Ela estava diferente, tinha algo diferente. Mesmo com alguns metros de distância eu conseguia notar, mas ela estava como sempre... Perfeita. 

- Harry... 

Fechei os olhos escutando meu nome saindo da sua boca. Sua voz pronunciando meu nome depois de tanto tempo fez cada célula do meu corpo se arrepiar. 

- Elizabeth. - Parei na frente dela ainda estava séria. Senti as lágrimas cegarem minha visão e a puxei para meus braços.

Elizabeth não protestou, pelo contrário, ela me abraçou de volta. Seu pequeno corpo dentro dos meus braços, o encaixe perfeito.

O seu cheiro ainda era o mesmo, da minha Elizabeth. Senti ela fungar no meu moletom e a apertei mais ainda.

Eu não conseguia acreditar. Havia a encontrado.

Toda dor, toda angústia, toda a incerteza do que iria acontecer dali para frente, tudo sumiu. 

Me afastei um pouco e segurei seu rosto nas minhas mãos. Analisei meticulosamente o seu rosto, cada detalhe, cada expressão, cada pintinha. Os olhos castanhos grandes me analisavam com a mesma intensidade. Não parecia real, ela não parecia real. 

- Você voltou. - sussurrei ainda perto do seu rosto e ela fechou os olhos. - Você voltou. - repeti.

- Temos que sair daqui. - ela segurou  minha mão que a segurava e olhou em volta. Algumas pessoas nos observavam e algumas câmeras eram apontadas em nossa direção. 

Ela pegou minha mão e me guiou para a praia que agora estava quase escura. Os rastros do sol ainda estavam no céu escuro. A praia estava vazia e ninguém arriscou nos seguir. Olhei para as nossas mãos juntas ainda não conseguindo acreditar. 

Caminhamos um pouco até estarmos distantes o suficiente de toda a civilização e ela largou minha mão se sentando na areia. Seu olhar ficou firme no meu até eu sentar ao seu lado.

- Sei que tenho muito para explicar. - ela murmurou olhando para o mar. O vento fazia o seu cabelo agora curto voar. 

- Sim, você tem. - segui o olhar de Liza para a água azul. 

- Como... Como M.A está? - olhei para ela que tinha os olhos cheios. - Como está nossa garotinha?

- Ela sente sua falta. Todos os dias. Todos os dias ela pergunta por você... - suspirei. - No início foi... - lembrei das noites em claro com M.A chorando pela mãe. - Difícil.

- Eu sei que isso é imperdoável, Harry. - ela começou a brincar com os dedos da mão. - Eu precisava disso. Eu precisava desse tempo para...

- Você não tinha esse direito. - a cortei. - De nos deixar. Deixar sua filha. Você tem noção do que causou? De quanto machucou Marie Anne? E de quanto me machucou? Você pensou nisso antes de simplesmente desaparecer do mapa? - perguntei segurando a raiva que começou a aparecer na minha voz. - Você não tinha esse direito. 

- Harry... Eu preciso que você entenda. Nunca foi minha intenção machucar vocês, por Deus, só de pensar... - ela olhou para cima segurando as lágrimas. - Não foi a minha intenção. 

- Onde você esteve? 

- Eu... Diversos lugares. - ela balançou a cabeça. - Diversos países. Nas primeiras semanas eu estava cega em encontrar respostas sobre... Bom, minha mãe, e tudo mais que eu poderia não saber, e muita coisa eu realmente não sabia. Mas então... Eu estava tão machucada com, com tanta mágoa dela que eu simplesmente não conseguia voltar para casa. Eu sentia algo tão ruim, e eu não sentia que merecia o que eu tinha. - os olhos castanhos me encararam. - Eu sentia que não merecia vocês. Afinal, como alguém como eu pode merecer alguém como você? - ela riu baixo. - Eu sempre disse que eu não o merecia, e no fim, era porque eu realmente me sentia dessa maneira. Tudo que você me deu? Uma vida, uma carreira, dinheiro... Eu não... Eu não consegui voltar para isso. Para mídia, para toda a loucura que é as nossas vidas. E tudo ficou tão confuso para mim, eu simplesmente...

- Você desistiu de nós. - minha voz saiu fraca.

- Não. Eu apenas... Tudo que importava, não importa mais. 

- O que isso quer dizer? 

- Eu cuidei vocês de longe, via as fotos de vocês, eu cuidei todos vocês. Inclusive ela. - ela engoliu seco. - Eu vi que ela cuidou de vocês quando eu não estava aqui para isso. E eu não consegui não me sentir horrível com isso. Harry... o jeito que ela olha para você... - ela sorriu triste enquanto as lágrimas rolavam pelo seu rosto. - Quando eu vi as fotos de vocês aqui, foi mais forte do que eu. Quando eu vi que ela olha para você do jeito que... - engoliu seco. - do jeito que eu costumava te olhar. 

- Isso não é sobre Amelia, Liza. - balancei a cabeça. - Você... Você precisa voltar para casa, voltar para seus amigos, sua família. - sua cabeça foi de um lado para o outro em negativo. - Marie precisa de você. Eu preciso de você, eu não consigo... Eu não consigo fazer nada, não consigo trabalhar, dormir, comer. Eu preciso de você, Liza. - minha mão foi até o seu rosto. - Você é a minha mulher, a mulher da minha vida. E nada mais importa. Só isso, só nós. 

- Não é tão simples... 

- Por mais quanto tempo você pretende continuar nos machucando dessa forma? - minha mão caiu no meu colo. - Porque sinceramente, eu não consigo mais. 

- Eu não consigo voltar para casa. 

- Nós podemos ficar onde você quiser, morar onde você preferir. - disse rápido.

Elizabeth ficou em silêncio e olhou para o mar novamente. 

- Você não consegue voltar para nós. - conclui.

- Eu vou... Eu vou viajar com a ONU, é esse voluntariado que será na África do sul.

- O que isso tem...

- É dois anos. - ela completou. - Vou ficar fora por dois anos.

Minhas mãos agarraram meu cabelo em frustração. Isso não podia estar acontecendo. Eu só a queria de volta, a minha Elizabeth.

- Você vai embora? VOCÊ VAI DEIXAR A SUA FILHA POR DOIS ANOS? - quando me dei conta estávamos em pé e minha voz saia mais alto que o normal. - QUAL A PORRA DO SEU PROBLEMA? 

- Harry...

- Você não pode fazer isso... - balancei a cabeça. - Da onde saiu essa ideia? Você simplesmente ia... Se você não sentisse a porra de um ciúmes da SUA IRMÃ que está me ajudando a achar VOCÊ, você simplesmente não iria me avisar? Iria apenas embora? Sem dar sinal de vida, sem... -comecei a rir incrédulo.

- Harry...

- Eu não estou entendendo. O que falta para você? Ou... eu fiz algo para você? Porque isso não pode ser o motivo inteiro. Isso não existe, Elizabeth! Você vai arruinar a vida de Marie Anne. Se não quer pensar em mim, por mim tudo bem. Mas não deixe a sua filha.

- Ela vai ficar bem. - ela murmurou. - Isso dói em mim mais do que você possa imaginar...

- VOCÊ NÃO TEM IDEIA! - gritei.

Passei as minhas mãos no rosto e tentei respirar fundo. O barulho do choro de Elizabeth se misturava com o barulho das ondas quebrando e eu só queria pegá-la e ir para casa.

- Por favor, não faça isso. - pedi depois de alguns minutos em silêncio. - Volte para casa. 

- Eu o encontrei, Harry. Meu pai. Eu o encontrei e... Eu estou indo atrás dele. 



THE SISTER - H.S PTOnde histórias criam vida. Descubra agora