17「O segundo dia」

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Heyoon estranhou a facilidade com que Sina adormeceu. Ela não conseguiria mensurar o tempo, mas calculava algo como em torno de cinco minutos. Cansaço, álcool na corrente sanguínea, ou apenas facilidade em dormir. Esses eram possíveis motivos para que o corpo claro se entregasse ao estado de vigília tão rapidamente. E as razões para a comandante estar acordada Essas estavam no rol de incógnitas que passaram a circundar a vida da morena.

Jeong mantinha-se à esquerda, no hemisfério corporal onde, dizem os especialistas, está o coração. Nesse instante tudo fez sentido. Ela observava Deinert dormir de bruços, os braços estendidos para cima e o rosto levemente virado para o lado. A respiração, calma e silenciosa, como se ela descansasse em uma daquelas paisagens bonitas que só vemos nos livros. A boca perfeitamente cerrada, como se aqueles lábios grudados guardassem um segredo inviolável. Foi inevitável Yoon se perguntar como cabia tanta beleza em um corpo, mas de curvas suntuosas.

A filha do presidente parecia ter saído de uma pintura renascentista, indo parar diretamente entre aqueles lençóis perfumados e macios. Era linda, linda... A comandante sabia que deveria dormir, porém não conseguia, simplesmente não conseguia. Era errado estar ali e ao mesmo tempo soava tão certo que a confusão mental quase a fez perder o foco do seu objetivo no momento: não permitir que nenhum pesadelo ferisse a madrugada da mulher ao seu lado; que os monstros que moravam embaixo da sua cama, fossem embora para nunca mais voltar.

A mais velha, então, instintivamente aproximou-se para depositar um beijo naquele rosto inerte, inebriando-se com o cheiro doce que vinha de sua pele. Amadeirado, frutal, cheiro de pecado que a fez ofegar. Observar Sina dormindo era quase um dos espetáculos mais bonitos do qual tinha conhecimento. Trazia paz, uma paz imensa, como se fossem blindadas de todo o mal do mundo. E novamente as coisas fizeram sentido. Deixaram de possuir um reles significado, para tomarem um rumo que nenhuma das duas jamais sonhou que pudesse acontecer. Jeong, de repente, foi tomada por pensamentos desconexos sobre a vida da herdeira presidencial.

Não era de se admirar que ela fosse, por vezes, fútil, amargurada, impositiva. Deinert não tinha escolha. Sentia-se oca, e esse é um sentimento difícil de explicar, que fica cravado com força em nossa alma. Sua existência não tinha sentido, mesmo com o ambiente mostrando exatamente o contrário. Ela possuía tudo o que o dinheiro podia comprar, entretanto, não havia encontrado o essencial: a felicidade plena. Sina mostrou-se extremamente carente, e ter manifestado essa carência foi tão difícil para ela - que a sentia - quanto para a morena, que fora informada sobre o fato.

O problema de uma, sem querer foi transferido para a outra. A mais nova deveria decidir deixar-se vencer por esse sentimento ou tomar as rédeas e lutar. Contudo, seria necessário começar a tarefa de se conhecer e se aceitar. Era preciso identificar os fatores que provocavam o acúmulo de emoções negativas para.remediá-los. E onde Jeong se encaixava nisso tudo? Ela seria a cura para esse mal, seria o preenchimento tão aguardado, tal a transbordar de sentimentos nunca antes conhecidos.

A morena arriscou uma carícia nas madeixas loiras, sem saber que, em retribuição, ganharia um sorriso. Mesmo dormindo, Deinert sorriu ternamente ao perceber o carinho que recebia. Ali se dava uma troca mútua de generosidade e afeto, algo que talvez não acontecesse se ambas estivessem acordadas, com suas faculdades mentais em pleno funcionamento. Heyoon poderia permanecer em seu ato pelo resto da noite, mas não o fez.

Tomada por um repentino peso na consciência, ela levantou-se
sobressaltada. Aquela situação não seguia a direção apropriada e isso a incomodou. Certa vez a morena acompanhou uma palestra de Hina na faculdade, onde ela ponderava sobre a inexistência do errado, uma vez que a atitude errada nos leva posteriormente para mais perto daquilo que é certo, tornando-se, assim, apenas uma ferramenta que nos conduz às atitudes corretas. Faz-se errado para que se aprenda o certo. E com isso, ressalta-se o quão desnecessário são nossos próprios julgamentos sobre os outros e sobre situações. Todos estão em um processo. Errar faz parte da vida e jamais conseguiremos nos isentar desse quesito.

A Filha Do Presidente「𝑺𝒊𝒚𝒐𝒐𝒏▪︎𝑯𝒆𝒚𝒏𝒂」Onde histórias criam vida. Descubra agora