34「Segredos revelados」

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- Heyoon, está tudo bem? - Shivani engoliu em seco ao observar a agente ao seu lado com praticamente todo o corpo estático, salvo as pálpebras que se abriam e fechavam devido às lágrimas que escorriam silenciosas.

Ela não conseguiria mensurar os minutos que já haviam decorrido desde que a morena lera o conteúdo de alguns arquivos secretos. Talvez fossem dez, vinte, trinta… Era difícil saber. Mas mesmo assim, Shiv entendia que já tinha se passado tempo suficiente para tornar-se algo preocupante.

- Sempre gritei aos quatro ventos que prezo a honestidade e a sinceridade acima de tudo. - Finalmente Jeong manifestou-se - É o que eu peço para todos os que me rodeiam. Só me sinto segura quando sei que estão dizendo a verdade sobre qualquer assunto, até mesmo os mais banais. Mentir para mim não serve para nada além de me deixar enfurecida, porque sempre descubro, querendo ou não.

- Até agora eu estou sem entender exatamente o que está acontecendo. Esse tal May te usou para cometer o atentado à Casa Branca, é isso? Mas como? Não foi você quem salvou todo mundo?

- Eu não sei exatamente o que ele fez, menos ainda os motivos. Deus!

- Você precisa se acalmar, ok?

- Sabe o que me revolta? É o fato de eu ter sido tão, tão burra! Fui treinada inúmeras vezes para distinguir um comportamento de risco, uma mentira, e o que aconteceu? Quando mais precisei usar desses conhecimentos, acabei sendo enganada da forma mais vil, mais torpe que existe.

A agente estava atravessando a fase da negação, indo diretamente para a culpabilidade de si mesma. Ela sempre acreditou que as pessoas mentiam para ela por covardia, porque todos sabemos que ser sincero é muito mais complicado, e que na hora de dizer não ou falar uma dura verdade, entram em jogo muitos fatores que podem ser escondidos com a mentira. O que Yoon sequer poderia imaginar é que seria apunhalada pelas costas daquela maneira.

- O que…o que faremos agora? - A morena indagava, receosa.

- Eu sempre menti, mas não para os outros, e sim somente para mim. Mentir para si mesmo é um ato que faz o medo escorrer por todos os poros do nosso corpo. Eu estava ocultando algo que me apavorava. Eu menti para mim mesma porque acreditei que seria mais fácil seguir em frente. No entanto, era um ledo engano meu. Não se pode seguir em frente desta forma porque as mentiras, em qualquer caso, nos levam a becos sem saída, a decepções, a sofrimento, tão somente isso. Na verdade, entendi que a minha cabeça podia ocultar o que quisesse e que ela podia seguir em frente por si só, mas nunca poderia avançar por inteiro. Ela não podia enganar o meu coração: ele não podia avançar se não prestassem atenção nele. Nada podia contradizê-lo e, ao mentir para mim mesma, só estava negando a sua verdade. Percebi então que na luta entre o coração e a razão, quando se tratava de mim mesma, o coração sempre venceria: isso me fez ver que eu não estava sendo sincera e que tinha que sê-lo. Talvez eu tenha percebido tarde demais. Talvez eu colecionei tantas mentiras que elas, por si só, foram suficientes para me cegar.

Shivani suspirou, abraçando a comandante de maneira desajeitada, mas deveras consoladora. Ela era uma completa estranha. Jeong fez um apanhado de toda a sua vida, mas as circunstâncias que as levaram a estar ali já provavam que não se conhece alguém por inteiro, que confiar nas pessoas, é um jogo mortal de roleta russa. Contudo, o aconchego recebido fazia com que a morena conseguisse não explodir, não surtar com a trama doentia esfregada em sua cara. Talvez o que ela precisasse mesmo era do colo de uma estranha que tivesse alguns minutos livres, que permanecesse em silêncio prestando cuidadosamente atenção em cada pedaço daquele desabafo, que não tivesse um monte de conselhos ensaiados na ponta da língua e frases de efeito que ela já havia decorado, como se fosse um livro de auto ajuda ambulante - como às vezes Hina era - tentando entender suas dores.

A Filha Do Presidente「𝑺𝒊𝒚𝒐𝒐𝒏▪︎𝑯𝒆𝒚𝒏𝒂」Onde histórias criam vida. Descubra agora