Fisgado

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Surpresa, se virou e viu o rapaz da moto a seu lado.

Não quis se fazer de inocente e lhe deu uma reprimenda:

- Quem é você para julgar uma decisão minha? - falou, o olhando de cima a baixo significativamente.

Ele sorriu e continuou a acompanhá-la com uma passada fácil. Seus dentes eram bem brancos em contraste com o rosto bronzeado.

- Para onde vai com tanta pressa?

Stephanie o encarou, sem conseguir evitar.

- Por acaso você é o segurança daqui?

- Não.

- Então, por que está me seguindo?

Os olhos castanhos pareceram sorrir para ela.

- Sabe por quê.

Stephanie desviou o olhar, incapaz de suportar o calor que correu entre eles. Nunca tinha sentido nada igual.

- Posso dar uma carona para você.

Ela engoliu em seco. Sua carne fraca e infeliz, que sempre se voltava para homens que eram tão ruins quanto ela, a incitava a subir em sua moto e deixar que ele a levasse para qualquer lugar. Mas a porção de bom senso, que tinha trabalhado tanto para desenvolver, a deteve.

- Não, obrigada.

- Tudo bem. - Ele olhou para ela como se memorizasse seu rosto. - Cuide-se. - falou, apenas, e desceu pela mesma escada rolante em que ela o tinha visto subir havia alguns minutos.

Stephanie permaneceu ali, sentindo o cheiro de couro e de perigo. Então abriu a carteira com as mãos tremendo. Já estava atrasada para o trabalho, um minuto não faria diferença. E aquela era uma ligação que poderia evitar mais uma vez que ela arruinasse sua vida.

Segurou o cartão de visitas e fez a ligação.

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Daniel Lescor não gostava de quebra-cabeças. Eles podiam acabar com um homem. Mas aquela garota com olhos grandes e andar maravilhoso era um quebra-cabeça. O que o fizera segui-la?

Comprimiu os lábios. Sabia por que a havia seguido. Percebera os sinais vindo dela, como se escutasse gritos de socorro. Quando a vira da escada rolante, primeiro notara seu brilho: as roupas coloridas, a postura sexy. Tinha uma expressão sonhadora, pensou, e ao mesmo tempo um olhar que pedia por sexo.

Era loucura, mas sentira a química entre os dois no ato. Uma mistura poderosa de atração e desejo, que podia queimar um homem até as cinzas.

Quando aprenderia? Pássaros feridos não eram para ele. Já tivera sua cota de asas quebradas e não conseguira consertar todas. Sempre que fazia isso, acabava mal. Então por que de novo?

O capacete roçava suas coxas à medida que andava com os olhos meio fechados sob o sol a pino, no estacionamento.

Meteu os óculos escuros, e então viu a amiga esperando, impaciente, ao lado da reluzente caminhonete. Torceu o nariz. O carro estava tão limpo, que era óbvio que sua dona não tinha muito que fazer. E esse, para Daniel, era exatamente o problema.

Como a amiga parecia impaciente, diminuiu o passo de propósito, imaginando como seria andar naquela caminhonete com a garota de olhar doce, a perna bem torneada exibindo o dragão tatuado. Balançou a cabeça para a tolice e continuou andando na direção de Lena Luthor, que se recostava ao carro esporte com os braços cruzados sobre o peito.

- E então? - Lena quis saber, tão logo ele se aproximou.

- Não vi nenhuma inglesa.

- Mas estava conversando com a garota de cabelos compridos e tatuagem no tornozelo.

- Essa eu vi... - Daniel sorriu de lado. - Mas ela estava sozinha.

- Na praça de alimentação?

- Não. Eu a segui até uma loja de departamentos. Não havia nenhuma inglesa com ela.

Por razões que não entendia completamente, Daniel não comentou nada sobre a jovem ter tentado roubar a loja. Mas se sentiu bem com seu silêncio.

- Sei. - resmungou Lena, mal-humorada.

- O que aconteceu com essa garota britânica, afinal? Por acaso está ajudando algum ex-colega da polícia e precisa segui-la?

- Não é nada disso. Ela é minha inquilina nova e tem mania de se meter onde não é chamada.

Daniel se lembrou do episódio do roubo e comprimiu os lábios.

- Não estamos falando sobre atividades ilegais, estamos?

- Não, a não ser que ser bisbilhoteira, intrometida e mandona seja ilegal.

- Deveria ser. - ele bufou, olhando ao redor.

Por causa do treinamento, nunca relaxava. Estava sempre pronto para o perigo, nem que fosse no estacionamento de um shopping. Estreitou o olhar ao ver seu pássaro ferido saindo por uma das portas, apressada. Teria ido até outra loja depois daquela de departamentos?

Daniel soltou um forte suspiro. Não estava de serviço, e roubo a lojas não era sua área, mas não se conformava por ela ter tentado fazer algo tão estúpido.

- Tenho que ir.

Se Lena ficou surpresa com a saída repentina, não demonstrou:

- Está bem, nos vemos depois. Obrigado.

- De nada, às ordens minha amiga. - falou, já por sobre o ombro.

Seguiu a moça. Gostava da maneira como a danada andava de salto, com aquele jogo nos quadris, a tatuagem se destacando no tornozelo, os cabelos, agora soltos, balançando ao vento. Era uma bela ladra.

Além disso, ele tinha um fraco por cabelos compridos.

No minuto em que seus olhares cruzaram, fora fisgado.

 



Quem Eu Quero - Karlena - LenaGpOnde histórias criam vida. Descubra agora