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Após colocar a roupa de baixo e um pouco de maquiagem, foi até o escritório. Olhou a agenda do dia no laptop. Não havia nada além da manicure, às duas. Tinha reservado um horário, pois uma empresária precisava estar sempre arrumada. Além disso, ninguém melhor do que ela para saber que um salão de beleza era um ótimo lugar para a fofoca... e para arrumar clientes.

Agora que possuía um negócio, até mesmo o supermercado lhe pareceu uma boa opção para captar fregueses. Assim, colocou um vestido leve, sandálias altas e uma bolsa grande, mais adequada para aquela incursão do que uma pasta. Nela, pôs uma garrafa de água para beber e uma de protetor solar em aerosol para manter a pele hidratada sob o sol do Texas. Colocou os óculos Channel, que a faziam se sentir como Audrey Hepburn só que loira, e saiu em seu carro alugado, sendo lembrada por uma buzina que os americanos dirigem do outro lado da rua.

A primeira parada era o shopping: a mais americana das instituições e o que ela mais adorava na vida. Era fresco e várias lojas a esperavam. Infelizmente, não tinha nem tempo nem dinheiro para compras; mas decidiu agradar a si mesma olhando as vitrines e se encorajando.

"Hoje vou conseguir três clientes novos", resolveu, e também distribuir vários cartões de visitas. Colocaria pilhas de folhetos nos lugares com mais chances de serem vistos. Já tinha anúncios em San Antônio, Dallas e Houston, e também no jornal de Austin. Seu site já se encontrava no ar e contava com três tipos de propaganda: impressa, pela internet e a de venda direta, pessoa a pessoa. Esperava retorno rápido, antes que ficasse sem dinheiro ou se cansasse.

Deu uma olhada em uma loja de grife, e rumou para a praça de alimentação, onde comprou uma xícara de café e se sentou em uma mesa redonda para observar. Algumas pessoas tomavam seu café da manhã antes do trabalho ou se preparavam para as compras, enquanto outras pareciam estar ali apenas a passeio. Duvidava que existissem clientes em potencial em uma praça de alimentação, mas, após observar por alguns minutos um casal que conversava muito sério, se aproximou para tentar ouvir. Achava difícil que os dois reparassem nela, tão entretidos que estavam na conversa.

Tirou o jornal da bolsa para parecer ocupada. Nunca entendera por que os reality shows possuíam tanto apelo na televisão. Achava os que via na rua tão melhores!

Estavam ambos na casa dos vinte. O rapaz vestia um terno de uma loja de departamentos e uma gravata sem graça. Um Clark Kent sem alto ego ou super poderes. A garota, com longos cabelos escuros, presos em um coque solto, olhos castanhos e lábios carnudos, usava uma blusa amarela, uma saia preta justa, sandálias de salto alto, e tinha uma tatuagem de dragão no tornozelo.

Estavam inclinados, tão preocupados um com o outro, que o café permanecia intocado.

- Está em vigília?

Kara ficou tão surpresa com a voz sexy por detrás dela, que derrubou café no jornal.

Ao se virar para ver quem era, mas já reconhecendo a voz de sua perturbadora vizinha.

- O que está fazendo aqui?

- Estava nos arredores.

Suspirou enquanto Lena passava por ela.

- Vai ser uma daquelas que me perseguem e fazem papel de boba, não é?

A morena pareceu surpresa.

- Acha que eu a estava seguindo porque estou...

- Interessada? - ela completou, ousada.

Tinha visto o olhar da morena naquela manhã; algo que acontecia com tanta frequência, que registrava apenas quando também sentia uma faísca.

- Já disse que tenho namorada e que provavelmente vamos nos casar. - confessou Lena com calma.

- Você aparece na minha casa de madrugada, se esconde da sua mulher, e agora está me seguindo. O que devo pensar?

Quem Eu Quero - Karlena - LenaGpOnde histórias criam vida. Descubra agora