Horizonte

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Em algum lugar no Extremo-Norte-e-Além

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Em algum lugar no Extremo-Norte-e-Além

ROSE I

Rose sentiu quando o filete de luz entrou através da mesma fenda de onde desapareceu. Não era possível ver a origem da iluminação, pois a abertura se escondia na superfície irregular do céu da montanha. A única coisa que ela sabia é que essa fraca luminescência permaneceria por mais algum tempo e depois desapareceria novamente. Meio ano de luz e a outra metade na escuridão. Mas ela já estava naquele lugar tempo suficiente ao ponto desse período ser o mesmo que alguns instantes.

Se pudesse escolher, com certeza, escolheria a escuridão, pois esta é fria. A baixa temperatura faz o corpo adormecer mais rápido e diminui a fome. Mas, por outro lado, a luz traz consigo um certo calor capaz de derreter a fina camada de gelo sobre o corpo de uma mulher há muito tempo esquecida naquele inferno gelado. Quem sabe, dessa vez, a montanha derreta um pouco e ela consiga sair. Por sorte alguém venha explorar aquela área e a encontre. Ou até mesmo alguma estalactite gigante se desprenda do céu da montanha e caia em cima dela, acabando finalmente com aquela tormenta.

Sentiu a estranha, porém ligeiramente bem-vinda, sensação de um pouco de calor sobre o rosto. Os olhos ardiam conforme a iluminação aumentava no interior da montanha. As camadas de gelo e as pedras preciosas nelas incrustadas refletiam os filetes de luz em mil direções, brilhando como uma grande constelação multicolorida. Mas o que começou como uma boa sensação de calor despertou as dores que estavam adormecidas: a fome, a sede e o frio. Mais um longo período de tortura. Rose sentia tudo que um corpo normal sente falta, mas, ao contrário das pessoas que não carregavam a sua maldição, havia uma diferença: ela não morria.

O corpo de Rose congelava e descongelava, sofria com a falta de alimento e com o ar rarefeito e, mesmo assim, continuava vivo. Não foi por falta de tentativas que esse sofrimento perdurou. Ela tentou de tudo, mas nada deu certo e seu corpo se recuperou em todas as tentativas. Ela simplesmente não morria e estava condenada a viver para sempre, rodeada por uma riqueza infinita e sozinha.

Alguém me ajude.

Havia perdido as contas de quando foi a última vez que conversou de verdade com alguém. Provavelmente com algum dos outros escravos mineradores, aqueles com a mesma maldição que Rose. Condenados a servir nos lugares mais remotos das Terras Conhecidas e também das Desconhecidas. Afinal, só eles conseguiam sobreviver e voltar. Mas, no caso de Rose, apenas sobreviver, já que um grande deslizamento a impediu de voltar. Ou pelo menos foi isso que escolheu acreditar.

Houve um momento onde jurou ouvir alguém respondê-la, não fazia ideia de quando isso aconteceu, talvez um ano ou cinquenta. Uma voz jovem e forte. Algo como "quem é você" seguido por um "onde você está". Rose juntou as forças que tinha e caminhou pelas cavernas do interior da montanha. Recolheu quantos fragmentos de diamante que pudesse carregar e as juntou em um só lugar. Quem fosse salvá-la estaria rico e mais gerações adiante ainda gozariam desta riqueza. Mas no fim ninguém apareceu, tudo não passou de vozes da sua cabeça.

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