O que as canções não contam

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Península do Leste, Mata Solitária

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Península do Leste, Mata Solitária

NATOS III

O abraço-do-urso é uma das estratégias de batalha conhecidas mais difíceis de se aplicar na mata. Mas, quando funciona, é imbatível. Principalmente quando o inimigo é numeroso e disperso. Quatro fileiras retas de soldados intercalados dispostos lado a lado com escudos e lanças davam um passo de cada vez, empurrando o inimigo em direção ao abraço.

Mesmo com as árvores e o relevo irregular, era possível construir uma parede de escudos sólida e sem permitir que ninguém atravessasse. Atrás do inimigo ficava o abraço, disposto em seis fileiras em formato de "C" uma atrás da outra e intercalada.

A fileira reta empurra o inimigo em direção a fileira curva, enquanto que alinhamentos menores fechavam os flancos, comprimindo ainda mais os capturados no centro. Natos sabia tudo sobre estratégias, só não esperava ser ele o inimigo preso.

Os oito mil da Península foram emboscados por uma quantidade que parecia ser menor de soldados da Planície. Natos comia uma refeição indigesta quando o berrante de guerra tocou. Correu para os estábulos, mas já era tarde demais e os cavalos estavam dispersos. Uma visão periférica da situação era necessária e, por isso, colocou o elmo, posicionou o escudo nas costas e escalou uma das árvores para ter tal visão.

Sentiu uma flecha chocar-se contra o escudo e outra passou de raspão na parte de trás da cabeça. Inúteis, pois a sua armadura era a melhor que o ouro de Ponta Madeira poderia comprar. Os músculos reclamaram, mas Natos ignorou-os. Posicionou-se firme entre dois galhos e apertou os olhos para ver.

A situação era mais complicada do que parecia. Os soldados de Ponta Madeira e Montemar ficaram no abraço, enquanto as companhias de Porto da Baixada e Solar Nascente ficaram presos parcialmente. Homens de Porto da Baixada estavam, na maior parte, fora do abraço. Tinham a desvantagem e muitos perdiam a vida sem saber o que acontecia. Natos estava certo, o abraço-do-urso pegou a maior parte da Península usando um número menor de soldados. Quem estava de fora acabou por morrer primeiro.

O irmão agrupava os homens em formação de defesa quadrada, que poderia funcionar, já que todos conseguiram se armar adequadamente com lanças mesmo surpresos. Unt de Montemar, estúpido, avançou contra a fileira curva do abraço e viu um grupo considerável de seus soldados serem abatidos como bichos. Só não morreram aos montes, pois os cavaleiros de Solar Nascente, sob o comando de Lótus, os defenderam puxando-os de volta ao centro. Aquela boca torta era boa para ordens afinal.

Natos já viu o que precisava, começou a descer da árvore quando notou duas coisas estranhas. A primeira era que mesmo estando de elmo não estava sentindo o calor absurdo de antes. Sentia certo frescor e ainda havia uma brisa fria lhe acariciando a base do pescoço mesmo sobre a cota de malha. A segunda foi notar um grupo de pessoas estranhas reunidas num ponto distante. Dois homens vestidos de mantos dourados, ajoelhados na lama e protegidos por três soldados. Tinham os olhos fechados e os braços erguidos. Aquilo parecia algum tipo de ritual esquisito.

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