capítulo 3.

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Os olhos de Soraia teimavam em fechar consoante a professora universitária lecionava a matéria da cadeira. Como se já não bastasse o cansaço que sentia, a voz monótona da mais velha do grupo de pessoas que frequentavam a sala só ajudava para que os olhos da estudante cedessem. Do outro lado da sala, Adelaide tentava conter as gargalhadas provocadas pela imagem observada da amiga. O duo partilhava uma amizade bastante próxima, iniciada, logo, no primeiro dia em que ocorreu a receção ao caloiro na universidade, desde esse dia, nunca mais se separaram. Mal a mulher deu por concluída a aula, Soraia levantou a cabeça da mão, que suportara o peso da cabeça durante quase três hora, guardou os seus materiais na bolsa e ergueu o seu corpo da cadeira, seguindo para o exterior da sala, onde a sua amizade aguardava por si.

- Bem-vinda ao mundo! – Num tom elevado, Adelaide cumprimentou, divertida, e abriu os braços, envolvendo o corpo da vilacondense.

- Deixa-te dessas coisas, 'Del. – Soraia revirou os olhos. - Só quero ir para casa. – Num murmúrio, lamentou ao mesmo tempo que deixava a cabeça cair sobre o ombro da natural de Aveiro.

As lamúrias expressadas por parte da vilacondense continuaram durante o percurso até ao piso superior, onde se situava o refeitório do estabelecimento de ensino superior e, também, se encontrava o companheiro da rapariga de cabelos ruivos, Nuno, que cumprimentou a dupla assim que pisou o interior da zona de refeição. Enquanto o casal estava envolvido numa conversa profunda acerca de um tema alheio à morena, esta contemplava a paisagem que tinha à frente dos seus olhos através da janela, desviando o seu castanho, somente, quando lhe dava vontade de saborear o prato principal da refeição. Para não fugir à regra, o seu subconsciente era marcado pelo nome: Francisco Geraldes. Era assim desde há muito, especialmente, desde que voltou à segunda cidade portuguesa mais conhecida, depois de gozar o curto período em que não teve aulas na cidade-natal.

Uma vez que o tema de conversa sobre a 'não-relação' da jovem portuguesa com o médio ofensivo não era o tema que Nuno gostaria de escutar ser discutido, e ela se encontrasse ciente de tal, optou por manter-se silenciada, planeando desabafar com a melhor amiga mais tarde, numa altura em que se encontrasse sozinha com a aveirense, de maneira a que não se perdesse por entre tantas pensamentos.

- E ela, o que tem? – A voz de Nuno introduziu-se nos ouvidos da morena com a questão colocada à namorada.

- A 'ela' consegue ouvir-vos. – De modo a manifestar que – ainda – estava viva, Soraia atiçou.

- Não tinha a certeza se estavas mais para lá do que para cá. Infelizmente, estás para cá. – Imediatamente, o dedo do meio da universitária ergueu-se na direção do estudante de engenharia informática que riu alto.

Entre os dois humanos, Adelaide tentava conter as risadas provocadas pela situação cómica, embora sentisse que a sua amizade estava a imaginar mil e uma maneiras de matar, de forma lenta e dolorosa, o seu companheiro. Já não era nenhuma novidade o tipo de interação que os dois partilharam durante o almoço, pois Soraia era conhecida por não possuir muita paciência e, por isso, conhecida, ainda, por se irritar muito facilmente, enquanto Nuno era conhecido pelo contrário; possuía muita paciência, particularmente, para irritar a nortenha. Contudo, no final, consideravam-se amigos muito próximos, vá-se lá entender como e porquê.

- Que criança, meu! – A filha única do casal Cunha declarou. – A 'Del é uma santa por te aturar. – Ainda acrescentou.

- O teu não é diferente de mim. – As provocações, por parte do portuense, continuaram e, desta vez, não só a vilacondense revirou os olhos, como também lançou um suspiro, por entre o qual amaldiçoou o rapaz.

- Já chega, Nuno. – Por fim, Adelaide pediu e o namorado acatou, murmurando um pedido de desculpa às duas raparigas.

O restante tempo de almoço que os três universitários ainda tinham para desfrutar foi acompanhado por conversas de diversos temas que ajudaram a fotografa a afastar o jogador do Rio Ave dos seus pensamentos e, até, descontrair mais. Sempre que retornava de Vila de Conde, apesar da distância curta que separava as duas cidades nortenhas e mantinha os dois amantes separados, os primeiros dias custavam-lhe, pois sentia falta do toque, do beijo, da forma como ele a tratava e, estando longe, não o podia ter, para não falar do problema que tinham que era a falta de comunicação, uma vez que nenhum dos dois dava o primeiro passo que podia ser uma simples mensagem a questionar pelo outro, o que só piorava o estado dos dois em relação aos sentimentos que tinham.

sozinhos | francisco geraldes  ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora