capítulo 8.

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O conforto e clima quente que é suposto sentir durante o tempo em que descansamos envolvidos pelos lençóis e cobertores não era sentido por Soraia que já havia perdido a conta às voltas que tinha dado desde que acordara, subitamente, durante a madrugada. O seu corpo transmitia-lhe o sinal de que era hora de descansar, mas os seus olhos contrariavam esse pedido ao manterem-se abertos. Não se lembrava da última noite que tinha sofrido insónias; nem durante a época de frequências sofrera com insónias e, agora que podia descansar, finalmente, era impedida de o fazer.

Ao fitar o número cinco seguido de dois zeros no relógio sobre a cómoda, decidiu afastar a roupa da cama do seu corpo e levantar-se da cama. Dirigiu-se para a sala, onde estava decidida em distrair-se com a televisão, uma vez que já tinha desistido de tentar voltar a dormir. No entanto, valeu-lhe de nada. A sua atenção estava longe do ecrã do televisor e daquilo que era transmitido pelo canal de filmes e a sua cabeça estava carregada de cenários criados, somente, por si a partir das palavras trocadas com o jogador do Rio Ave. Novamente, levantou-se do lugar que ocupava e retornou ao seu quarto, desta vez, para retirar as peças de roupa desportivas a fim de dar a habitual corrida matinal que vinha a ser adiada desde a manhã do dia anterior. No bolso do seu casaco preto guardou o seu dispositivo eletrónico a seguir de colocar os auscultadores nos seus ouvidos e de iniciar a playlist de música.

Mal pisou o exterior da habitação, iniciou a corrida, primeiramente, num ritmo lento de modo a adaptar-se, visto que, nos últimos dias, só tinha assapado o traseiro no sofá a comer guloseimas, sem pensar nas consequências que tinha para a sua saúde. Quando já se havia habituado, aumentou o ritmo dos seus passos. À medida que a voz melódica de Freddie Mercury se introduzia nos seus ouvidos com o hit Somebody To Love, o seu subconsciente era preenchido com os seus impetuosos pensamentos, o que foi contra o principal objetivo da sua decisão em abandonar os aposentos e praticar exercício físico. Abruptamente, cessou os passos e, consequentemente, suspendeu o ritmo da corrida. Levou as mãos aos joelhos fletidos, curvando o seu corpo, e, por fim, deixou escapar o duradouro suspiro que estava preso na sua garganta, impedindo-a de prosseguir com a verdadeira intenção na prática de exercício físico.

Os acontecimentos ocorridos nas últimas semanas passaram pela sua cabeça como curtos vídeos de memórias, o que só contribuiu para a sua dificuldade em respirar provocada pela ansiedade que sentia. Se o arrependimento matasse, Soraia estaria morta e bem enterrada. A expressão portuguesa que sempre escutara adaptava-se bem demais à sua situação. Mais do que aquilo que ela desejava. No entanto, se havia alguém a responsabilizar era ela, e, somente, ela, e era isso que lhe doía mais. A sua visão encontrava-se turva e a sua cabeça andava, ligeiramente, à roda. No momento em que sentiu umas mãos na sua cintura nem foi capaz de se sobressaltar em consequência ao susto que lhe provocaram.

- Ei, o que se passa contigo? – Assim que a voz do lisboeta se introduziu nos seus ouvidos, uma sensação de tranquilidade penetrou o seu corpo e os seus olhos subiram na direção do jogador que a contemplava preocupado e receoso do estado dela. – Vem cá, 'Su. – Francisco ajuda-a a corrigir a postura e envolveu-a num delicado, mas caloroso, abraço, assegurando-a que tudo estava bem através dos múltiplos beijos que deixava nos cabelos castanhos da universitária.

Por longos minutos, os corpos da dupla permaneceram entrelaçados. A cara da vilacondense descansada no atlético peito do moreno e este com os braços a envolver o corpo dela e com as mãos sobre os cabelos da mesma enquanto murmurava palavras que sabia que ela necessitava de escutar.

- Andas a perseguir-me? – Quando já sentia mais tranquila e sem dificuldades em controlar a sua respiração, Soraia manifestou o seu bem-estar através do seu sentido de humor.

- Tal como tu, estou a praticar exercício físico. Este é o meu percurso habitual antes de ir para o treino. – Francisco contrapôs, sem cortar o contacto físico que ainda os unia.

sozinhos | francisco geraldes  ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora