capítulo 5.

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- Por isso, fui obrigado pelo mister a dar dez voltas ao campo.

Enquanto Francisco explicava a forma que o técnico da equipa principal do Rio Ave arranjou para castigar o jogador por ter chegado atrasado ao treino da manhã, Soraia empregava força nos lábios unidos para não deixar escapar as gargalhadas provocadas pela forma como o lisboeta se expressava, um gesto captado pelo olhar atento do mesmo.

- Continuo a achar que dez voltas ao campo é pouco. – A de cabelos castanhos e longos pronunciou.

- A culpa foi toda tua. – Francisco falou.

-- Ei! Não me culpes por algo que foi inteiramente culpa tua, filho. Ninguém te pediu para apareceres a um quarto para a meia noite à minha porta. – Soraia desresponsabilizou-se do problema, rindo.

- Mas, também, não reclamaste nem me mandaste de volta a Vila do Conde. – O de Lisboa fitou-a, sorrindo vitorioso.

- Touché. – Soraia encolheu os ombros, mostrando um pequeno sorriso, e, logo, desviou os seus olhos castanhos do, igualmente, castanho do jogador para o copo de vidro que continha cerveja.

Como aquele silêncio qua havia enfrentado na manhã do dia, a dupla remeteu-se ao silêncio, hesitantes daquilo que poderiam falar, ou queriam abordar. A melhor amiga de Adelaide manteve as suas íris longes das do jogador, levando o copo de vidro aos seus lábios, ingerindo um gole da bebida alcoólica, enquanto o lisboeta manteve os seus olhos castanhos presos ao semblante dela. Ambos sabiam o que dizer. Contudo, mais uma vez, o receio ganhava.

- Soraia---

- Não vamos ter esta conversa aqui. – De imediato, a vilacondense interrompeu o médio que lhe direcionou um olhar, procurando conhecer o motivo. – Não sabemos o rumo que o assunto pode tomar e estamos em público.

- Pensei que tivéssemos esclarecido tudo de manhã, ou, pelo menos, quase tudo. Só existe um rumo que a nossa conversa pode tomar. – Geraldes contrapôs. – Talvez, tenha interpretado mal os teus sinais.

- Deixa as ironias de parte, Francisco. – Finalmente, a natural de Vila de Conde colidiu com os seus olhos castanhos nos do jogador português e falou. – Eu não ter quero perder, obviamente. Contudo, não sabemos o que poderá mudar se dermos um passo em falso. Ou melhor, sabemos e, por saber, eu não quero passar a ser uma desconhecida para ti só porque demos um passo que não devíamos ter dado. – A de vinte e um anos de idade tentou fazê-lo compreender o seu ponto de vista, mas o que conseguiu foi um profundo revirar de olhos.

- Então, qual é a solução? Continuar nesta relação, que não é uma relação, na dúvida se posso pegar no telemóvel e premir o teu contacto, pois podes estar com outro que não eu? Foda-se, o que queres de mim, Soraia?

Das três questões colocadas pelo adepto do rival lisboeta do Sport Lisboa e Benfica, a rapariga de cabelos longos e castanhos não sabia responder a nenhuma. Melhor dizendo, não sabia se tinha a resposta certa, especialmente, à última.

- Eu não sei, Francisco. – Fazendo um esforço para a sua voz não quebrar, a universitária admitiu.

O irmão de Marta levantou-se da cadeira que ocupava e aproximou-se da morena, agachando-se à frente dela com a intenção de obriga-la a manter o contacto visual entre ambos. Procurou pelo contacto físico ao agarrar na mão direita da vilacondense.

- Olha para mim, 'Su. – Pediu, acariciando a mão dela. – Podemos estar a cometer o maior erro da nossa vida, mas estamos juntos. Eu nunca te deixaria sozinha e, também, nunca te obrigaria a dar um passo que não queres dar---

- Mas eu quero dar. – Soraia afastou as suas mãos das mãos do atleta português e conduziu-as até à face quente do mesmo, acariciando as bochechas com os polegares. – Eu sei que estou a ser confusa, contudo és tu quem eu quero e não há como fugir a isso. – Um largo sorriso cresceu nos lábios do lisboeta, mas, rapidamente, desapareceu ao notar o semblante apreensivo da morena.

sozinhos | francisco geraldes  ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora