capítulo 4.

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 Memórias dos acontecimentos passados na noite anterior surgiram no subconsciente do jogador do Rio Ave, conduzindo ao imediato ao seu abrir de olhos, que encontraram o candeeiro de teto e a cor branca deste, e, ainda, ao embate da sua mão na zona fria da cama, onde, supostamente, aguardava encontrar o corpo quente da morena que vive nos seus pensamentos e no seu coração. Sem hesitações, ao encontrar-se com o frio, ergueu o seu corpo, suportando o peso com os cotovelos pressionados no colchão, e viajou com o seu olhar pelos recantos do quarto, procurando por algum indício da presença da rapariga.

A estudante do Ensino Superior permanecia com os seus bonitos olhos castanhos presos na paisagem do exterior enquanto sentada no cubículo decorado com almofadas ligado à janela de dimensões médias. Os seus impetuosos pensamentos impediam-na de reparar no intenso olhar vindo do sportinguista de alma e coração, ou em qualquer outra coisa a acontecer à sua volta. Estava presa no seu mundo carregado de pensamentos e cenários que conduziam a uma conversa que ela não queria nada ter, uma vez que viva com o receio de perder aquilo – aquele – que mais desejava ter na sua vida.

Francisco não perdeu tempo em abandonar a cama, vestir as peças de roupa suficientes para ficar decente e, só depois, aproximou-se da jovem rapariga perdida no espaço e tempo. Como percebeu a tempo que ela se encontrava longe daquele lugar, optou por sentar-se à frente dela com as pernas cruzadas, igual a ela, aguardando que ela reparasse na sua presença. Pouco tempo depois, as íris castanhas da melhor amiga de Adelaide viajaram na direção do jogador que abriu um sorriso pequeno como cumprimento. Ambos dirigiram um simples 'bom dia' e remeteram-se, novamente, ao silêncio. Soraia retornou o seu olhar para o exterior enquanto Francisco manteve as suas íris nas bonitas feições da vilacondense. Embora a filha do casal Cunha sentisse o olhar intenso do atleta português, nunca desviou os seus olhos dos carros, nem das pessoas que passavam na sua rua. Contudo, a mão do lisboeta na sua coagiu-a a voltar a contemplá-lo.

- Vais dizer-me qual é o problema? – Primeiramente, Soraia encolheu os ombros, desvalorizando a questão do moreno e a situação, como vinha a fazer há algum tempo. – Não me lembro de me deparar com este silêncio constrangedor entre nós, nem mesmo no dia em que te conheci, pois nunca deixaste que o que há entre nós fosse constrangedor. – Francisco acrescentou, elucidando o motivo da sua questão.

- O que há entre nós? – Como resposta, a estudante de Audiovisual e Multimédia interrogou. – Esse é o problema, já que não percebeste. – Elucidou.

- Eu percebi, Soraia. – Com a calma que lhe caracteriza, o amigo de Yuri Ribeiro contrapôs. – Aliás, tenho vindo a mostrar que conheço o problema e a solução, também. No entanto, se um de nós não percebe, acho que és tu.

Soraia fitou-o por breves momentos a fim de compreender se existia alguma veracidade nas palavras do futebolista profissional e se estavam a falar sobre o mesmo assunto, e, quando, finalmente, entendeu as palavras do jogador, os seus olhos abriram, manifestando a sua surpresa. Todos aqueles momentos em que Francisco mostrara que sentia algo mais do que uma simples amizade com benefícios – de que de simples não tem nada – surgiram na sua cabeça como fotografias a desaparecerem aos poucos, como se ela ainda não acreditasse que, afinal, ambos sentiam o mesmo, só temiam que não fosse mútuo.

O seu castanho fitou, então, o relógio-despertador sobre a cómoda próxima da cama, inferindo que se demorasse mais algum segundo, entraria na faculdade extremamente atrasada, pelo que, de imediato, levantou-se do espaço que ocupava, para surpresa do rapaz sentado à sua frente, e, num ritmo veloz, abriu as portas do closet, de onde retirou as peças de roupa, e dirigiu-se para a casa de banho. Francisco não escondeu o seu espanto pelo ritmo rápido e a ausência da fala da rapariga nortenha. No momento em que a viu a abandonar o quarto, levantou-se do lugar e caminhou atrás dela.

sozinhos | francisco geraldes  ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora