Capítulo I

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E como se eu acordasse de um pesadelo, levanto-me afogam-te e desesperada. Eu não sabia onde estava. Meus olhos correm por todo o quarto, meio tonta. A respiração era forte, e o seu barulho se misturava com vozes de pessoas chamando por um nome. Eu o chamava, mas ele não ouvia. A minha mente oscilava em delírios, vendo todas aquelas pessoas também assustadas. Eu estava com medo, mas ao mesmo tempo confusa. Queria com todas as minhas forças saber onde estava, mas como se a minha alma fosse arrebatada, eu desmaio, e durmo, outra vez, em um sono profundo.

Novamente eu acordo naquela sala, para mim foi bem rápido, o espaço de tempo entre meu acorda e desperta, mas ao fitar os olhos de todas aquelas pessoas, percebo que não tivemos a mesma perspectiva de tempo. Dava para ver no fundo de suas almas, o quão abalado estavam. Talvez até mais perdidos do que eu, algo que alguém superficial acharia improvável.

Diferente da outra vez, minhas emoções não estavam a flor da pele, eu meio que sabia que minha hora de volta chegara. Mas voltar da onde? Coço a cabeça um pouco confusa. Como acabara de esquecer tudo que vivi? Foi meio magico e sobrenatural. Aquele momento se passou bem rápido, mas para todos aqueles desconhecidos, não. Era estranho eu não me lembrar quem era, ou em que mundo estava. Tento recorrer ao meu subconsciente, mas pelo visto até ele resolveu me pregar peças. A única coisa que vem em minha memória é ele, o homem de preto, estendendo seu braço até a minha mão. Ele me entrega uma rosa, e ao toca-la, seus espinhos rasgam minha mão fazendo derramar meu sangue, e eu acordei. Por que isso aconteceu? Não creio que seja um sonho, foi tão real para mim, algo que meu coração acelerava ao lembrar. Por que me deixaras e me entregaras ao mundo que eu não conhecia mais? Roubaste a minha mente com qual intuito? Arrebatara a minha alma e tiraste a minha calma, como se eu fosse apenas o seu brinquedo. Mas... como eu me recordava de tudo aquilo? Eu tinha diversas perguntas, mas meus ouvidos quase explodem com o barulho daquele lugar. Eu tinha me esquecido que ainda estava ali, naquele lugar, onde acredito eu, já fora meu lar. Não, talvez ali não, mas o mundo em que estava. Viro-me para o monitor ao lado que agora enviava o som do meu coração de uma forma mais neutra. Percebo que ainda estava com a mão na cabeça. Todos pararam para me olhar, agora calados, ao perceberem que sai do transe. Eles me olhavam de uma maneira, que ao mesmo tempo era raivosa e preocupante. O que eu fiz de tão errado para me fitarem de uma maneira tão perversa, e ao mesmo tempo, duvidosa? Tudo aquilo era muito confuso, principalmente meu coração, que agora dava pontadas.

-O seu peito dói, minha filha? –Diz uma mulher dá qual eu não recordo. Parecia incrédula com a minha volta, sem nenhum pingo de alegria real.

Me afasto de suas mãos –Sim, ahm, está doendo.

-Você está bem, minha querida? –Agora falava um homem, que abraçava a mulher que estava ao lado da minha mão.

-Ora –eu digo, talvez em um tom estressante- Vocês me tratam de uma maneira carinhosa. Como eu não ficaria assustada ao ouvir tais palavras de desconhecidos?

Aquilo foi como um tapa em suas caras. Mas como eu poderia saber? Não tinham o direito de me olharem daquele jeito, como se assistissem um animal atrás das jaulas no zoológico. Eu não sabia quem eram. O que eles queriam? Que eu dissesse, "ah meus caros desconhecidos, eu tenho a mínima ideia de quem são, mas podem, com total certeza, me tratarem assim"? Ora, que hipócritas, estavam ali um monte de pessoas, algumas até enfiando coisas em minha veia, e eles queriam mesmo, que eu soubesse o que estava acontecendo?

Engraçados.

-Ora, meu anjo –disse a mulher, em meio as lágrimas muito bem atuadas- não se lembra de seus próprios pais?

-Eu já os disse –digo agora me levantando da maca, e apontando o dedo indicativo a ela- não me trate de maneira carinhosa! Eu não tenho culpa se não me lembro de vocês. Não conseguem perceber? Eu ACABEI de me levantar... –me viro para o lado, para outra mulher- ...o que é isso que injeta em minha veia? Não poderia ao me...

Eu fico zonza com aquilo. Meus olhos se reviram até eu cair de frente na maca.

Eu desmaio, e mais uma vez volto ao sono profundo.

Mais uma vez...

O Homem de PretoOnde histórias criam vida. Descubra agora