Depois de todos os checapes, que duraram minha tarde inteira, eu fui liberada para ir para meu quarto. Eu teria que passar mais um dia no hospital, para depois ser liberada, mas pelo menos os exames básicos acabaram. Terei de fazer fisioterapia, mas o médico disse que minha mãe quer uma com um médico particular exclusivo. Talvez só queira meu bem. Duvido. Além disso, farei consultas terapêuticas. Querem que eu me lembre de antes do acidente, o acidente, e é claro, da minha vida normal.
Caminho pelo hospital até meu quarto, sozinha pela segunda vez. Lá era um lugar bem grande, e até cheguei a me perde antes de chegar ao meu quarto. Quando abro a porta tenho uma surpresa, me deparo com duas adolescentes e um garoto que segurava também um buquê de rosas, todos aparentemente da mesma idade que eu.
-Ahmm... –eu digo surpresa, enquanto fecho a porta- que surpresa.
-Ahhhh, sentimentos tanta falta sua, Kate –diz as duas garotas juntas, indo de encontro aos meus braços. Fico em reação, mas abraço-as de volta, por educação, enquanto dirijo meu olhar ao garoto.
-Aí amiga, temos tanta coisa para te falar –a morena que me abraçava fala, enquanto seus olhos ficam marejados de lagrimas- sentimos tanta falta sua- ela olha para a outra garota ao seu lado, enquanto segura a sua mão. Estava emocionada demais para conseguir completar a fala. O garoto com o buquê continuava a me fitar.
-A Anne está um pouco emocionada –ela diz por fim abraçando a amiga, que agora escorri lagrimas pelo rosto- Estamos tão felizes de revela. Eu sei, -ela fita o chão, antes de se voltar a mim- provavelmente você não se lembra de nós, mas queremos muito continuar ao seu lado, Kate. Você é muito importante para nós.
-Fico agradecida pelo carinho de vocês –digo com sinceridade, com as mãos no peito- fico feliz em saber que tinha amigas que se importavam tanto comigo- sorrio para elas, me virando para o garoto- mas e essas flores? –Mordo o lábio inferior, olhando de baixo para cima para o garoto, que agora sorria de verdade com a minha ação, com as bochechas coradas- Por acaso são para mim? Olha posso até ter descoberto meu sobrenome a pouco tempo, mas tenho certeza que amo rosas, e não me importaria de ficar com elas –digo ironicamente- caso o destinatário não queira. A menos que seja para algum velório. Eu odeio velórios.
Aquilo faz os jovens rirem. Meus pais não estavam no cômodo, o que me dar liberdade para curtir do mesmo sentimento.
-Olha – garoto diz aproximando-se de mim, retribuindo meu flerte- eu até estava pensando em levar eles para um velório mesmo -ele pausa fingindo pensar- mas agora serei obriga-las a dá-las a você. –Ele sorri por fim.
Que garoto, Senhor.
-Assim, -eu coloco a mão no peito, fingindo-me de quem não quer nada- já que insiste, eu aceito elas.
Ele me entrega as flores, e eu finjo um suspiro de quem não imaginava receber o presente. Todos riem novamente com aquele teatro. Um breve silencio volta a sala, mas agora com um ar menos preocupante.
-Eu senti muito sua falta, estrelinha –Ele diz colocando a mão no bolso, olhando para baixo antes de se vira para mim- muito.
Suas palavras eram sinceras, eu sentia em sua voz. Sabia que havia um amor ali mais do que amizade, mas eu não sei como seriamos a partir de agora. Se eu ainda o amaria, ou se ele gostaria do meu novo ser.
Pigarreio antes de falar- Creio que eu, sendo a estrelinha –tento colocar humor naquele momento- deveria ser uma estrela grande, ou se não, não iluminaria todo o sistema, que por acaso –digo convencida- é o que eu sou, o centro de todos.
-Ah Kate, –Diz a garota que abraçava a Anne- me esqueci completamente do quanto que eras humilde. -Ela diz debochando de mim- Deveria ser canonizada, como a Santa dos Humildes.
Todos riem, até que o silencio volta.
A conversa se expande por mais uma hora. Descubro que a outra garota, de um tom moreno mais claro, olhos castanho-claros e cabelo ondulado escuro, se chama Paola. Meus pais... bem, eles são, Matheus e Ana Laura. Acabo descobrindo mais sobre mim, além do que já sabia devido aos checapes. Minha família não era daqui, por isso não vieram juntos. Parece que eu não tinha nenhum parente próximo. Eu não tinha mais amigos. Paola e Anne, disseram que eu não era uma garota popular. Era bem introvertida, devido a paralisia, que não era eterna, e sim recente. Elas disseram que a um tempo eu tinha me afastado da escola para ter 'aulas em casa'. Acabamos perdendo totalmente o contato, pois disseram que meus pais negavam o meu contato em redes sociais, ou pelo próprio telefone fixo. Eles vieram me procurar, mas eu não podia recebe-los... bem, depois disso me mudei para uma parte mais rural da cidade.
No enredar da conversa, não tentei bater na tecla de namoro, mesmo sabendo que era isso que eu e ele tínhamos, nem na parte da minha vida pessoal. Na verdade, não pretendo seguir os mesmos passos do meu antigo eu, quero me redescobrir, ser um novo alguém. Talvez eu continue com algumas das escolhas do passado, mas sei lá, não quero saber muito sobre a antiga Kate, quero formar essa nova Kate. Da forma que eles disseram eu nunca fui alguém bom. Sempre implicante, introvertida... o que fazia eu ter poucos amigos, notas não tão legais, e de vez em quando, arrumar problema na escola, mas por algum motivo me amavam mesmo assim. Considero isso estranho, pois disseram que a um tempo, antes da perda dos meus movimentos inferiores ou a exclusão social, eu estava andando com pessoas 'da pesada'.
Não que a conversa estivesse chata, mas finalmente as pessoas saem. Não marcaram de voltar, pois por algum motivo eles disseram que meus pais odiariam a presença deles ali. Estava feliz por finalmente ficar sozinha, mas depois de um tempo da saída deles, meus pais chegaram.
-Precisamos conversar –eles disseram.
-Digam
-Katw –a minha 'mãe' sentou na cama- sabemos que tem sido um período muito complicado para você. Acabou de acordar e se deparou com todo esse mundo novo. É claro, você se lembra de muitas coisas, mas percebemos o seu esfriamento em relação a nós. Não queremos ser seus inimigos, nunca fomos, mas tenha paciência, logo as coisas iram voltar ao normal. –Ela sorri junto com meu pai, e pega minha mão- nós te amamos.
-Oks –eu dou o sorriso mais falso do mundo.
-Oks –ela repete- bem, ahm, quem estava em seu quarto?
-Ninguém importante –eu respondo com um sorriso não simpático.
-Como foram as consultas? Houve algum Progreso? Os médicos nos deram os exames, mas não comentou nada da consulta psicológica. Digo em relação a lembranças e....
-Talvez porquê consultas psicológicas são sempre privadas ao cliente?
-Bem, está tarde –ela se levanta e pega suas coisas, nada simpática com a nossa conversa- precisamos ir. Você ficara bem aqui. Boa noite.
-Boa noite –digo olhando para o nada, mas ninguém percebe, ou quer perceber.
Ambos acenamos e a porta se fecha. Novamente me deparo sozinha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Homem de Preto
Mystery / ThrillerE como se acordasse de um pesadelo, Kate volta a vida, depois de tanto tempo em coma. Ela parece desesperada, e com razão. Não se lembra do que um dia já foi, do que aconteceu ou como chegou ali, ela só se lembra dele, e seu coração clama por sua aj...