CAPÍTULO VII

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Um vácuo me cercava. Preto, escuridão. Eu ali, em meio a tudo e ao mesmo tempo nada. Caminho, mas não há nada há minha volta, não há para onde ir. Caminhar, caminhar, chego a nenhum lugar. Olho para as minhas mãos, corpo... roupas pretas. Céu escuro, igual o chão. Um completo vazio. Trevas.

Aleatoriamente a realidade vira de ponta cabeça, e como se eu fosse a neve de um globo, caio. O problema desses globos de neve, normalmente de natal, é que para quem o agite, continue a mesma coisa, mas lá dentro nunca é. As coisas mudam, ficam em lugares e realidades diferentes.

A vontade era gritar, correr, pular, pedir socorro, mas para que? Seria em vão, e mesmo que eu quisesse, não havia como, eu estava congelada. Eu era marionete, a história já estava contada. Continuo no mesmo lugar, mas agora onde era céu e chão. Como aquilo estava acontecendo? Que loucura era essa?

Uma pilha de pessoas a minha frente, mortas, sangrando, decapitadas... como assim? Mosquitos pairavam aquele monte, insetos, e todo tipo de coisa. Eu caminho lentamente para trás. Queria gritar, queria fugir, porque eu estava ali?!?! Encosto em algo atrás de mim, eu grito. Era ele, estava diante de mim. Eu congelo, a alma foge e só sobra o corpo. Ele me fitava, mas eu não via seu rosto. Seu olhar me punia, queimava-me. Havia tanta coisa nele... ele sorri. Dentes extremamente brancos. Caminhos para trás, ainda fitando, e ele segue o mesmo ritmo. Paro olhando para os lados, e ele me imita. Um círculo de fogo. Quando isso aconteceu? Olho para frente, para a pilha de pessoas mortas. Ele estava em cima delas, no topo, segurando uma rosa extremamente linda. Ela brilhava de uma forma angelical. Ele me fita, sorrindo, enquanto uma luz o iluminava, em meio àquela escuridão. Algo me atrai, e eu vou ao seu encontro. Eu não queria, tento lutar contra meu corpo. Por que fazia aquilo? Por que estava ali? A medida que eu avançava o fogo também se aproximava. Meus passos lentos chegaram rapidamente a frente da pilha. Aquilo tinha um cheiro horrível, eu não aguentava ficar perto. Tento recuar, mas meu corpo me faz subir. Eu pisava neles, em todos. Mortos, crianças, mulheres, homens... o sangue sujava meus pés e barra das calças. Logo eu grito, alguns deles seguravam meus pés, eles me puxavam. Como assim? Eu fito Ele, eu gritava por socorro. Ele fulminava e eu precisava de sua ajuda. Meu corpo tenta ir ao seu encontro, e o mesmo, havia perdido a guerra. Eles me puxavam mais e mais. Eu entrava no meio da pilha, afundando como lama movediça. Ele continuava da mesma forma, com um braço estendido, segurando a rosa. Eu a queria, precisava dela, por algum motivo. O movimento da pilha não o afetava, mas a mim sim. O fogo cobria tudo aquilo, e fazia ficar muito mais horripilante. O fogo não o afetava, mas a mim sim. Meu corpo estava incendiado, e a visão que eu tinha (pessoas queimando a minha volta) era horrível. Eu já estava praticamente dentro. Eles me mordiam, arranhavam, me machucavam de todas as formas. Eu gritava apavorada. Entro na pilha, e sobra apenas uma mão fora daquilo. Eu afogava, e buscava oxigênio. Tudo fica preto e turvo...

Meus olhos se abrem novamente. Ele estava ali na minha frente, segurando a minha rosa.

...

Eu grito, mas ele permanece sereno. Os enfermeiros entram correndo e ele continua sentado em minha cama. Eu ainda estava tonta, não entendia nada.

-Aconteceu alguma coisa? –Diz uma mulher assustada. Todos voltam a visão para mim.

-Não, não –eu digo, sem ter certeza- ele estava me contando uma história, e gritei de susto. –Rio para tentar amenizar a situação, mas não sei se acreditaram.

-Contando história? –Eles se entreolham.

-ahm, sim –eu digo voltando a visão para ele, e logo depois aos enfermeiros.

Eles saem e fecham a porta. Ele volta a visão para mim, ainda em pé, me fitando.

-Por que você gritou? 

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⏰ Última atualização: Oct 01, 2021 ⏰

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