2: VALGRAM - Caminho

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O sol acabara de aparecer no horizonte. Francis acordou assustado, graças a um pesadelo, ele já havia se acostumado, eram mais do que frequentes, quase toda noite, sonhava com seu pai lhe colocando a manopla no braço, e indo para sua última missão, a missão em que ele jamais voltaria. Então, se levantou com dificuldade, e percebeu que sua manopla voltara a machucar sua mão. Enquanto se alongava percebeu que Henry ainda estava em um sono profundo, enquanto olhava para o local onde seu mestre havia ido se deitar na noite passada, notou que ele não estava mais lá, e de repente, começou a sentir um cheiro forte de fumaça, mesmo estando meio resfriado, seu olfato ainda era perfeito, retirando o punhal da cintura, começou a caminha em direção a porta, de onde vinha o som de galhos ao fogo, e a fumaça jazia mais intensa, ele se apoiou na parede atrás da porta, para tentar escutar algo suspeito, com não ouviu nada, resolveu sair. Ao se virar para o lado de fora se deparou com o velho mestre com três peixes quase queimados em cima da fogueira. Ao notar que não havia perigo, guardou a faca que ainda estava em seu punho, e disse com a voz fraca, e a garganta seca "bom dia" o homenzinho se virou e abriu um sorriso meio sem dentes para o garoto. Pegou um dos peixes e fez um gesto, entregando-o ao garoto, e apontou para um toco de arvore cortado "sente-se, a madrugada é melhor para pega-los, os mais gordos e mais suculentos só saem essa hora, e como não conseguia dormir, resolvi pegar alguns desses salmões do rio aqui perto. Você parecia estar tendo um pesadelo terrível... você tinha uma expressão de pânico no rosto."
O garoto sorrindo meio sem jeito respondeu "era meu pai, eu sonho com o dia que ele foi embora de casa a quase doze anos..." o velho por algum motivo estava suando, e fazia caretas as vezes, parecia estar sentindo dor, com a voz fraca, e contorcida, que mais se parecia um gemido, ele disse "o Edward Esttemort, o ultimo dragão azul. Você devia usar o estandarte da sua casa garoto, você seria reconhecido até mesmo pelo rei, seu pai, da mesma forma que seu avô foram guerreiros natos que contribuíram imensamente para este reino" Francis, com vergonha respondeu "eu não posso, não sou o filho mais velho, na minha casa há essa regra, apenas o filho mais velho tem direito de usar o sobrenome e o brasão da casa. Se eu usasse o simbolo do dragão azul, iria ser considerado, crime contra casa pertencente à realeza, ou falsificação de herdeiro... E a pena pre esse crimes são bem severas" o velho então disse "você entende bem de leis não é?" Francis então respondeu "minha mãe me obrigava a estudar as papeladas que o papai tinha deixado pra traz, por isso eu entendo bastante." O velho começou a rir e disse " então você é um 'arquivo humano'!!!" então os dois começaram a rir juntos, mas os risos e gargalhadas do velho começaram a se tornar uma tosse intensa quando ele parou de tossir, e retirou a mão da boca, sua mão estava totalmente suja de sangue. O garoto, assustado, perguntou "você está bem mestre?" sua expressão havia mudado totalmente, seu rosto agora era de um homem serio e preocupado, ele ergueu a mão e disse "acorde o Henry, tenho algo importante a dizer" Francis correu até onde Henry dormia e o acordou com um solavanco, desesperado, ele disse "se levante, o mestre não esta bem" Henry se levantou rápido e seguiu Francis, quando chegaram o velho estava sentado, na madeira observando o fogo, então, sem nem olhar para eles, ele disse "esse é o meu ultimo dia de vida" e continuou" meu corpo já não aguenta mais o peso dos anos, me perdoem por deixa-los tão cedo, ainda tinha muitas coisas pra ensina-los" já com o rosto pálido, ele olhou para Francis "comecem a se preparar, coloquem sua melhor roupa, hoje eu irei forma-los cavaleiros" Henry, que estava com lágrima nos olhos, disse "o senhos tem certeza? Você parece tão bem..." o rosto do velho se transformou em puro ódio "não minta pra mim!, pois pode ser a última coisa que ira dizer pra seu mestre, eu estou péssimo a semanas, e nenhum de vocês se preocupou nem um pouco comigo! Estou os formando cavaleiros, porque não ha outra maneira! Agora chega, vão se arrumar".
Os dois rapazes se retiraram calados, e foram se vestir, Francis mexia em sua bolsa procurando se havia realmente uma melhor roupa, mas em sua mente, seus pensamentos corriam a milhão, então ele pensou em voz alta "finalmente chegou. O dia que tanto esperamos esta sendo um pouco diferente do que imaginamos" Henry então respondeu meio cabisbaixo "queria conquistar esse titulo por mérito, conquistar com a minha força de vontade".
O silencio pairou por alguns minutos, os dois não sabiam mais o que dizer, o que podiam fazer nesse momento alem de seguir o que seu mestre havia lhes mandado? Henry então ergueu sua espada e disse para seu amigo "se tiver que ser assim, será, devemos nos dar por satisfeitos que ele não vai nos deixar sem nos formar cavaleiros, esse foi nosso maior desejo até hoje, e agora irá se realizar" Francis olhou serio para seu amigo, deu um sorriso forçado, levantou a cabeça e falou "ok me ajude a prender essa cota de malha" Henry sorriu para seu amigo e disse entusiasmado "é assim que se fala!"
Já era tarde quando o velho gritou do lado de fora com a voz falha " estão prontos?" a tosse vem logo em seguida "realmente eu não tenho o dia todo" os dois então partiram ao encontro do seu mestre, que estava com sua espada na mão, a espada estava brilhando, graças a varias e varia horas que Henry e Francis passavam polindo e lustrando ela, os dois então se ajoelharam, o que não ajudou muito, pois o velho era muito baixo, e os dois jovens tinham mais de 1,80 de altura, o pequeno homem ergue a espada meio trêmulo, e a colocou sobre o ombro esquerdo de Henry, e começou a cerimonia, a voz rouca que vinha do fundo da garganta que mais parecia um gemido trêmulo "Henry, que seus olhos castanhos te guiem nessa jornada que você irá iniciar hoje, que os males do dinheiro não corrompam sua lealdade e sua honra, que vc lute por motivos justos, e que você nunca se corrompa pela vingança" o velho passa a espada para a parte superior da cabeça de henry ainda tremendo "você é abençoado com a melhor visão e a melhor mira que eu vi na minha vida, e sua habilidade e velocidade com a espada são esplêndidas, você possui as caracteristicas perfeitas para um arqueiro." O velho passa a espada para o ombro direito de Henry, "pelo nome de cavaleiro concedido a mim pelo sor Taylor, mais conhecido também como Martelo de Chumbo, eu sor Gustav o Corvo branco, lhe nomeio Flecha de Luz." O velho recolhe a espada na bainha, e se direciona em frente a francis, enquanto Henry levanta e se curva diante a seu mestre.
Francis se encontrava nervoso, sua nuca ardia como nunca antes, seus olhos lacrimejavam constantemente, o suor escorria pelo seu rosto até sua boca dando um gosto levemente salgado ao seu paladar, ele se encontrava em um momento bastante desagradável, mesmo o tempo estando até frio, ele não conseguia parar de suar dentro daquela armadura quente e espessa, então, o velho finalmente começou o seu batismo, colocando a espada sobre seu ombro esquerdo e dizendo com a voz rouca e sem força "Francis que seus olhos azuis te guiem nessa jornada que irá iniciar hoje que os males do dinheiro não corrompam sua lealdade e sua honra, que vc lute por motivos justos, e que você nunca se corrompa pela vingança" o velho passa a espada para a parte superior da cabeça de Francis, se segurando para não soltar a espada, se forçando ao máximo, seus braços finos não tinham forças o suficiente, se esforçando, o velho continuou "você é abençoado com uma força de vontade avassaladora, sua persistência é impressionante, e sua forma te lutar é incrível, você usa da sua condição para fazer os ataques mais pesados que eu vi na minha vida, ainda possui as caracteristicas perfeitas para um guerreiro" o velho se esforçando passa a espada para o ombro direito de Francis, apoiando-a levemente sobre a ombreira "pelo nome de cavaleiro concedido a mim pelo sor Taylor, mais conhecido também como Martelo de Chumbo, eu sor Gustav o Corvo branco, lhe nomeio Garra de Trovão, pela manopla que nunca deixa de usar." O velho ja cansado se senta no tronco que estava logo ao seu lado, seus olhos pesados olhavam fixamente para o chão, ele recolheu a espada em sua bainha e colocou-a sobre as folhas, o vento soprava frio, enquanto levava aquelas folhas de outono de um lugar para o outro, o velho por fim, repousou seus braços sobre seu colo, o musgo e a lama no chão haviam sujado seus chinelos, enquanto seu olhar permanecia sem movimento olhando para o mesmo local.
Francis inquieto se levanta, se curva perante seu mestre, e então, reúne todas as suas forças para dizer "meu mestre, eu e Henry decidimos que vamos ir para aquele torneio que ouvimos falar ontem, mas para isso, nós vamos precisar da sua aprovação meu senhor, nós iremos ganhar, e seremos cavaleiros reais" os dois ficaram ali esperando sua resposta, mas infelizmente, a resposta nunca veio, o corpo se encontrava sem vida, o pequeno homem havia acabado de morrer bem ali, com seus olhos abertos em direção ao chão, acabava de falecer um nobre cavaleiro.
Francis se ajoelha próximo ao corpo, e fecha seus olhos ainda abertos pequeno e velho homem, o levando ao colo e dizendo " faça a cova, eu irei arrumar as outras coisas" Henry olha pra ele e diz "ele não tinha família não é? Pelo tempo que o conheço ele nunca falou sobre uma família, sua historias só giravam em torno do seu mestre" Francis se virou e disse ao seu amigo com ar serio "nós eramos a sua família".
PONTO DE VISTA DE FRANCIS ESTTEMORT
Por alguns minutos o silêncio pairou no ar, o som do vento de outono soprando as folhas era audível como um leve assobio calmo e distante. Henry havia desaparecido dentro da mata, quando ele saiu, Francis percebeu que seu olhar parecia sem vontade de continuar, ele se sentia incapaz, agora os dois estavam sozinhos e só tinham um ao outro, os desafios só iriam aumentar dali em diante, por isso eles deviam se torar mais fortes, e os dois tinham coincidência disso. O clima havia se tornado levemente frio, já se passara meia hora, Francis estava abaixado próximo ao corpo enrolado em toalhas do seu mestre, ele pensava consigo mesmo: "ele estava muito magro, é incrivelmente leve". O corpo ainda estava consideravelmente quente, Francis olhava para aquele embrulho de panos como um ente querido que o acompanhou até aquele momento e visto ele crescer, e não se sentia bem em deixar um companheiro tão próximo para trás dessa forma, seu pulmão doia por causa do ar frio enquanto um milhão de pensamentos corriam pela sua cabeça, Francis estava totalmente perdido, ele sabia o que devia fazer mas estava com medo, então seu corpo agiu sozinho, em uma fração de segundos ele sacou sua adaga presa ao sinto e perfurou a palma da sua mão esquerda, o sangue escorreu a palma da mão até pingar no chão, ele escolheu a usar a dor física para esquecer a emocional, sentindo aquela dor ele parou de pensar e voltou a si, pegou um punhado de panos e envolveu a mão, ainda sim ele se sentia quebrado por dentro, ele estava em uma luta intensa com seus olhos para não chorar, com cautela ele se forçou a levantar e pegar o corpo no colo novamente, dando o primeiro passo, ele seguiu em direção a floresta onde Henry havia entrado para cavar uma cova.
PONTO DE VISTA DE HENRY DEATHEART
Henry estava sentado sobre uma raiz de uma arvore olhando para o buraco que havia acabado de cavar, era razoavelmente fundo, e suor continuava a escorrer por sua testa, mesmo extremamente cansado ele tentava se manter lúcido se esforçando pra manter sua mente vazia, para ele era difícil acreditar que o a única família que ele tinha além de seu tio e Francis estava morto, ele não estava preparado psicologicamente pra isso.
Seu suor esfriava rapidamente sobre sua pele, seu corpo magro e pequeno começava a tremer por estar exposto ao frio, já que ele tinha tirado sua camisa para cavar a cova. Se permitindo a deitar confortavelmente sobre a raiz onde ele se encontrava, ele sentiu suas forças se esvair de seu corpo enquanto seus pensamentos se dissipam e ele se sentia relaxado, era estranho, mas ele simplesmente se recusava a pensar sobre a morte de seu mestre. Internamente, ele só queria fugir de seus pensamentos de arrependimento, luto, e autopiedade.
Passos soaram pela mata, Henry abriu seus olhos rapidamente, seus instintos falando mais altos enquanto ele sacava a adaga presa a cintura. Seus olhos se encontraram com os olhos fundos com olheiras de Francis, seu rosto preenchido com um ar sério e cabisbaixo por baixo de um sorriso de canto de boca forçado. Em seus braços um embrulho pendia pousado suavemente como se fosse um bebê, Francis se dirigiu sem dizer uma única palavra até a cova recentemente cavada e levemente molhada enquanto eu guardava o punhal.

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PONTO DE VISTA DE FRANCIS ESTTEMORT
Meu amigo sentado sobre sua mula, com o corcel de batalha do velho amarrado andando atrás, marchava ao meu lado. Já haviam se passado varias horas e nenhum de nós tinha dito uma única palavra, a respiração de Henry era pesada e muito mais que audível, mas ele mostrava um olhar confiante sempre olhando em frente, o que me deu forças pra finalmente quebrar o gelo entre nós, mas quando finalmente abri a boca para falar, ele falou primeiro:
"Vamos seguir nosso caminho para a capital, e vamos ganhar esse torneio." Disse ele me encarando com as sobrancelhas franzidas em um olhar confiante.
Eu o olhei com o memo olhar confiante, e concordei com a cabeça dizendo:
"claro".

Nota do autor: Gente, eu estou muito feliz porquê recebi avaliações muito boas dos leitores de CENTRAL KHAOS. Acho que é um sonho realizado estar começando a publicar essa obra maravilhosa que eu passei anos planejando. MUITO OBRIGADO LEITORES! Aqui tambem quero agradecer a Enrique Plácido que a alguns anos me ajudou a pensar e criar alguns personagens dessa obra.

CENTRAL KHAOS - Espiritos bestiais {Livro - 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora