Prisioneiro

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– Ah! Mais um dia, para somar aos incontáveis dias, nesse lugar fúnebre. O porquê vim parar aqui? Melhor o que eu fiz para ser jogado em um lugar como esse?
– Saudades do tempo que eu era livre. Podia correr, conversar com quem eu quisesse, dormir na hora em que viesse o sono, andar, sem o medo de tropeçar  em alguém e correr o risco de no mínimo receber um ou vários olhares de poucos amigos. Um espaço  cheio de olhos perigosos e repressores. Onde, pelo que me parece, todo cuidado é  pouco.
– Das poucas vozes que são  direcionadas a minha  pessoa, são  cerceadoras. Horas mais bruscas como “volta para o seu lugar", outros momentos, mais sutis, porém  não  menos limitador “onde o senhor pensa que vai?”. Das outras partes, as que compartilham o mesmo ambiente, ouço  somente  sons semelhantes a um rosnar  de cães  de várias raças  e tamanhos, mas todos aparentemente, dispostos a dar um bote no primeiro vacilo. Como cansa ter medo a todo instante. Continuo acreditando estar pagando por um erro que cometi, mas que não  me recordo.
– Aqui nesse meu martírio  constante, tudo é regra do. Tudo tem sua hora de ser feito e tempo para ser feito. Café da manhã – Já acabou? – almoço. – Coma mais rápido! – assim como no jantar. Os banhos? Não  me acostumei com tamanha falta de privacidade, as vezes até  situações  claras de assédio. Que por mais que eu reclame, nunca sou  levado a sério. Sinto muita falta de quando podia ficar sem fazer nada o dia inteiro ou querendo fazer tudo ao mesmo tempo. De ser dono de mim, mas pelo visto esse tempo passou.
– O tempo se arrasta sempre. Até  chegar meu dia favorito. O dia em que vejo a mais bela mulher de todo o planeta. Com um sorriso sempre aberto, um ouvido atencioso, com toques amorosos, perguntando como tenho passado. Naquele momento, exatamente naquele dia do mês, esquecia  por completo o que vivia naquele inferno e dizia estar ótimo. Porém  nesse  dia, por mais que adorasse aquele sorriso, pedi ajuda. Queria sair, já não  aguentava mais sentir aquele amor uma vez ao mês.
– Pai!... Não  temos espaço e muito menos como cuidar do senhor  na situação em que está. Eu e  meu marido trabalhamos muito. Por isso te colocamos aqui, perto de gente da sua idade...
– Ali eu entendi o crime que cometi. Envelheci.

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