Quatorze.

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Eu não sabia o que havia acontecido com a garota à minha frente e por um momento achei melhor não perguntar.

Seu rosto estava inchado e seus olhos vermelhos. Ela chorava desesperadamente em meu peito, soluçando.

Eu nunca sei muito bem o que fazer quando alguém está chorando. Deveria abraçar? Perguntar o que aconteceu? Dar um tempo pra pessoa?

Hesito, mas por fim levo meu braço às suas costas e minha outra mão à sua cabeça, acariciando ali e a apertando contra meu peito levemente, tentando tranquilizá-la da melhor maneira possível.

Eu não tenho muita intimidade com Julie, quase não nos falamos pra ser honesta, mas agora eu tenho um instinto de protegê-la seja lá do que lhe aconteceu.

- O que aconteceu? - sussurro depois de um tempo naquela posição.

A menina se distancia um pouco, limpando as lágrimas com a costa da mão e respirando fundo.

- É o vovô...

[ ••• ]


Quando morava no Texas, costumava pegar o carro da minha mãe e ir para uma estrada vazia para clarear a mente, mas nunca dirigi tão rápido em uma via normal quanto naquele momento e, apesar de Julie estar visivelmente incomodada, ela não contesta a velocidade, dado a situação.

Não me importo nem por um segundo pela grosseria com a recepcionista que se recusava a falar em que quarto meu avô estava, mas depois de Julie conversar calmamente, ela nos indicou o quarto.

Caminhamos com passos apressados, olhando os números fixos em todas as portas à procura do quarto desejado.

Quando achamos o quarto, por pouco não derrubo a porta devido a força e a pressa que estava, mas quando vejo meu avô ali, deitado em sua cama e a máquina ao seu lado indicando os sinais vitais estáveis, meu coração se alivia e parece que consigo respirar pela primeira vez nos últimos 15 minutos de pura agonia.

- Mãe! - Julie exclama ainda em tom de voz baixo indo em direção à sua mãe com os braços abertos.

Não demora mais do que meio segundo para Margot se levantar e retribuir o gesto, abraçando sua filha com intensidade e proteção. Desvio o olhar pelo contato íntimo delas, coisa que nunca tive com minha mãe.

Caminho até meu avô, que dorme pacificamente. Me sento a cadeira ao seu lado e o observo em seu sono profundo.

- Ele vai ficar bem - minha tia diz - Só está inconsciente depois da cirurgia, mas ele vai ficar bem! - reforça.

Eu sei que vai.

Julie se aproxima e o analisa, checando que está bem e se vira pra mim.

- Nós temos que sair rapidinho agora, pode ficar de olho nele? É provável que ele não acorde nas próximas horas, mas ainda sim é melhor prevenir pra ele não acordar sozinho.

Não hesito nem por um segundo.

- Claro, tranquilo.

A menina, que quase parece uma criança julgando pela altura, dá um sorriso sem mostrar os dentes e se retira do quarto junto de sua mãe.

Elas parecem sempre estar juntas, pra literalmente tudo.

Me pego pensando como deve ser ter uma mãe tão presente e que se importa tanto com o bem estar da própria filha.

Depois de alguns minutos que elas saíram, olho em volta do quarto vazio, como se quisesse ter certeza que ninguém veria aquilo, e puxo a cadeira para mais perto da maca, segurando sua mão com o maior cuidado possível. Observo cada batimento cardíaco seu, como se ele estivesse tão sensível que pudesse simplesmente quebrar.

- Você não pode morrer, está me ouvindo? Não pode. - sussurro o encarando.

Eu não aguentaria mais nenhuma morte e tenho completa consciência disso.

Julie me contou em sua explicação que meu avô teve um infarto no meio da tarde sem motivo aparente, já que ele não tinha histórico de problemas cardiovasculares. Ela disse que estava sozinha com meu avô quando aconteceu e não sabia o que fazer, como não sabe dirigir e uma ambulância demoraria minutos - que são de extrema importância quando se trata de ataques cardíacos - ela tentou me ligar diversas vezes mas eu não atendia.

Acontece que meu celular estava no quarto de Logan e depois que ele me difamou, não passou pela minha mente pegar meu celular. Se eu tivesse simplesmente ido direto para meu apartamento, saberia bem antes do ocorrido e talvez conseguisse fazer algo pra ajudar, mas é claro que Logan tinha que me chamar de viciada e me deixar louca, me deixando com a única opção de ir para casa de Brad pra procurar algo pra resolver minha angústia.

Tudo é culpa do Logan. Se eu tivesse voltado pra casa na hora que acordei, poderia ter testemunhado o ocorrido e ajudado, mas não, ele me convenceu a ficar e isso quase custou a vida do meu avô.

Com a minha demora pra atender e com a demora da ambulância, isso o prejudicou.

Naquele momento fiz o máximo de esforço possível para retirar aqueles pensamentos e focar apenas nos batimentos cardíacos de meu avô, observando aquela linha subir e descer repetidas e repetidas vezes, sem conseguir desviar meus olhos daquela tela.

se alg perguntou:
sim, eu gosto de fzr
vcs sofrerem😋😋

Savannah TaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora