Cinquenta e um.

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— Consegue acreditar que a viagem do fim do semestre já está chegando? — Riley inicia o assunto quando nos sentamos na habitual mesa arredondada do refeitório. — Mal acredito que já estamos acabando o segundo ano.

Balanço a cabeça mordendo minha maçã, o som satisfatório quando se percebe ser uma maçã crocante e não macia.

Você está acabando. — a corrijo. — É provável que os malditos professores queiram que eu faça reforço nas férias de verão. — bufo apoiando meu cotovelo na superfície metálica e gélida da mesa.

Riley semicerra os olhos e inclina a cabeça levemente, pensando em minhas palavras.

— Não sei se os professores são tão malditos assim se fizerem isso. — a encaro. — Quero dizer, você mata pelo menos 2/3 das aulas, sai da sala do nada sem a autorização deles e nunca vi você entregar um trabalho. — pontua.

Dou de ombros despreocupadamente.

— Tanto faz.

A garota assente, provável que esteja querendo me mandar estudar mentalmente.

— Bem, — pigarreia retomando o assunto anterior. — você reprovando ou não, vamos para a viagem. — diz autoritária e nem me dá a chance de responder antes de continuar. — É a melhor parte do ensino médio, junto com o baile. Eu não fui no primeiro ano porque estava com dor de garganta e minha mãe não quis me deixar ir, mas esse ano nós vamos. — diz com convicção.

Eu nunca fui exatamente envolvida nas atividades escolares. Nunca fui para um jogo de futebol, ou um baile. Acho que estava mais preocupada com a morte do meu pai ou em fumar maconha. Tanto faz.

Aproveito a pausa que a garota faz pra respirar, antes que ela continuasse.

— E como é essa viagem?

Ela engole rapidamente o suco e respira fundo.

— Todo ano é um lugar surpresa, você só descobre quando já está no ônibus a caminho. Ano passado foram pra uma cabana na neve, o que deixou muitas garotas com raiva por não poderem usar os biquínis que tinham comprado na esperança de irem para a praia. — balança os ombros com indiferença. — Por mim qualquer lugar que não seja aqui está bom.

— Eu não aguento mais o frio da Califórnia então espero que seja pra praia. — mordo mais uma vez minha maça, apreciando o gosto doce. Termino de engolir antes de perguntar. — E os quartos? Os professores que escolhem?

A garota solta uma risada de escárnio.

— Na teoria, sim. Deveria ser os meninos em um andar e as meninas no outro, mas na prática nunca é assim. — diz com um levantar de sobrancelhas e um sorriso malicioso. — Os meninos sempre conseguem ludibriar os monitores, que provavelmente também estão de saco cheio e nem tentam impedi-los.

Rio também, tomando um gole da minha água.

— O que os garotos não fazem por uma buc- — começo a falar com humor mas o olhar que Riley me lança me faz reprimir meus lábios para impedir uma risada de escapar.

Primeiro, penso que sua indignação é apenas com minhas palavras grosseiras, mas ao ver seu olhar lentamente deslizar pelo refeitório à procura de algo e encontrar Brad com outra garota, entendo.

A face, normalmente tão leve da garota, fechou-se dura. Não em raiva, mas em mágoa. Seus olhos caem para a bandeja de comida à sua frente.

Não é mistério pra ninguém minha... insensibilidade com assuntos do coração. Por isso normalmente não me envolvo, mas eu não poderia simplesmente ficar calada ao ver minha amiga chateada na minha frente.

Savannah TaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora