Trinta e seis.

804 94 23
                                    

Domingo. Mais uma festa casual na mansão de Brad.

Cheguei de viagem à algumas horas e pensei em dar uma passadinha aqui para falar com Brad. A primeira vez que falei com ele depois do beijo na boate foi em uma mensagem de voz bêbada e logo em seguinte quando estava fora de mim na praia, então só quero ter certeza que estamos bem.

Mal falei com Logan o voo de volta inteiro, Ava tendo que ser o pombo-correio e falar pela gente. Ele tentou falar que eu estava cometendo um erro e eu admiro sua insistência mas acredito que nós precisemos de distância agora.

Estou fumando um na varanda dos fundos da casa de Brad que dá para o quintal, pensando como deve ter sido crescer aqui. Correr por entre as flores, pular na piscina em um dia quente, a grama molhada debaixo dos pés, um pequeno balanço para brincar.

Um quintal tão grande, uma casa tão grande e ainda assim tão vazia. É inevitável pensar em como Brad se sente quando está sozinho, quando não tem ninguém o olhando.

Por tanto, minha conclusão é: ter pais é uma merda e não ter pais também é. Não tem saída, eu acho.

— Você está aqui. — ouço a voz do mesmo que pensava anteriormente e tomo um leve susto, levando a mão ao peito. — Te assustei?

Eu pensei tanto nele que o invoquei?

— Um pouco, é. — dou um sorriso discreto e observo o garoto que parece cabisbaixo. — Ei, nós estamos bem? Não deveria ter tentado te beijar aquela noite na boate.

Seu olhar continua desanimado, imagino que às vezes nem as festas consigam colocá-lo para cima. Um sentimento do qual eu me identifico.

— Sim, Annah, estamos. — um leve sorriso se forma em seus lábios e ele caminha até o meu lado, se encostando no parapeito da varanda. — O problema não foi me beijar, sabe? Foi me beijar pra jogar na cara do Logan.

Assinto com a cabeça, olhando para os próprios pés e tragando a maconha.

— Foi mal, nem eu sei porque faço isso às vezes. — seus olhos me observam atentamente e um leve divertimento brilha neles. — Mas... eu posso te beijar, quando tiver vontade?

O garoto dá um breve riso nasal.

— Acredito que sim.

— Eu posso te beijar agora? — peço piscando os olhos inocentemente.

Uma sombra de sorrisinho surge em seus lábios, que ele aproxima dos meus. Um beijo calmo e pacífico é iniciado, sem segundas intenções, apenas duas pessoas levemente quebradas tentando se sentir menos solitárias.

Ele segura minhas bochechas com as mãos quando nos separamos e sorrimos.

— Em outra vida, seríamos um casal gostoso pra caralho. — anuncio simples e o garoto ri.

— Com certeza, todos iriam querer fazer ménage a trois com a gente. — complementa e começamos a rir.

— Provavelmente já querem fazer agora. — o provoco empurrando seu ombro com divertimento.

Brad me pede um trago e eu passo o baseado pra ele, já enfiando minhas mãos no bolso do casaco para me esquentar. Na praia estava tão quente e aqui está congelando, dois extremos.

— Savannah? — me chama com os olhos cansados. — Você me assustou ontem. — diz simples e de repente. — Quando te liguei e você estava com aquelas pessoas estranhas na praia.

Solto o ar pesado pelo nariz, não querendo voltar para essa história.

Por que as pessoas insistem em ficar revivendo essas coisas?

— Obrigada pela preocupação mas não é necessário. Eu tava bem. Estou viva, não estou? — pego o baseado de sua mão, dando mais um trago.

O ar está frio, cortante. O nariz de Brad está avermelhado, provavelmente porque somos os únicos que não usamos trinta camadas de roupa pra ir pra varanda.

De alguma forma, Brad consegue parecer ainda mais bonito assim. Os cabelos loiros levemente bagunçados, a ponta do nariz avermelhada e os olhos lacrimejando com o frio.

— Você não pode usar o argumento "estou viva" pra toda merda que você faz. Você poderia realmente ter morrido, Savannah. — diz sério, virando para mim. — Logan me ligou falando que você estava bem, mas que tinha sofrido um coma alcoólico. E mesmo assim você não para, continua bebendo e fumando um dia depois de ter ficado inconsciente.

Solto a fumaça pela boca lentamente, aproveitando como uma desculpa para pensar no que falar.

— A vida não para, Brad. Por que eu deveria? E de qualquer jeito, Logan exagerou. Eu não chamaria aquilo de coma alcoólico, eu só... apaguei por alguns, poucos, minutos. — digo entediada, como se não fosse nada.

Até porque realmente não é nada.

Estou cansada dessas preocupações constantes, eu consigo me virar sozinha muito bem.

Me viro sozinha desde os 14. Eu fazia minha própria comida, eu marcava as minhas próprias consultas ao médico quando me sentia mal, eu limpava o meu próprio quarto sem precisar da minha mãe mandando. Estou sozinha há anos e consigo decidir quando está na hora de parar e quando quero continuar.

— Acho que Ava, que teve praticamente uma crise de pânico enquanto tentava te socorrer, não vai concordar que foi "nada". — diz com seriedade, me olhando atentamente.

Bufo já nervosa com todo mundo achando que preciso de supervisão constante.

— Olha, eu não preciso de babá, ok? Consigo muito bem decidir minha própria vida, já briguei com Logan por causa disso e não quero ter que brigar com você também. — jogo o resto do baseado no chão e piso nele, fazendo menção de sair da varanda.

— Nós estamos preocupados com você, só isso! — segura meu braço me impedindo de sair.

O jeito que ele fala "nós" me irrita ainda mais, como se todos estivessem conspirando juntos pra planejar minha intervenção.

Quase consigo visualizar Brad, Logan, Ava, Riley e minha tia sentadinhos em círculo com um prato de biscoitos no meio planejando como vão infernizar minha vida no dia seguinte.

— Eu não preciso da preocupação de vocês. — exclamo com raiva e me livro de seu toque, saindo do local.

eu nao aguento mais isso de sonhar com personagem fictício pelo amor de deus eu acordo tao triste quando percebo que é sonho

Savannah TaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora