Cinco

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Yifan sempre tentou manter a calma nas mais diversas situações. Seus amigos brincavam que o alfa era um poço de calmaria, sempre sendo o primeiro a ser chamado para resolver possíveis conflitos em seu círculo de amizade.

Contudo, mesmo que por fora ele conseguisse passar essa imagem, em algumas situações seu eu interior entrava em pânico, como era o caso de agora. O Wu estava parado em frente à porta dos Huang apenas esperando Zitao abrir a mesma, pois já havia mandado mensagem para o ômega avisando da sua chegada. Podia ouvir várias vozes vindo de dentro da casa e isso só o apavorava mais. Mordia o lábio inferior com força e apertava com força a alça de sua mochila. 

Devia ir embora e desistir — pensou.

E por pouco não seguiu com esse plano, se não fosse a voz melodiosa do ômega entrando em seus ouvidos ao abrir a porta.

— Desculpa a demora! — Yifan se virou de frente para o mesmo. — Minha mãe precisou de mim na cozinha… — se justificou, sorrindo para o lúpus.

— Tudo bem. — deu de ombros.

Zitao deu mais um passo, fechando a porta atrás de si.

— Olha, não precisa ficar nervoso. — começou. — Todos aqui são bem legais! E não se preocupe, eles não vão fazer você passar vergonha, nem vão fazer perguntas constrangedoras, já conversei com eles sobre isso. — sorriu, tentando passar conforto. — E se eles entrarem em uma discussão sobre Sonserina ser melhor que Grifinória: vai na onda! — disse.

— Bem, não posso culpá-los por não reconhecerem a superioridade da Corvinal. — respondeu, brincalhão. Zitao levou a mão ao peito.

— Como um lufano, eu me sinto ofendido. — retrucou, estreitando os olhos. — Mas eu aceito seus defeitos, Wu Yifan. — ambos riram. — Vamos entrar.

Tao abriu a porta, entrando primeiro e esperando o lúpus entrar também.

Quando Kris atravessou a porta as reações foram bem diferentes da que ele imaginava. Talvez fosse muito dramático dizer que o Wu esperava que todos os olhares fossem voltar para ele, com um misto entre estranheza e desconfiança, bem como uma cena de filme onde o mocinho entra no lugar errado na hora errada. Mas ao contrário do que imaginou, as pessoas ali continuaram com o que faziam, como se sua presença fosse algo normal. Alguns que o notaram, sorriram para si antes de continuarem seus assuntos.

Isso deixou o lúpus bem aliviado. Odiava ser o centro das atenções.

— Pessoal, esse é o Yifan. — Zitao disse, chamando a atenção de todos, que simplesmente responderam um “olá” e “bem-vindo”.

— Olá! — respondeu, dando um leve sorriso.

— Minha mãe está na cozinha. — o mais novo informou, segurando a mão de Yifan e o puxando atrás de si. — Mãe, o Yifan chegou. — disse para a mais velha assim que entraram no cômodo.

— Yifan! — ouviu a voz da bibliotecária. — Que bom que vai passar o Natal conosco, querido. — a ômega sorriu, se aproximando do lúpus.

— Oi, senhora Fei! — sorriu. — Como a senhora está?

— Melhorando. — respondeu. — Pare de me chamar de “senhora”, eu nem aparento ter tanta idade assim.

— Não é o que a certidão de nascimento dela diz… — ouviram Zitao dizer, sorrindo travesso ao mergulhar uma colher em um molho, levando até a boca e provando do mesmo.

— Olha como você fala, Huang Zitao! — repreendeu. — Todo mundo sabe que eu aparento ser a mais nova dessa casa! Não é Yifan? — rebateu, brincando. — E pare de comer o molho antes da ceia.

— A senhora… Digo, você é maravilhosa! — Yifan sorriu cúmplice, vendo a mais velha lhe agradecer.

— Traíra… — Zitao resmungou, cruzando os braços como uma criança mimada.

— Não fica com ciúmes, Taozi, você também é bonitinho…

— Bonitinho?! Saia da minha casa, alfa. — brincou. Yifan riu, fazendo um coração com as mãos e mostrando para o ômega, que revirou os olhos, rindo.

— Tao, vai mostrar a casa e apresentar o pessoal pra ele. — a ômega ordenou, sendo prontamente atendida pelo filho.

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O Wu percebeu que era fácil conversar com a família de Zitao, e descobriu de onde o ômega havia puxado sua personalidade encantadora. Todos ali lhe acolheram como se já fizesse parte há muito tempo. Haviam acabado de jantar a ceia quando a senhora Fei anunciou que chegou a hora dos presentes. As crianças que estavam ali correram para debaixo da árvore de Natal e em minutos, metade dos presentes já estavam desembrulhados.

Yifan estava sentado no sofá, observando cada um se presentear, quando foi surpreendido por um embrulho fino sendo segurado em frente ao seu rosto. Olhou para o lado, vendo Tao atrás do sofá, segurando o presente.

— Feliz Natal! — Zitao disse.

— Obrigado… — Yifan pegou o embrulho, o abrindo. Zitao o olhava ansioso. — Um calendário?! — arqueou a sobrancelha. — Muito engraçado, ômega! — falou, olhando o Huang sorrir travesso. 

— É brincadeira, esse não é o seu presente. Bem, pelo menos não é o único...— Zitao deu a volta no sofá, se sentando ao lado do alfa. Estendeu a mão, segurando um embrulho prateado na mesma. — Agora sim: feliz Natal, Fan! 

Yifan segurou o presente, abrindo o mesmo com cuidado. Sorriu ao retirar da embalagem um livro que conhecia. “O Sol é para todos”. O mesmo livro — e primeiro de muitos — que Zitao o indicou para ler, e o mesmo que deu início à relação entre os dois.

— Obrigado! — agradeceu, sorrindo.

— Esse livro é um marco do dia em que Wu Yifan finalmente começou a descobrir o universo mágico da leitura. Tenha cuidado com ele! — sorriu.

— Vou ter! — garantiu. — Eu também tenho um presente pra você…

O mais velho pegou sua mochila, retirando de dentro da mesma um pacote verde-claro. Entregou para o mais novo que o olhava com expectativa. Ao contrário do alfa, Zitao abriu o embrulho de forma afoita, sem se importando em rasgar o papel decorado.

— Ai… meu… Deus… — disse de forma pausada ao ver o que era.

— Feliz Natal, Taozi! — Yifan respondeu baixo, mordendo o lábio em expectativa para ver a reação do ômega.

O grito de alegria que ecoou pela sala assustou o resto da família Huang, que se virou para observar um Zitao se jogando em cima de Yifan, o abraçando com força e repetindo “obrigado” diversas vezes. Sorriram com a cena.

Kris sorria em meio ao abraço do ômega, que estava surtando de felicidade. Ter o Huang em seus braços era algo que Yifan podia se acostumar facilmente. Sentia o aroma de lavanda entrar em suas narinas, o deixando levemente atordoado. Zitao revezava entre agradecer e distribuir beijinhos em sua bochecha, fazendo o alfa rir.

— Eu amei! — o mais novo disse ao se separarem. — Obrigado, de verdade. — agradeceu, levando o exemplar novinho em folha de “Orgulho e Preconceito” até seu peito, o abraçando.

— Eu fico feliz em saber disso… — Yifan respondeu. 

O ômega voltou seus olhos para o livro que segurava, sorrindo involuntariamente. Se levantou, correndo até outro cômodo da casa. De longe, Kris podia ouvir a voz do mesmo.

— Mãe! Você não vai acreditar… — escutou o Huang falar, animado.

Mesmo não sendo da conta de ninguém, muitos ali notaram o acontecimento. Obviamente que ninguém se pronunciou sobre o olhar bobo que Yifan carregava ao observar o caminho que o ômega havia seguido. Nem comentaram sobre como Zitao sorria fácil ao citar o nome do Wu enquanto contava para sua mãe sobre o presente que ganhara do alfa. Contudo, mesmo todos escolhendo manter silêncio, nenhum negaria caso perguntassem, pois estava na cara que aqueles dois nutriam sentimentos um pelo outro. E ainda que não devesse importar, todos torciam para que aquilo desse certo.

Twitter: wuyifxxck

Entre livros e atrasos [wyf+hzt]Onde histórias criam vida. Descubra agora