— E por que?
— Eles alegam que intervenção é manipular a natureza, o que é crime, segundo nossas leis. Mas nisso entram muitas outras questões complicadas, que não vale a pena entrar no mérito. Bem...resumindo, Cido... eu fui pega fazendo o que eu achava ser certo e acabei sendo presa e punida. Agora meus pais já devem estar mortos... disso eu nem tenho certeza ainda... — acrescenta ela, levando a mão à cabeça.
— Eu seria executada dentro de dois dias. Eles tiraram de mim minhas armas e sugavam minhas energias frequentemente pra me deixar sempre fraca. Até que, desesperada, vi que seu planeta estava se alinhando com o planeta onde eu estava, e mesmo pertencendo os dois planetas à dimensões distintas, estavam os dois ali, coexistindo no mesmíssimo local, já que as órbitas de ambos os planetas se alinharam perfeitamente a tal ponto que coincidiu até da minha cela ficar exatamente no mesmo lugar de seu quarto no seu mundo.
— Eu já estava desesperada com a ideia da morte, até que tive a ideia de usar minhas ultimas forças para enfeitiçar uma mariposa que eu vi sobrevoando sua cama à noite. Ela pousou sobre seus olhos enquanto você dormia e soltei o encanto pra ela fazer você acionar esses controles e me tirar daqui. Não sei se você notou, mas nós aqui conseguimos acionar botões e componentes eletrônicos que estão em outras dimensões quando sabemos de sua localização exata. Da mesma forma, graças à seu código de barras, que é válido, eu pude ter sido libertada por você. Obrigada.
— Então foi isso...
— Sim, mas como você acionou um registro de apresentação, então você foi teleportado pra esta dimensão pelo próprio sistema de catalisação do computador para que você pudesse pagar pelo sacrifício, que...cá entre nós... não tinha como ser pago já que você não tem alma mesmo, então... foi uma bela trapaça que eu fiz na sorte! Sorte de ter te achado.
— Como você sabia que eu era um golem, se você mesma disse que estávamos escondidos aqui? E como você podia ver meu planeta e seus carcereiros não?
— Engraçado... somente agora eu entendi o que Jasmim fez. Ela previu tudo isso... aquela mulher é mesmo uma bruxa!
— Como assim?
— A minha raça, a dos Regentes, é a que domina todas estas galáxias conhecidas de ao menos três universos e suas respectivas dimensões. Eu me juntei ao grupo daqueles que reivindicam o controle sobre as raças inferiores pra restringir a maldade no campo da existência física, mesmo que isso seja feito sob uma bandeira de tirania. Como nossa missão é altruísta e não há ganância entre nós, nós iremos tratar a todos com justiça. Mas...
Ela ergue seu olhar para o alto, contemplativa.
— Aqueles que se opõe à nós são igualmente altruístas e também desejam o bem, mas muitas vezes fazer o bem da maneira errada acaba provocando o mal, Cido. Eles sabem disso, e o que eles fazem é errado, pois eles estão ignorando o sofrimento alheio. Nós decidimos reagir, mesmo indo contra a vontade da Natureza. E passamos a ser caçados por nossos próprios líderes.
Cido ouvia a tudo impressionado e contente, de certo modo, por saber de coisas totalmente alheias ao cotidiano terráqueo.
— Minha antiga tutora, a Jasmim, acabou me fazendo beber um elixir que permite enxergar o Além-Cosmos, ou outras dimensões coexistentes, mas isso me deixou abatida, e acabei sendo deixada para trás. Ela tramou tudo: fez com que eles me capturassem para que estivesse no mesmo planeta que tinha sincronia com o planeta dos golems, e capturasse um, que é você, pra poder trazer pro nosso lado. Ela havia soltado várias indiretas, insinuando que faria algo assim comigo... somente agora que liguei os pontos. Porque ela não me contou? Será que achou que eu não teria coragem?
— Então eu não me lembrarei de nada do que se passou aqui quando eu voltar pra Terra?
— Isso mesmo.
— Por que?
— Porque sua mente tem elementos unicamente de sua dimensão. Esses elementos não possuem suporte pra guardar informações de outros segmentos de ondas, que não sejam as do segmento de sua dimensão.
— Se eu voltar pra Terra, eu volto normal? Sem aquele problema nos olhos?
— Sim. Sem problema nenhum. E sem poder se manifestar como golem.
— Entendo, Hadazu... Olha... é tudo incrível por aqui, mas aqui não é o meu lugar. Eu me sinto perdido aqui.
— É um sentimento comum. Em outra dimensão agente nunca se sente realmente em casa. Mas você é muito bem-vindo aqui, Cido. Há um lugar pra você entre nós aso queira ficar, pode ter certeza.
Os dois continuam dialogando, e Hadazu criam um grande espelho pra ele poder se ver e conhecer sua própria aparência de golem de pedra, e ele nota a semelhança entre ele e os golens da Ilha de Páscoa, mas Hadazu não tinha certos conhecimentos específicos pra lhe tirar determinadas duvidas sobre o passado da Terra.
— E quanto à seus poderes mágicos, Hadazu... como você os produz? Eu achava que mágicas não existissem, mas vejo que não é bem assim.
— Mágica é truque, mas isso aqui não é truque. Se quiser, pode chamar isso de magia ou encanto, que são palavras conhecidas de seu vocabulário. Isso que vocês chamam de encanto, para nós nem há um nome definido, pois é uma propriedade invocatória natural de certas criaturas. Outras as desenvolve com ajuda de Mestres. Até mesmo muitos humanos, como aqueles arquimagos não nasceram com essa propriedade invocatória. Mas seres de minha raça nascem naturalmente com isso, pois somos estrelas, e temos diversas vidas dentro de nós.
— Como funcionam esses...encantamentos invocatórios? Como você faz essas coisas?
— Você quer entender? Haha! Isso necessita de anos de estudo, meu caro, mas basicamente... como diria eu... seres encantadores espalham seus próprios corpos pelo Universo, e esse corpo que você está vendo está apenas concentrado neste ponto neste momento. Quando eu quiser criar uma chama, por exemplo, basta eu provocar uma reação neste ponto de meu real corpo acima da palma de minha mão, que a chama se aparece. Entenda que meu verdadeiro corpo está espalhado por uma região equivalente a alguns poucos quilômetros daqui, de onde está meu corpo aparente, e dentro deste espaço eu posso realizar qualquer feito dentro de minha capacidade.
— Então, por que você não se teleportou e não fugiu da prisão sozinha?
— Porque além de eu ter estado fraca, eles possuíam inibidores de teleporte naquela estrutura. Eles permitem apenas aliados de se teleportarem. Saber sincronizar elementos tecnológicos com encantos traz ampla vantagem pra qualquer um.
Hadazu e Cido ficaram ali escondidos tanto de sua civilização, quanto dos nativos daquele setor.
No planeta Esóqua, Jasmim sente-se exausta com a interminável batalha, onde seus inimigos possuíam além da vantagem do teleporte, outras vantagens, como armas em maior quantidade, e geração espontânea de mais tropas cibernéticas e munições.
Mas o objetivo secundário deles, ao menos, já fora alcançado, que era de certo modo resgatar a jovem prisioneira.
Todos partem em retirada, vendo-se em desvantagem gradualmente já crescente e nítida, fugindo e detonando diversas minas-surpresa pra destruir os seguidores e também como uma espécie de PEM, um impulso magno-gravitacional de diversos segmentos de ondas pra impedir qualquer sistema eletrônico ou tecnológico de funcionar pra evitar que sejam seguidos.
A vasta maioria consegue escapar entrando nas naves e carros, disparando e dispersando-se pelas mais diversas dimensões e galáxias aleatoriamente, misturando-se a outras civilizações, tornando qualquer tentativa possível de rastreamento uma perda de tempo.
Foi um ataque absolutamente inesperado sofrido por essa parte da Elite dos Regentes que controlam todo o Universo desde sempre. Há tempos amplamente longos atrás que problemas de guerra não ocorriam... questão de bilhões de anos atrás. Todos foram pegos de surpresa, e até mesmo o lado atacante da Ruptura Regente, que foi assim que passaram a se auto-intitular, não estava preparado pra uma batalha, ainda que todos soubessem muito bem por experiência de como realizar uma. Mas notava-se claramente que as vezes um lado ou outro cometia equívocos e até mesmo gafes, principalmente pelo fato de os mais poderosos de ambos os lados lutarem de má vontade, devido à repulsa natural pela guerra.
Espontaneamente surge um painel semi-eletrônico, mais parecido com holograma no pulso esquerdo de Hadazu, mostrando pra ela diversas informações numa língua estranha com uma contagem regressiva barulhenta em andamento.
— Eles não conseguiram. — diz ela — vamos para a nave depressa!
Ela o pega pelo enorme braço e o conduz de volta para o recinto no quarto, soltando um feitiço, apenas apontando a palma da mão esquerda pra Cido, o que o faz voltar à sua forma de aparência humana.
O quarto é lacrado e sua atmosfera volta a ser preenchida.
— Pra onde vamos?
— Precisamos nos encontrar com o grupo muito depressa.
Ela recolhe alguns pequenos objetos antes invisíveis que estavam no ar dentro do quarto e os coloca no carro.
Os dois entram no carro, que sai em disparada pra dentro de um espaço que mais parece um túnel com coloração psicodélica e um som agudo e baixo seguido de algumas batidas periódicas sempre que eles passam por certos anéis dentro do túnel, o que faz o tal som agudo ganhar um pouco de intensidade gradativamente.
— Como eu faço pra voltar pra casa, Hadazu? Você ainda não me explicou isso.
Ela fica em silêncio, sentada no banco de frente, enquanto que ele fica num dos dois bancos que têm atrás.
— Hadazu?
— Eu estava pensando num jeito, mas preciso primeiro pensar num modo de descobrir onde fica esse seu planeta, Cido. Não basta saber sua localização cósmica, coisa que agora sei. Preciso dos códigos do planeta pra localizá-lo no Ìtom. E antes que pergunte o que é, o que esperava que o fizesse...
— Pode ter certeza.
— Pois é,... Ìtom é a origem de todas as coisas. Tudo que que existe no Cosmo, vem a existir primeiro no Ìtom. Se a coisa não está lá, é porque ela não existe.
Ela tira o controle do manual apertando alguns botões no ar logo acima do painel, e passa a controlar a nave por completo com os olhos, saindo do túnel, e teleportando a nave com eles dentro para uma espécie de casulo mecatrônico, enquanto que eles ouvem sons de fortes explosões abafadas vindo do lado de fora.
— Não se preocupe...fizemos uma parada de segurança. Pra podermos viajar entre dimensões, Cido, a única forma possível é entrando em Ìtom, e depois nos dirigirmos pro caminho de nossa escolha. O problema é que eu ainda não sei qual o caminho que leva à sua dimensão, mas se a sua vinda pra cá foi mesmo totalmente arquitetada por Jasmim, então certamente ela sabe. Caso não saiba, não se preocupe...basta desintegrarmos você em um bom laboratório que descobrimos de qual parte de Ìtom você pertence.
— Desintegrar? Tá brincando, né?
— É... acho que estou dessa vez. Você faz tantas perguntas que às vezes tenho a impressão que posso responder qualquer coisa que você vai acreditar.
— Não pense que sou tão burro assim.
— Ah, desculpe... eu não queria ofender.
— Não me ofendeu. Estou brincando com você também.
O som do lado de fora cessa e a nave para de chacoalhar.
— Acho que podemos ir. Vamos nos encontrar com Jasmim.
E desse jeito os dois fazem sua longa viagem repleta de atalhos.
Finalmente conseguem sair do emaranhado de túneis, rochas, vácuo e chamas, e mergulham dentro de um universo comum, feito de planetas e estrelas, como os que costumam ser habitados pelas formas de vida de carbono.
Cido fica maravilhado com a singular visão de constelações e planetas que eles circundam ao entrarem no sistema solar de destino, desviando por fim à um colossal planeta cinza, sem vida aparente.
Conforme se aproximam, Cido passa a ter a impressão de que o planeta é todo feito de aço ou material semelhante.
— Chegamos, Cido. Aqui você estará seguro, mas caso nos separemos, e alguém lhe faça perguntas, responda com "não sei" sempre que puder, está bem? Quanto menos gente souber sobre quem você é, melhor.
O veículo deles se aproxima da superfície metálica do planeta, e pousa por fim. Logo é criada uma área retangular luminosa abaixo do veículo, que passa a servir de elevador, afundando a nave pra dentro do planeta, tampando imediatamente o local de sua entrada.
Após uma espera de 5 segundos Hadazu se comunica com alguém via remota, e o controle do veículo volta pra ela, que vai voando pela atmosfera repleta de vapores da estratosfera do gigantesco planeta.
Perplexo com a colossal visão da viagem até a real superfície do planeta, Cido solta diversas exclamações e faz inúmeras perguntas sobre o que seria cada coisa incomum que ele via durante a viagem.
De fato, haviam diversos equipamentos plainando na atmosfera, e por dentro, ao se olhar para o céu de onde eles vieram, podia-se ver um claro universo em movimento, aberto pra ser contemplado por todos. Pra Cido, ver o universo em movimento de forma clara, e não escura, é uma estranha novidade.
O universo exterior era claro, com se fosse iluminado pelo sol, mas mesmo assim se podiam ver todas as estrelas e galáxias próximas, num estupendo panorama cósmico surreal.
Logo Cido entendeu que o planeta inteiro era fisicamente protegido do espaço exterior, mas enganou-se ao pensar que o "teto" artificial do planeta reproduzia um céu de mentirinha pra encantar os olhos de quem estivesse na superfície do planeta. Isso porque de fato é a própria atmosfera do planeta que dá esse efeito, e o teto, na verdade, é transparente por dentro.
Não se podiam enxergar os oceanos, pois estes eram tampados em toda sua extensão por mais outra camada metálica luminosa que fica à dois quilômetros de altura da superfície marítima.
Era um planeta 100% coberto por tecnologia em todo seu interior.
O veículo estaciona na superfície marítima, em uma gigantesca estrutura cercada por diversas cidades dispersas no mar. Algumas na superfície, outras logo acima, no ar, flutuantes, outras visivelmente abaixo do cristalino mar.
Cido não chegou a ver terra firme em nenhum momento durante a viagem, o que o estava deixando deslocado de corpo e alma.
Estar em um universo amplamente distinto de seu habitat natural é pra qualquer ser vivo uma experiência inquietante e instável. O sentimento de saudade da terra natal se torna crescente, como uma necessidade de extravasar alguma coisa, e Cido sentia essa agonia em sua alma, mesmo apesar de estar encantado em ver tantas maravilhas.
Os dois saem por fim do veículo, enquanto Cido terminava de fazer alguns ajustes em um tradutor que durante a viagem no espaço, Hadazu lhe acoplou no ouvido e na garganta, pelo lado de fora. Assim, ele poderá se comunicar com os seres de todos os planetas locais. E suas roupas também foram trocadas pra disfarçar o cheiro de seu corpo...pelo menos um pouco.
Três pessoas verdes educadas e receptivas recepcionam a dupla e os conduzem até uma grande sala de espera.
Distraído com tantos detalhes estranhos, Cido não havia percebido antes que Hadazu havia ficado completamente verde, igual aos nativos, e suas orelhas e forma mudaram bastante também. Ele olha pras suas próprias mãos, e as vê mudadas igualmente.
— Que cara é essa? Eu te disse que isso ia acontecer, agora fique calmo. — recomenda a jovem bruxa.
— Eu havia me esquecido. Tá. — diz ele, controlando a surpresa.
Ela havia explicado pra Cido no espaço, durante a viagem entre dimensões, que suas assinaturas moleculares precisariam ser modificadas temporariamente pra evitar rastreamento em virtude da fuga. E como agora eles estão em um planeta dentro dos registros oficiais, precisam utilizar deste subterfúgio.
Inclusive ela se apresentou na entrada com registros falsos.
Não houve obstáculo algum pro veículo de Hadazu entrar no planeta porque havia um enorme e contínuo fluxo de naves e também pequenos veículos como o deles entrando e saindo constantemente no planeta, e ela sabia que identificação usar.
— Olá consultores! Podem entrar agora. — diz uma das humanoides verdinhas, abrindo a porta de um elevador com a palma da mão à distância do sensor.
A dupla entra no elevador ao lado da acompanhante e são conduzidos alguns andares abaixo em diagonal.
— É por aqui, podem ir agora.
— Obrigada.
E assim, os dois vão caminhando sozinhos por um silencioso, escuro e longo corredor.
— Tem certeza de que é...
— Falar o mínimo, lembra? — repreende ela o terráqueo.
Ele não responde, compreendendo a importância da recomendação. E assim os dois prosseguem até pararem frente à uma parede.
Hadazu aciona um comando gesticular e uma grande porta se abre, conduzindo-os à um enorme e luxuosíssimo salão com várias pessoas que não estavam verdes dentro.
Logo, logo a dupla começa a perder o esverdeado assim que a porta se fecha atrás deles, e lhes aparece Jasmim e outros pra cumprimentar.
— Então aqui está nosso herói. — diz um velho de cabelos, barba e bigodes igualmente longos e brilhantemente brancos, totalmente vestido de uma manta branca, com uma espécie de cinto verde e um tecido semelhante ao que Hadazu usa na orelha, e de cor verde.
— Cido... este aqui é nosso rei estelar, A-Èdro, nossa autoridade máxima. Não precisa de reverências... — acrescenta — Esta é Jasmim, que você já conhece. Este é meu irmão, Cintillo, e este é o rei Tàmèq, da raça de Jasmim.
Todos os que não conheciam Cido notam as diferenças e semelhanças entre ele e os verdadeiros humanos. As semelhanças estão na aparência física, exceto por pequenas nuanças nos olhos, crânios e feições de um modo geral, e também na postura e linguagem corporal. Mas a maior das diferenças está na própria alma, o que é nitidamente perceptível mesmo à distância por todas as três raças presentes naquele salão, pois todos ali possuem uma sensação íntima quase que física quando encontram algum ser com alma por perto, mesmo que esteja fora do alcance da visão, mas quando olham pra Cido, eles não sentem isso: a sensação é a de que não há nada ali, e isso os deixa impressionados.
Até mesmo os humanos que se encontram naquele salão sentiram essa estranheza ao olharem pra Cido.
— Irmã! Minha querida! Como foi? Está tudo bem? — diz eufórico Cintillo, vindo de trás, abraçando-a.
— Com um pouco de raiva, e com questões a fazer, mas estou bem sim, irmão. — responde com um olhar de leve mistura entre desprezo e indignação fixados em Jasmim enquanto dizia estas palavras pra ele em resposta. — E você? Sabia com antecipação também do que ela fez comigo? Todos vocês sabiam, pelo visto. — acrescenta, olhando um por um com olhar desconfiado.
— A ideia foi minha. Eu não quis compartilhar a ideia com mais ninguém porque foi tida de última hora, Hadazu, me perdoe. — diz Jasmim, prevendo que sua amiga já devia ter deduzido o plano da traição simulada. — Mas se eu dissesse pra alguém, pra qualquer pessoa que fosse, o plano não daria certo.
— Você queria minha riqueza e armou pra eu comprar seu resgate com um terço do que é meu pra eu não morrer num plano de morte armado por você mesma, como pôde ter ido tão baixo, Jasmim?
— Não me acuse assim! A ideia do dinheiro surgiu na hora. Não foi pensando nisso que eu armei sua prisão.
— Retire o pedido do pagamento!
— Eu acho que ela não pode, Hadazu. — interrompe o rei estelar — Pois nosso plano não era resgatar você. Isso foi iniciativa de Jasmim, o crédito é dela.
— Está bem, se é assim... palavra é palavra. — consente ela, resignada e frustrada.
O rei estelar, que era o líder maior dos Regentes...a autoridade máxima que existia em todos os universos, passou pro lado da ruptura, perdendo assim seu posto de Rei da Colônia dos Regentes, e passando a ser chamado de Rei Estelar da Ruptura.
A Ruptura conta com um exército de 63% dos ocupantes da recém-dividida Colônia dos Regentes, portanto as chances de eles saírem vencedores daquele confronto inicial pareciam ser matematicamente favoráveis, e eles continuam atordoados com tamanha inesperada derrota, diante da impossibilidade de tomar o controle da Estação de Coordenação. Nem mesmo o fato de o Rei estar a favor dos golpistas foi o bastante para garantir a vitória, e eles se reúnem para debater sobre a derrota recém-ocorrida que lhes obrigou a ter de fugir.
– O que afinal deu errado, A-Èdron?
– Havia um sistema de segurança secreto que me impedia de tomar os códigos das armas. Este mesmo sistema adicionalmente tirou de mim o posto de Rei, passando-o pro vice, assim que minha tentativa fracassou. Tive sorte em escapar junto com vocês.
O rei Tàmèq, dos Orú do povo de Jasmim põe a mão no ombro do rei A-Èdron:
O que importa é que estamos todos juntos nisso. Não se preocupe, porque enquanto assim permanecermos, não haverá como eles nos atingirem.
– O que faremos agora? – questiona Cintillo, irmão de Hadazu.
Neste momento o rei Tàmèq começa a caminhar em volta do grupo:
– Diga-me Jasmim... Quem teve realmente a ideia de localizarmos os golems não foi exatamente você, estou certo? Você não teria como saber disso sozinha... ou teria?
Assim que ela estava pronta a responder com um sorriso, logo é interrompida por Tàmèq:
– Fui eu, com ajuda de Cintillo, que roubou os arquivos secretos antigos da estrela Fito_Reo. Graças à isso, pude entrar em contato com Hórus, um dos antigos arquimagos que se esconderam na dimensão de Cido. Ele achou injusta a antiga decisão do extermínio dos golens, e decidiu levar um grupo consigo pra ficar a salvo por lá. Até hoje ele está lá, escondido entre eles. Entrei em contato com ele assim que peguei os arquivos, e ele me deu a localização do planeta, instruindo-me sobre o que ser feito.
– Mas e quanto aos arquivos? – indagou Hadazu – e se os Regentes descobrirem?
– Eu os modifiquei. Não há como rastreá-los mais. Irão andar em círculos e nunca acharão a dimensão de Cido. – responde Cintillo.
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O Precipício da Discórdia - A Saga de Cido
AventuraCido é um discente cético e materialista, que é surpreendido pelo inesperado, contrariando tudo que acredita.