Capítulo 7 - Viagem ao Inferno

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– Ele têm mais com o que se preocupar agora, Hadazu. – complementa A-Èdron. – Mas principalmente nós. Nosso Universo continua viajando pra Nêmesis, e assim que chegarmos não terá mais volta. Temos que voltar pra Esóqua e reaver o controle da Linha do Equilíbrio.
     – Desculpem-me... eu sei que vocês estão com problemas, mas... como eu poderia voltar pra minha casa? – intromete-se Cido com um pouco de receio.
     – Dentro de quatro dias, Cido,... não haverá mais Terra pra voltar, caso fracassemos de novo. A sua dimensão está dentro desse mesmo Universo que é o nosso, e ele está em rota de entrada em Nêmesis.
     – Nêmesis? É uma estrela?
     – Quem dera. Considere o Universo como uma lagarta que vive mil vezes o período de 15 bilhões de anos. Sua dimensão, por exemplo, existe há cerca de 15 bilhões de anos. A cada ciclo de mil vezes esse tempo, todos os Universos entram em Nêmesis empurrado pela força das Linhas do Equilíbrio. Digamos que essa lagarta, que é nosso Universo, virará uma bela borboleta quando entrarmos em Nêmesis. Até aí parece algo bom. Mas o problema é que nesse processo, todas as formas de vida desse Universo são destruídas, e é isso o que queremos evitar. Já os Regentes acreditam numa religião que diz que nossos espíritos serão transmutados e sobreviverão ao processo. Nós não acreditamos mais nisso devido a descobertas recentes e resolvemos tomar o controle da direção em que vai nosso Universo, em nome da sobrevivência de todos.
     E Jasmim completa:
     – Mas pra reavermos este controle, meu amigo, precisamos ter o domínio das três Linhas do Equilíbrio, que são as forças que movem todas as coisas. Nós já possuímos a Linha Neutra. Falta a Positiva, que está com os Regentes, que fracassamos em recuperar, e também a Negativa, que está no Inferno, onde é loucura tentar ir.
     – Mas vamos tentar, e é nossa última chance. – acrescenta Tàmèq – E quanto a você, Cido, se nos ajudar, poderá voltar pra sua casa daqui a três dias, quando as elipses das órbitas de seu planeta e do de Esóqua se realinharem. O que me diz?
     Ainda um pouco confuso, mas já entendendo melhor sua situação e a de seus anfitriões, Cido vê que só tem como alternativa aceitar as condições:
     – Então, terei que voltar a Esóqua?
    No que Tàmèq acrescenta:
    – Sim, mas só daqui a três dias. Mas de nada adianta irmos pra lá novamente sem termos o controle da Linha do Equilíbrio da Negatividade antes. Portanto não há tempo para reflexões. Devemos ir imediatamente para o Inferno.
     Uma voz chama o grupo pra a reunião, e todos tomam seus lugares.
     Dentro daquele grande salão não haviam cadeiras nem mesas. O que haviam eram pequenas elevações no chão para cada pessoa  colocar os pés...elevações de pouca altura, como se fossem pisos de cerâmica que se iluminavam ao toque.
     Cintillo instruiu a Cido como se posicionar, e lhe explicou que aquilo é tipo um enorme salão para teleconferência, coisa que ele perfeitamente entendeu.
     Assim que cada pessoa tomou uma posição, logo uma espécie de dodecaedro luminoso surge encapsulando cada pessoa, e todos pareciam estar flutuando em um lugar cheio de estrelas, como se estivessem no meio do espaço sideral.
     Alguns ficavam de cabeça pra baixo...outros de lado, e cada um movia seu corpo livremente dentro do dodecaedro quando queria olhar para o outro lado pra ver alguém que estivesse falando.
     Além dos movimentos voluntários que eles podiam fazer, havia também um sincronizado movimento circular de todos os dodecaedros, como se todos estivessem dentro de uma bola invisível gigante flutuando num espaço sem gravidade, mas sem desconforto algum.
     O número de pessoas que se podiam ver ali era realmente enorme...muito maior do que a quantidade de pessoas naquele salão, lugar onde eles não pareciam mais estar.
     Em cada uma das doze faces do dodecaedro aparecia o rosto da pessoa que estava dentro dele para quem olhava o dodecaedro alheio pelo lado de fora.
     As pessoas ali tinham plena liberdade de se moverem pra cima, pra baixo, esquerda, direita, etc.
     A-Èdron logo se fez ouvir por todos os representantes que ali o apoiavam:
     – Um imprevisto infeliz nos impediu de tomar a Linha Positiva, mas ainda temos três dias, e já possuímos a Linha Neutra!
     Todos admiravam enquanto ele mostrava o receptáculo contendo a luz da Linha do Equilíbrio, que ele havia conquistado horas antes de Cido surgir naquela dimensão. E ele continua:
     – Mas dessa vez nossa estratégia deve ser irmos primeiro pra Quábates onde fica o Inferno e pegarmos a Linha da Negatividade. Em seguida voltaremos pra Esóqua, mas dessa vez iremos mais preparados, com força total e melhor estratégia, e então a Linha da Positividade será nossa, e nenhuma de nossas raças precisará mais temer a extinção!
     Um dos humanos surge, indagando:
     – Como, A-Èdron... como pretende subjugar Quábates, se nem mesmo aos Regentes, quando estavam todos reunidos jamais conseguiram esse feito no passado? Mesmo com nossa ajuda, vocês não conseguiram. Como então, com apenas 63% de suas forças vocês pretendem conseguir dessa vez essa loucura? Sabe muito bem que tecnologia não funciona em Quábates. Somente misticismo e força bruta.
     – Tenho um pequeno plano, e é essencial que todos vocês conheçam imediatamente, porque pra ter sucesso, ele deve começar a ser posto em ação a partir de agora.
     Tàmèq toma a palavra:
     – Somente combatentes com força bruta e os de encantamentos podem entrar no planeta-guardião localizado na galáxia de Quábates. Mas precisaremos dos transportes mecânicos pra aterrissar no planeta-guardião do Inferno. Nisso precisaremos da ajuda dos humanos, que são detentores de tecnologia pra tal invasão.
     – Quanto a isso tudo bem. Cuidaremos do transporte e da proteção e do isolamento do planeta. E quanto ao grupo de invasão? – pergunta o humano. – O Castelo do Tormento que guarda a Linha da Negatividade tem proteção mágica. Somente com a autorização do Rei do Inferno é que se pode entrar lá, e ele já se negou a ajudar. E além disso, toda a cidade é guardada.
     – Hadazu, eu e Jasmim podemos entrar na galáxia, pois temos um acordo. – responde Tàmèq. – Mas só podemos ir em grupos pequenos de até três pessoas. Temos um código pra usar para que eles nos deixem chegar ao planeta-guardião sem problemas. O resto do Esquadrão poderá pegar carona vindo atrás de nós e surpreendê-los. Mas tudo deve ser sincronizado!
     – Faz sentido! No espaço os demônios não podem nos restringir tanto quanto fazem no planeta. Seu plano é bom, mas é dentro do Castelo do Tormento que eu quero saber como vão entrar.
     Jasmim dá uma risada e responde:
     – Temos um pequeno... digamos... grande trunfo chamado Cido, nosso golem particular.
     A partir de então, em meio a uma grande surpresa e comoção, todos entram num debate acalorado, surpresos pela novidade vinda de um passado tão remoto e esquecido.
     Ficou combinado, no final das contas, que Cido seria a chave pra quebrar o campo de força mágico que protege o castelo.
     Se há cerca de 45 bilhões de anos atrás quando houve a primeira e única batalha contra o Inferno, os Regentes tivessem apoio dos golens, provavelmente teriam vencido a batalha. Mas infelizmente, na ocasião não tinham, e tiveram de recuar e declarar paz por tempo indefinido, aceitando as mazelas criadas pelo inferno, e espalhadas por todas as galáxias e dimensões do Universo.
     Já na época da criação dos golens, há cerca de 15 bilhões de anos atrás, os inimigos eram outros, muito mais poderosos, vindos de outro Universo, e a criação dos golens foi a salvação de todos. Todas essa coisas pertencem agora a um passado que fora por tanto tempo esquecido por todos os presentes vivos, que não presenciaram tais fatos pessoalmente.
     Enfim, a reunião chega ao seu término, com todos já sabendo da função de cada membro a ser desempenhada com a mais perfeita sincronia e adiantamento.
     A Tropa de Assalto que entrará no Castelo do Tormento pra roubar a Linha e fugir de lá será composta por Cido, que deverá ser protegido e escoltado por Hadazu, Cintillo, Jasmim e Tàmèq diretamente, e indiretamente por outros 772 guerreiros.
     Já as frotas espaciais se dividiram em duas: uma pra proteger e escoltar a Tropa de Assalto, e outra pra cercar, tentar invadir, enfraquecer e distrair as cercanias do planeta Esóqua, pois os Regentes, assim como os humanos, possuem uma tecnologia que consegue fazer  um planeta ou até mesmo um sistema solar inteiro se esconder em outra dimensão, ou simplesmente ficar invisível e totalmente transponível, ou se deslocar fisicamente pra outra galáxia. Portanto, a função dessa segunda frota é exatamente a de realizar um bloqueio, impedindo a fuga, e impedindo que exércitos inimigos se juntem pra reforçar as defesas dos Regentes.
     Exatamente conforme o combinado, Hadazu envia um pequeno carro solicitando passagem, simulando estar dentro dele. Sem levantar suspeitas, seu carro passa atravessando o sistema, abrindo passagem pra Frota de Escolta, que imediatamente lança um ataque mecânico usando asteroides artificiais na cidade a partir do espaço.
     A intenção da Ruptura Regente é destruir toda a cidade e também o Castelo do Tormento.
     Eles não se preocupam com a destruição do receptáculo onde está aprisionada a Linha da Negatividade... não pelo menos por enquanto, porque este receptáculo só serve pra movê-la de lugar.
     Nas Leis da Natureza, ou Leis da Física Quântica segundo os conhecimentos dos Regentes, a essência de toda a energia-matéria, e de tudo o que há ou que possa vir a ser, é formada de três elementos não-físicos e não-energéticos, e não definitivamente considerados propriamente existentes chamados Linhas do Equilíbrio.
     Foi descoberto há trilhões de anos atrás que essas linhas é que geravam tudo o que é energia, matéria, fibra-pré-quântica, pôças-lumón  e bolhas sinergéticas que são os componentes de tudo o que há, que pode vir a ser e do que não é em termos existenciais da Física e metafísica. Sabe-se que essas mesmas linhas é que ditavam o movimento aparentemente desordenado e caótico das coisas, inclusive de Universos inteiros, com todas as diversas dimensões nele contidas, exceto a famosa Dimensão do Chaos, que é alheia e independente da existência dos diversos universos e que está do lado de fora destes.
     Há três tipos de Linhas: Positivas, Negativas e Neutras, e delas surgem todas as coisas.
     Depois de um tempo descobriu-se que essas linhas eram como um sistema nervoso de um animal, e que em certas partes do Universo elas se conglomeravam, formando uma espécie de centro nervoso ou chakra universal, cada um dos três com uma das polaridades.
     Assim, com o passar do tempo, estudando essa propriedade da estrutura básica do Cosmos, inventaram um modo de encapsular esses centros-nervosos, ou chakras universais, e descobriu-se que o Universo pode ser movido à revelia de quem controlasse tais Linhas.
     Portanto, a destruição física do receptáculo não representa problema algum pro Universo. E se alguém quiser encapsulá-lo novamente, isso pode ser feito sem dificuldades.
     Para a Ruptura Regente seria até interessante destruir logo o planeta inteiro, mas isso não é possível de ser feito porque tecnologia não funciona pra destruir ou atacar astros daquela galáxia de Quábates. Nenhuma lua, planeta ou asteroide ou estrela daquela galáxia podem ser atingidos por tecnologia, pois há uma proteção natural naquele lugar.
     No entanto, uma luta tecnológica nave-contra-nave é possível se for realizada no espaço. E é exatamente isto o que começa a acontecer com a chegada da Frota de Escolta. O ataque contra a força vem das próprias forças infernais, que é realizado por naves ovais com uma boca enorme cuja função é colar fisicamente nas carcaças das naves mãe inimigas e começar a derreter suas carcaças, dizimando assim suas tripulações que costumam ser jogadas no espaço já sem vida.
     Essa parte onde fica a boca é imune à ação desintegradora dos campos de força e à qualquer ataque físico ou energético.
     As únicas formas de se livrar das bocas é ou fugindo, ou destruindo os motores das naves que as conduzem, ou mesmo invadindo a nave por trás, que é a parte mais vulnerável.
     Os monstros infernais que tripulam as naves espaciais de Quábates têm um formato semelhante à gárgulas com caudas, tendo uma cabeça sobre o pescoço, e outra na cauda com antenas, tipo uma metade gárgula com asas e outra metade lacraia, formando uma espécie de híbrido ou quimera. Suas naves são projetadas pra essas criaturas, que trabalham em duas funções ao mesmo tempo cada, com um painel à frente, para controle do cérebro da metade do gárgula, e outro painel atrás, para controle da metade lacraia.
     Esse mesmo tipo de quimera povoa boa parte dos planetas dessa galáxia, mas não o planeta de destino dos invasores.
     Apesar da enorme boca das naves ser sua mais poderosa arma, as naves das forças infernais possuem praticamente o mesmo poder de fogo dos Regentes. Por esta razão, e também por estarem em menor número, a Frota de Escolta não pode aguentar ali por muito tempo, e evita ao máximo um confronto direto e decisivo, utilizando-se das famosas manobras de subterfúgio que costumam prolongar qualquer batalha no espaço, para dar tempo à Tropa de Assalto de sair do planeta com vida.
     Como é difícil para as forças infernais conseguirem uma colisão física de sucesso com a boca nos inimigos, sua arma mais frequente é o controle territorial ao redor das naves da Frota. Esse controle territorial se dá por lançamento de minas de alto poder destrutivo. Algumas propositalmente visíveis, outras não. Dessa forma, eles vão restringindo cada vez mais o espaço por onde as naves da Frota de Escolta podem usar pra fugir ou desviar de plasmas, feixes, bombas, campos energéticos, semi-gravitacionais e vírus de todos os tipos imagináveis.
     Os vírus mecânicos, por exemplo, são algumas das armas mais destrutivas do Universo. São ondas invisíveis que corroem tudo ao redor da nave atacante, obrigando as naves defensoras a responderem com a mesma arma exatamente na mesma frequência, do contrário, toda e qualquer matéria e energia torna-se inexistente imediatamente se for atingido. Por muito tempo, este tipo de arma foi dominante, e posteriormente, proibida, mas todos tiveram que consentir em usar pela força das coisas.
     Portanto, cada nave de guerra utiliza diversos tipos de armas de força defensivos e ofensivos e mistos, conforme sua utilidade e necessidade.
     As naves também se utilizam do uso de  invisibilidade totalmente indetectável, mas não-transponível, ou seja: mesmo invisível, continua sujeita a ataques, ao contrário da invisibilidade não totalmente indetectável, mas que é totalmente transponível. As naves utilizam também de teletransporte da nave por inteiro de um ponto a outro dentro do campo de combate. E também elas podem viajar entre dimensões, ou mesmo bloquear a entrada para que as naves inimigas não entrem em determinadas dimensões sem serem surpreendidas por armadilhas, como minas explosivas.
     Como dentro da atmosfera do planeta, nenhum sistema elétrico ou qualquer coisa tecnológica funciona, o único modo de sair do planeta de volta ao espaço é através de elevadores mecânicos que sobem até o espaço onde ficam as naves em órbita. Portanto, o resgate deve ser perfeitamente sincronizado.
     Pra entrar no planeta há dois métodos: já que naquele planeta teletransporte também não funciona, seria então através ou dos elevadores, ou sendo jogado dentro de cápsulas ou aeronaves movidas mecanicamente.
     Mas como aquele planeta não permite o voo por aeronaves mecânicas pelo fato de seu ar ser peculiar, o único modo que lhes restou foi queda-livre dentro de cápsulas protetoras. E foi isto o que fizeram. Era praticamente uma cápsula pra cada um.
     Assim, os  777 guerreiros caem em plena Cidade do Tormento. Mas um pouco antes, a Ruptura Regente havia lançado uma pequena chuva de meteoros artificiais sobre o Castelo do Tormento, pra testar e ver se era possível mesmo destruí-lo a partir do espaço, mas foi sem resultado.
     Realmente, eles viram que o famoso escudo-mágico existia de fato, e as rochas artificiais foram transformadas em gelo e se quebraram.
     As cápsulas dos 777 iam caindo feito estrelas cadentes e de dentro de cada uma delas, seus tripulantes já podiam avistar a superfície magmática do planeta. O solo era parte enxofre, parte carvão e pó. Haviam rios de lavas vulcânicas por toda a parte. Mas haviam árvores de um estranho material que se parecia de certo modo com xisto, porém meio sólido com aspecto perfeitamente igual à de uma árvore comum, porém negra.
     A cidade onde eles caíram era como se fosse um enorme pátio de frente ao Castelo, cheio de casas e pequenos prédios e objetos mecânicos diversos, alguns dos quais foram destruídos pela queda de algumas das cápsulas.
     Assim que Cido cai, e sua cápsula se abre, um verme gigante pula em sua cabeça com os dentes, e ele instintivamente se transforma novamente em golem gigante de 15 metros de altura feito de pedra.
     – Muito bem, Cido! – grita Cintillo com uma enorme espada de fogo dourado parecendo o sol na mão direita. Ele voava livremente assim como sua irmã Hadazu, somente com gestos de mãos e pés que direcionavam o voo.
     A raça dos Regentes consegue voar assim mesmo sem ter asas, porque eles vieram da Dimensão Zero, que é o lugar considerado o útero do cosmos, pra onde os buracos-negros lançam sua matéria, formando novas vidas como a espécie de Hadazu.
     A Dimensão Zero é como se fosse um infinito oceano onde as mãos e os pés servem de barbatanas pra determinar a direção do “nado” ou voo.
     Todas as dimensões do plano da existência estão contidas e permeadas de certo modo pela Dimensão Zero. Portanto, a raça dos Regentes sempre podem “nada” ou voar livremente quando quiserem.
     Cido esmaga o agora pequeno verme com o pé. Todo o grupo de descida é imediatamente atacado por uma incrível horda de criaturas demoníacas do pior tipo: alguns gigantes, uns brutamontes, outros minúsculos e aqueles com habilidades em encantamentos.
     O grupo dos cinco, composto por Cido, Hadazu, Jasmim, Cintillo e Tàmèq se reúne. Tàmèq, além de ser rei, é também um feiticeiro como Jasmim, pois são da mesma raça de fadas arruinadas e amaldiçoadas, transformadas em semi-humanos, incapazes de usar os poderes da luz como usavam antigamente antes de terem sido transformados.
     Foi com essa raça arruinada que Hadazu aprendeu a usar a magia-negra, e portanto, agora ela também passou a ser uma bruxa, mas sem compartilhar da maldição.
       Hadazu é portanto a mais versátil guerreira do grupo, pois possui habilidades dos magos, aprendidas das fadas e arcanjos, habilidades tecnológicas dos humanos, e habilidades de azaração e magia negra, aprendidas com os Orú, atual raça arruinada de Jasmim e Tàmèq, e alguns diabos.
     Os demais 772 membros da Tropa de Assalto são em sua maioria arquimagos humanos e regentes, Siínus sem cabeça e Orús.
     O Espírito da Discórdia aparece na frente de Tàmèq neste instante, mas somente ele pode ver:
     — Estamos em retirada, Tàmèq. Fizemos nossa parte no acordo. Sabe o que lhes acontecerá se não cumprirem vossa parte!
     — Nós cumpriremos.
     Imediatamente, o Espírito da Discórdia desaparece. Ele é um tipo de entidade pertencente a Dimensão do Chaos. Nem bom,  nem mau... apenas amante do caos e da desordem, pois é assim que é em sua dimensão. Dizem que a Dimensão do Chaos é um lugar infinitamente pior do que o Inferno, pois lá não há limite pra dor ou felicidade. Não há Leis da Física... não há leis dos vivos, nem dos mortos. É um lugar onde se pode ser feliz ou infeliz, mas cujos parâmetros não possuem ponto de comparação com o universo ordenado que conhecemos.
     Independentemente de serem boas ou más, todas as criaturas da dimensão do chaos amam a desordem, e sempre que visitam as dimensões ordenadas, sempre procuram criar tragédias, discórdias, traições e confusões... não por maldade pura e simplesmente... mas por se sentirem um pouco mais “em casa”, da mesma maneira que seres de nossa dimensão procuram agir, dadas as proporções e pontos de vista, quando acabam parando do lado deles.
     O formato do Espírito da Discórdia é triangular invertido e flexível como uma pipa, e seu corpo parece ser feito de chuviscos, semelhantes aos da televisão sem sinal, cinzas e pretos.
     Da mesma forma que o Espírito da Discórdia incitou a Ruptura Regente a ser gerada, ele também incitou um Levante do Inferno, dividindo suas forças, propagando sua desunião.
     Mas a dor e o terror local não concedeu sucesso duradouro ao Levante do Inferno, e tão logo surgiu, em poucas horas ruiu, mas ruiu somente neste momento propício, em que a Ruptura Regente chega, encontrando a Cidade do Tormento cm um quarto da sua guarnição habitual.
     Ainda assim, mesmo cientes por antecipação de que seriam favorecidos de tal forma, eles não esperavam tamanha guarnição defensora.
     O ambiente em que se encontravam era de gelar os ossos e a alma de terror, apesar do calor exacerbado que em muito se aproxima da temperatura do núcleo derretido de qualquer grande planeta. Os rios de lavas contornando o local e erupções vulcânicas constantes nas proximidades, além do ar ácido, cuidavam do clima eternamente hostil e abrasivo do local.
     Além das grandes hordas demoníacas, ainda haviam em três vezes seu número pequenos diabinhos com asas de morcego que pegavam lava vulcânica dos abrasivos rios em tigelas e espirravam, jorravam ou cuspiam nos invasores, ora rindo, ora xingando-os. Esses diabinhos eram por demais velozes e eram de longe o tipo mais numeroso de criaturas do local.
     A temperatura da lava que era lançada na Tropa de Assalto era suficiente pra derreter qualquer metal comum instantaneamente, até porque esta não era um tipo de lava vulcânica comum feita de rocha ordinária derretida: ela é feita de um componente rochoso, porém de um material muitíssimas vezes mais pesado, nocivo e tóxico.
     Todos os demônios do inferno são imunes à temperatura da lava, inclusive os diabinhos alados, que costumam pegar um pouco com uma das mãos e espirrar nos olhos dos Orús e dos Regentes, às vezes até acumulando dentro da boca e cuspindo nos olhos deles, e depois fugindo gritando coisas como:
     — Já acabou!
     — Já morreu!
     — Asqueroso!
     — Vencemos!
     — Consegui! Consegui!
     E assim continuavam os diabinhos alados cantando vitória mesmo antes da batalha sequer começar até o último suspiro da mesma, como de costume desta casta.
     Os demônios eram comandados pelos Imortais do Inferno que possuíam 30 metros, ou de comprimento, ou de altura, conforme seu formato individual, que variava de criatura pra criatura, podendo variar desde um quadrúpede até uma serpente voadora ou humanoide gigante.
     Hadazu, armada e cheia de poder como está agora, possui poder suficiente pra derrotar qualquer um destes Imortais do Inferno sozinha se ela estiver bem preparada, determinada e em igualdade de condições, mas mesmo assim, seria uma luta exaustiva que levaria dias, literalmente, pra acabar. Portanto, a pressa do grupo não dava tempo pra uma luta de vida ou morte ali.

O Precipício da Discórdia - A Saga de CidoOnde histórias criam vida. Descubra agora