O rei ergue sua mão e o indicador direito, e logo atrás de seu trono uma enorme porta se abre revelando uma grande redoma de cristal no teto com quatro tubos que descem conduzindo a energia dourada roubada das fadas pra dentro do pequeno conversor que usa a energia dourada das fadas pra criar um universo alternativo onde é possível que elementos tecnológicos funcionem. E dentro desse conversor, inserido neste universo sintético, se encontrava o Receptáculo da Linha, visível ali agora pra todos.
Jasmim e o rei vão até o receptáculo dentro do conversor, que o rei entrega nas mãos da Orú Jasmim.
— Podem levar pra onde quiserem, contanto que me devolvam em três dias e ela fique aqui como garantia. — disse o diabo.
Jasmim se dirige ao grupo com o Receptáculo nas mãos, quando a fada Kobiche olha ora pro conversor, ora pra Cido, até que ela entende finalmente que sua energia roubada não era somente pra dar vida aos titãs, mas especialmente era o segredo pra conseguir abrigar a Linha, fazendo o Receptáculo funcionar. Ela teve a ideia de entrar no miniuniverso alternativo onde está o Receptáculo, com o teleportador de fuga de Hadazu em mãos e ativá-lo lá dentro.
Ela faz sinal pra Cido lhe dar a mão pra que ela pudesse usar suas propriedades anti-magicas pra ajudar a fadinha a entrar no miniuniverso, coisa que ela consegue fazer rapidamente, ativando o equipamento de fuga, tirando todos dali, sorridente.
Ela foi tão rápida e discreta, escondida pelo corpo de Jasmim, que o rei do inferno nem entendeu como eles conseguiram desaparecer daquela maneira.
O teletransporte funcionou perfeitamente, e Cintillo, Hadazu, Jasmim, Kobiche e Cido reapareceram do lado de fora do castelo.
— Podia ter nos teleportado pra fora do planeta, Kobiche, que coisa! — gritou Jasmim, furiosa, até que ela repara que Kobiche estava se deteriorando por causa do nocivo lugar em que ela ficou ali dentro daquele mini universo alternativo... Kobiche estava morrendo sendo desintegrada aos poucos.
— Eu não consigo sair... Estou presa aqui. — dizia ela telepaticamente.— O conversor está transformando minha vida em energia pra manter a Linha aqui funcionando. Se eu sair, fracassaremos.
— Por que não nos teleportou pra nave, sua estúpida? — rosnou Jasmim.
— E como íamos avisar nossos amigos aqui do lado de fora que já podíamos fugir? — responde a fadinha.
O grupo mal tem tempo de lamentar, até porque eles tinham que chegar até a nave no espaço antes que Kobiche morresse de vez.
— Finalmente vocês conseguiram! Foram mais rápido do que imaginei! — disse em voz alta e entusiasmado Tameq, contentíssimo ao ver o grupo, abraçando Jasmim, que de forma contrastante chorava.
O grupo voa pra cima deixando os Siinus pra trás. Eles quebram o teto, abrindo um buraco até a superfície, mas eram perseguidos pelo furioso rei e pelas outras criaturas. O rei se torna um gigante do tamanho dos titãs com uma espada enorme de fogo vermelho na mão esquerda, alçando voo com asas como que de morcego, mas ele é pego pelos três titãs, que estavam possuídos pelas fadinhas, que o puxam de volta pra baixo, junto do castelo, e ele contra-atacava os titãs cuspindo um estranho fogo, derretendo-os e cortando-os com a poderosa espada de fogo.
Cintillo se agiganta também ao mesmo tamanho dos titãs com asas de arcanjos, que o treinaram, e grita pras três fadinhas abandonarem os corpos dos titãs e se juntarem ao resto do grupo que já está na superfície, o que elas obedecem pronta e desesperadamente.
O rei vôa pra cima tentando golpear as fadas fugitivas, mas Cintilllo faz um voo rasante com a espada de fogo dourado brilhando como o sol, atingindo de surpresa o rei na cabeça, que desaparece como que por encanto.
Todos voltam e se reúnem na superfície, quando os arquimagos haviam acabado de sinalizar para o espaço, usando magias e bolas de fogo, e então, das naves espaciais são lançados elevadores feitos de cabos como que de aço, que todos se penduram e são içados ao espaço pra dentro das poucas naves restantes.
De todos ali da Tropa de Assalto, somente Cintillo era capaz de fugir do planeta voando, e portanto ele foi o último a fugir pra ajudar a todos os menos de duzentos sobreviventes.
Apenas duas das mais de mil naves conseguiram fugir da galáxia de Quábates, pois na fuga centenas foram pegas de surpresa em armadilhas e minas.
Já em segurança dentro da nave, Jasmim abre o conversor que abriga o Receptáculo, e retira o pó prateado do que restou do corpo da fada Kobiche, que se incandesce e sobe, brilhando e desaparecendo.
– É lamentável que ela tenha partido, mas agora temos duas Linhas. Vocês fizeram um brilhante trabalho. – disse meio sem jeito o líder dos humanos. – A-Èdron está adiante na nave mãe. Vocês já podem ir pra lá.
As duas naves da escolta se juntam a Frota de Invasão, que está invisível pra não revelar seu número, que é agora inferior ao número de tropas dos Regentes.
– Por que não destruímos o Receptáculo quando estávamos dentro do castelo, Jasmim? Assim a Kobiche não teria precisado se sacrificar. – perguntou Cido já na forma humana enquanto caminhava para a outra nave através de um veículo.
– Precisávamos daquele conversor pra fugirmos com o teletransporte, por causa do encanto do castelo. Não havia outro jeito. Além do mais, sendo perseguidos no espaço como estavam as naves de resgate, elas não conseguiriam ter tempo nem posição pra puxar a Linha pra dentro de si.
Todos chegam até a nave mãe onde está A-Èdron, o rei da Ruptura Regente.
As autoridades, assim como pessoas de cunho estratégico como Cido, Jasmim e Hadazu se reúnem em uma sala com assentos pra tecer os planos e expor a situação. A-Èdron conversa algo em particular com Cintillo, que consente e sai do local.
Todos os presentes saudaram e fizeram grandiosos elogios ao grupo de Cido e Hadazu, e explicaram que todas as naves, minas e equipamentos anti-fuga estão espalhados em um vastíssimo perímetro ao redor do planeta Esóqua, de modo que os Regentes não tem como fugir ou se teletransportar ou se transferir por outras dimensões, escondendo a Linha.
Todo tipo de contato e tentativa de negociação com eles foi frustrado, e os Regentes insistem que a ruína do Universo dentro de Nêmesisé benigna, apesar de fisicamente destrutiva para a matéria, e que o transcurso natural de certas coisas como esta não deve ser manipulado, segundo sua fé, e com um controverso respaldo científico.
Os Regentes estão poderosamente protegidos e seu exército é muito maior agora, portanto romper suas defesas é quase impraticável... se não totalmente impraticável!
As agressões ainda não tiveram um início, e todos estão reunidos, pensando e repensando estratégias pra furar as defesas.
No dia seguinte, frustradas novas tentativas de diplomacia, eles chegam à conclusão de que possuem como único recurso provocar uma nova ruptura, mas desta vez não seria uma ruptura dentro de determinado governo ou civilização, e sim em seu próprio Universo, ou se tiverem sorte, apenas nesta galáxia.
As defesas são poderosas demais, e em menos de quarenta e oito horas das que restam, a Ruptura Regente não parece achar outra alternativa: eles terão que curto-circuitas as próprias Linhas Neutras e Negativas que possuem, com os pequenos filamentos das Linhas positivas, às quais eles conseguem ter acesso por fora, e depois tentar fazer um remendo usando um Receptáculo. Isso é uma teoria altamente perigosa e potencialmente desastrosa, mas é a decisão que pairava na mente de todos.
Se aquilo provocar a ruína do próprio Universo antes de chegarem a Nêmesis, todas as almas ali teriam como único destino a Dimensão do Chaos, que é muito pior do que qualquer outra coisa... pior até do que Nêmesis e o Inferno juntos.
Durante outra das muitas reuniões, entra no salão pela parte de trás, Cintillo, carregando um humano pelo braço. Logo, A-Èdron é chamado e levanta-se pra ir conversar com os dois.
Após alguns minutos conversando, os três vão até a tribuna sob o olhar perplexo de absolutamente todos os presentes, literalmente boquiabertos, à exceção única de Cido... o único que não conhece o infame humano em questão.
Tratava-se do cientista Vàtav, um físico genial, que por curiosidade e iniciativa própria resolveu, há 20 anos atrás, testar uma teoria sem permissão, que dizimou duas galáxias e meia, e que até hoje está causando uma acelerada e crescente reação em cadeia imprevisível no grupo galáctico local, que continua em estado de isolamento e evacuação, teste este que foi feito em um conglomerado de galáxias seguramente longe dali.
O número de mortos é incalculável e impensável, e ele foi considerado o pior assassino que já existiu, sendo acusado de fazer experimentos em galáxias alheias e não na própria pra saber o que é perder familiares.
Foi condenado à morte na época, mas sua sentença foi suspensa de última hora pra sofrer outro tipo de punição: prisão perpétua.
Devido ao seu gênio sem precedentes, recebeu a oferta de A-Èdron e Cintillo de receber uma pena mais branda caso ajude a Ruptura a conquistar a Linha.
Após um aceno de A-Èdron, Vàtav começa a falar pra todos, usando um equipamento acoplado sobre sua cabeça que restringe todos seus pensamentos e movimentos, impedindo-o de realizar qualquer ato que possa ser nocivo a alguém aliado.
Ele continua uma pessoa perfeitamente saudável e autônoma, mas não possui mais capacidade de ferir ninguém aliado devido a sua restrição cerebral.
Sua aparência estranhamente não exprime nenhum tipo de abatimento em função da prisão, e ao contrário disso, ele demonstra um entusiasmo contido, como alguém que de certa forma estivesse preparando alguma coisa.
Com um ligeiro sorriso contido meio de lado e um olhar constantemente enigmático, ele explica à reservada plateia sobre uma segunda alternativa.
Ele se oferece pra integrar um novo grupo de assalto pra penetrar nas defesas, infiltrando-se através da Dimensão Quântica, pois os Regentes consideram o universo quântico como uma dimensão em particular, e o universo macroscópico, ou Dimensão Macroscópica como outra, mas sendo este um caso único de dimensões-irmãs, pois todas as demais dimensões não compartilham das famosas características que estas, em particular, compartilham entre si... daí serem chamadas de irmãs!
O problema é que a entrada em todas as dimensões está bloqueada, inclusive nesta. Vàtav sabe disso, e é aí que sua genial e controversa ideia entra: a de pegar um dos filamentos da Linha da Positividade(ou Linha Positiva), romper um trecho, e colocar em seu lugar um trecho sintético, levando-os diretamente pra dentro da fortaleza, inclusive pra dentro do próprio Receptáculo da Linha Positiva, caso queiram, e caso não haja perigo ou problema de fazerem isso!
Experimentos loucos como este são terminantemente proibidos pelas Leis de todas as civilizações, e foi justamente por ter feito algo assim, que Vàtav causara um verdadeiro desastre vinte anos atrás, que provocou sua prisão.
Graças a estudos posteriores ao acidente realizado em cima dessa teoria de Vàtav, que ra inovadora na época, passaram-se a realizar testes apenas simulados de suas perigosas teorias, e novos caminhos mais seguros, porém ainda arriscados foram encontrados. Então após certa discussão e alguma tensa demora na reunião pra encontrar e trazer outros especialistas e técnicos pra darem um aval, foi decidido aceitar a ajuda de Vàtav desse modo.
Devido à assustadoras lendas contidas no folclore local, todos tinham medo de entrar na Dimensão Quântica, até porque historicamente essa entrada é considerada como morte quase certa. Porém, Vàtav e um punhado de outros aventureiros e cobaias ainda continuavam vivos como exemplos de raros sobreviventes pra rechaçar essa fama de morte certa.
Pelo fato de as chances deles morrerem logo na entrada e também na saída dessa dimensão serem de aproximadamente cinquenta e cinco por cento, decidiu-se que o grupo que entraria nessa aventura suicida deveria ser pequeno, até porque pra levar um grupo grande, como por exemplo, toda a tropa de todos os guerreiros e armas da Ruptura Regente pra realizar um ataque ultra-surpresa por dentro, seriam necessários vários cortes, de enormes equidistâncias nas poucas Linhas Positivas das quais eles tinham acesso pelo espaço naquela dimensão.
Isto porque estas linhas e filamentos não permeiam todas as dimensões ao mesmo tempo. Geralmente são três por cada uma das mais de cinquenta dimensões existentes conhecidas, incluindo as dimensões naturais e artificiais.
É sabido que basta ter controle de pelo menos 86% ou 90% de todas as Linhas de uma mesma carga pra se poder mover o “Chakra Cósmico”, ou Linha do Equilíbrio com um receptáculo.
Eles mobilizam um número sem igual de cientistas e técnicos pra realizarem em poucas horas esse feito de criar um trecho sintético artificialmente de um dos filamentos da Linha Positiva, recortar um trecho de igual tamanho e propriedades do filamento verdadeiro e colar em seu lugar o trecho artificial.
O diminuto tamanho desse trecho é de aproximadamente oito metros de comprimento, e de um diâmetro tão diminuto que é muito menor que um Quark... de diâmetro ligeiramente variável.
É pra dentro deste filamento da Linha que os invasores serão inseridos, e eles podem passar pelo bloqueio da dimensão porque dentro da Linha é um espaço adimensional, predecessor à existência das dimensões... uma descoberta feita por Vàtav.
Como experimentos parecidos já foram feitos anteriormente, eles sabem exatamente quais equipamentos de proteção usarem pra se isolarem das Leis Adimensionais, das leis da Física Quântica, e das Leis Surreais, que é o nome popular das Leis de Marhim, relacionadas à fluxo imaterial e a-energético, pois são leis antecessoras e independentes da energia e da matéria.
O plano agora é inserir um pequeno grupo que se macroscopicará quando estiver dentro ou nas proximidades da sala que guarda o Receptáculo pra destruí-lo ou roubá-lo. Porém há dois problemas:
Primeiramente, se optarem por destruí-lo, eles não têm acesso às outras dimensões que estão bloqueadas não somente pela Ruptura Regente, mas também pelos próprios Regentes, que também são precavidos, pra evitar surpresas desagradáveis, e por este fator, não haverá como puxarem a Linha pra fora do planeta Esóqua, pois eles não conseguem puxar as diversas Linhas que estão nas outras dimensões, pelo fato de o acesso a estas estar bloqueado.
O segundo problema é que se eles entrarem novamente no espaço adimensional dentro do próprio filamento da Linha por onde vieram, não haverá como mover o Receptáculo, pois ele não cabe ali dentro, e se os invasores optarem por roubar o Receptáculo, terão que fugir dali de alguma maneira, abrindo caminho por dentro, no meio do imenso e concentrado exército inimigo dentro do planeta, que está defendido, selado, e também fisicamente tampado por uma grossa camada de material altamente maciço. É uma fuga impossível.
– Teoricamente impossível. – ressalta Vàtav, erguendo o indicador. – Dê-me as armas e equipamentos que eu peço, e poderei colocar um determinado plano em ação, afinal... sempre quis equipar isso! – acrescenta ele, dessa vez com um sorriso moleque e aberto.
Vàtav solicita o Zero-Technos, o imortal uniforme de combate, que só existe um no inteiro Universo, que está sempre equipado pelo rei A-Èdron, que o usou pra escapar da prisão certa, após a ruptura ser formada.
O Zero-Technos é amplamente superior ao famoso e usual 12-Technos, que é o uniforme de combate humano utilizado também inclusive pelos Regentes... por todos os Regentes, exceto aqueles que como Cintillo receberam treinamento dos Arcanjos, e portanto jamais se utiliza de tecnologia como armas, atitude compartilhada também pelos demônios e arcanjos.
O Zero-Technos é um uniforme que cobre toda a superfície da pele, muito fino e flexível. É dividido em inúmeros retângulos, uns reluzentes, outros de puro negro, que são buracos-negros contra ataques. E os retângulos reluzentes, cada um deles, possui um pulsar dentro de si.
Assim como cada retângulo negro é literalmente um poderoso buraco-negro galáctico dentro de si, assim todo e qualquer ataque de qualquer tipo realizado contra quem veste o Zero-Technos, seja ele mágico, energético ou físico é frustrado, e quem o toca pelo lado de fora, se for um inimigo, é imediatamente desintegrado. Por esta razão este uniforme é chamado vulgarmente de capa da invulnerabilidade.
No dia da Ruptura, em que A-Èdron e seu grupo da Ruptura se manifestaram, ele foi enganado pelo sistema de defesa e prevenção de traição, que ninguém em vida sequer sabia que existia, pois foi providenciado secretamente por várias gerações antecessoras, então não houve como A-Èdron roubar a Linha com seu poder.
O próprio rei A-Èdron foi um dos maiores apoiadores dessa ideia de Vàtav, ideia essa que de outro modo passara por sua cabeça, mas não de forma tão sofisticada assim como o infame cientista apresentara.
Foi organizado pelos líderes da reunião quem iria com o cientista humano Vàtav nessa tentativa desesperada, e de início muitos contestaram quando Hadazu se ofereceu pra ir, pelo fato dela estar cansada, mas sua insistência e versatilidade acabam pesando positivamente em sua escolha.
Devido a ser inexaurível e a utilidade incontestável, Cido é o segundo mais importante do grupo a ir, o que não causa nenhuma contestação. Jasmim também estava um tanto cansada e sofreu um pequeno punhado de contestação, mas sua experiência, malícia e demonstrada lealdade, além de sua perícia em usar armas humanas pesaram a favor de sua inserção no grupo.
Já que eles iriam com uma outra arma secreta em particular, esse grupo não poderia possuir mais do que quatro membros. Todos entenderam o plano, que foi explicado e repetido algumas vezes, especialmente alguns detalhes pra Cido, que passou à sua forma de golem de tamanha normal, humano, pra poder vestir um uniforme apropriado pra sua pele de pedra, que transmitia sua proteção mágica pra outros objetos ou pessoas que utilizassem um uniforme Techno-12 modificado, chamado Techno-12ª, inventado recentemente por outros cientistas da Ruptura Regente.
Sem perder mais tempo, o grupo entra no laboratório que os teletransporta pra dentro do segmento sintético do filamento da Linha Positiva, cujo momento foi o de maior apreensão de todos ali, pois se algo pudesse dar errado, daria naquele momento.
Com sucesso, os quatro conseguem chegar dentro do filamento, encarando um novo universo que Hadazu e Jasmim já viram antes somente pela “televisão” e Vàtav já havia entrado antes pessoalmente. Para Cido, essa é só mais uma das estonteantes e muitas novidades que ele tem apreciado esse tempo todo ao lado de Hadazu.
O local tinha gravidade, pra surpresa da maioria, e ela vinha de debaixo de seus pés, que estavam apoiados numa plataforma sintética projetada pelos cientistas do laboratório.
Vários objetos voavam em alta velocidade de cima pra baixo ao redor deles, alguns quase raspando, com um som poderoso, e Vàtav não parava de olhar pra cima, enquanto falava, alertando a todos:
– Não me distraiam, se não todos nós poderemos acabar morrendo aqui. Podemos ser esmagados de verdade se uma dessas rochas gigantes nos atingir aqui. Agora prestem atenção... quando eu disser “pulem!” é pra pular pra fora da plataforma na mesma hora, entenderam? Não se preocupem com a queda...daremos um jeito.
Todos ficaram apavorados. Seus corpos permaneciam intactos, e eles não precisavam respirar. Eles sentiam um calor enorme, mas não se sentiam queimando. Sentiam até cargas elétricas expressivas e violentas passando por dentro deles, mas sem lhes eletrocutar.
– É assim mesmo. – acrescentou Vàtav– Pelo fato de nossa constituição não pertencer à essa pré-dimensão, ou espaço adimensional, como vocês Regentes gostam de chamar, não somos vulneráveis à calor ou pressão ou qualquer outra coisa, exceto esmagamento e gravidade. Não adianta usar seus equipamentos elétricos, que eles não funcionam aqui, Hadazu. Somente estes equipamentos que convertem a energia do lugar é que funcionam, como este. – observa o cientista.
Eles ficam parados ali um tempo, aguardando o cientista transferir a conversão pra todos.
– Veja, Cido... – comenta Hadazu – essa é a criação do Universo... é de onde vêm todas as coisas e todos os seres. Você está presenciando o início e o fim de todas as coisas.
Cido ficava hipnotizado e até aterrorizado de ver tantas coisas monstruosamente poderosas ao seu redor.
– O surgimento das coisas... – continuava ela, pensativa – isso me faz lembrar daquela lenda de um menino regente que se perdeu sozinho num planeta que só tinha deserto, sem nada pra se alimentar, e sempre que chegava a hora de dormir, ele sonhava com comida e com florestas inteiras cheias de frutos pra ele se alimentar... e quando ele acordava do sonho, ele via que nasciam arvores de verdade ao redor dele, mas quando ele acordava elas começavam a murchar e secar muito rápido. Ele tinha que ser veloz em pegar as frutas imediatamente ao acordar pra se alimentar antes delas murcharem.
– Dizem que essa história é real. – comenta Jasmim, deixando propositalmente uma dúvida se ela estava sendo debochada ou não.
E Hadazu prossegue falando, pensativa:
– Comigo aconteceu coisa parecida uma vez: eu sonhei que estava vivendo outra vida... em outro mundo... um pouco atrasado, mas era um lugar bom, e eu tinha uma família amorosa e muitos amigos... tinha até um amigo em especial que eu gostava muito... De repente, eu estava viajando com minha família em algum tipo de coisa ou veículo... era estranho... aí veio um outro veículo gigante e agente ia morrer, mas aí acordei bem na hora, e acabou o sonho... mas foi incrivelmente real.
Cido sente um breve déjà vu, como se já tivesse estado ali antes, ou algo do tipo que ele não consegue assimilar claramente, mas logo seu devaneio é interrompido:
– Vamos, pulem! – grita o cientista.
Eles pulam nas rochas que caem perto deles pra pegarem carona, já que eles não conseguem ativar o meio de transporte artificial, que simplesmente não queria funcionar. Essa carona das rochas passou a ser o único meio de transporte que eles tinham disponível ali dentro.
Após alguns segundos eles conseguem passar pelo trecho sintético que prepararam no laboratório, e entram de verdade no filamento real.
Pra evitar colisões e esmagamento, eles se separam um pouco com muita dificuldade e após uma longa viagem eles chegam ao ponto preciso onde têm que pular, se juntar, e se preparar para a reentrada de volta ao seu universo e dimensão normais, no tamanho normal, porém dentro do planeta Esóqua, provavelmente repleto de inimigos.
Vàtav faz o cálculo mais perfeito que pode, realizando alguns ajustes de emergência de ultima hora dizendo ao grupo que houvera um erro de cálculo preliminar, o que gera certa desconfiança e insegurança.
Eles reentram, e instantaneamente seus uniformes acionam seus respectivos campos de força com todos os quatro sãos e salvos dentro de um corredor com três pessoas caminhando distraidamente, até sentirem a presença do grupo invasor, e assim os dois grupos de pessoas ficam chocados ao se entreverem, e hesitam por um momento, até que rapidamente Hadazu e Jasmim tomam a iniciativa e atacam as três pessoas com armas tecnológicas.
– Fique sempre do meu lado, Cido... são ordens de A-Èdron. Deixe que elas nos protejam. Vamos! Por aqui. – gritou Vàtav olhando pelo visor holográfico à sua frente.
Seu cálculo foi perfeito, ou quase. Eles estavam fisicamente a onze metros do Receptáculo. Vàtav aperta um botão invisível que materializa um canhão assustador para aqueles que sabem o que ele faz, enquanto se ouvia o estridente somdo alarme de invasão. Conforme orientação, Cido coloca seu braço dentro do canhão, que foi adaptado pra ele, e o cientista dispara diversos feixes brilhantes e quentíssimos que destroem o campo de força e as paredes que guardavam a Linha juntamente com os três arquimagos que estavam de plantão dentro da sala do Receptáculo, e foram instantaneamente desintegrados pelo grande canhão modificado, mas isso ao custo de uma grossa camada de rocha do braço de Cido, que estava incandescente com a exploração do canhão, o que assusta Vàtav ao ver o perigoso efeito.
– Desculpe, terráqueo... acho que exagerei no calibre. – disse o cientista.
– Vamos! – grita Jasmim após roubar o Receptáculo. – É nosso! – grita ela com prazer, olhando jovialmente pra Hadazu, que sorri.
Nesse instante um feixe de luz brilhante prateada lançada por uma espécie de bazuca por um Regente atravessa jasmim diretamente, que cai morta, e deixa cair o Receptáculo na mão do elétrico Vàtav, que veloz como a luz está sempre pensando muito mais rápido que todos. Ele voa com o Receptáculo na mão puxando Cido até a direção de Hadazu, que espertamente aciona escudos manifestados remotamente por ela, protegendo os dois, enquanto se deslocavam voando em sua direção. Ela foi tão rápida fazendo isso, que antes dela derramar a primeira lágrima, já havia manifestado 118 escudos temporários, devido ao impacto poderoso dos tiros.
Em combate de Regente contra Regente, utilizando tanto a tecnologia humana quanto a própria, sempre vencem os que conseguem realizar mais ações antecipadas por milionésimos de segundos. O nível de combate deles beira o suicídio, devido a tamanha complexidade.
Hadazu também ao mesmo tempo, utiliza um feitiço que causa vômitos e cega a todos os seres vivos inimigos ao redor num raio de cinquenta metros aproximadamente, só não atingindo Cido e Vàtav que tomaram um antídoto.
Assim que Cido e Vàtav alcançam Hadazu, ela ativa o Círculo Aleatório, a mais imprevisível e irritante arma dos Regentes, que costuma ser usada em campo de batalha presencial quando se está em desvantagem numérica. São vários círculos unidos de tal modo a formarem uma esfera dentada e na superfície de cada círculo está um guerreiro ou uma arma específica.
Vàtav aproveitou o momento pra teletransportar o corpo morto de Jasmim pra dentro do círculo, no interior central. Numa ponta da superfície estava Hadazu, atirando e atacando com tudo feito louca a todos. Na outra estava Cido com dois canhões semelhantes ao outro, porém menores acoplados nos dois braços, desintegrando tudo e todos os atingidos, me nas costas de Cido estava um equipamento que extendia sua imunidade mágica natural a todos os outros do grupo no Círculo Aleatório.
Em outra parte distinta estava Vàtav a escolher o semi-aleatório trajeto conduzindo-lhes pra um enorme buraco que inteligentemente eles abrem pra dentro do planeta Esóqua, livrando-se da maioria dos atacantes, causando uma enorme desordem geral. Velozmente, por baixo da superfície do planeta, Vàtav destrói tanto o inibidor principal, quanto os cinco secundários, usando uma mistura do poder de seu uniforme com o de Cido e outras armas no círculo.
Todo o ataque foi previamente planejado pela ruptura Regente na reunião, e Vàtav executou tudo precisamente.
Com toda essa destruição, os Regentes ficaram sem poder inibir as dimensões e todas suas defesas foram abertas, até o momento em que eles foram invadidos e se renderam.
De tanto “brincar de pique-esconde” dentro da crosta do planeta, circulando até pelo seu núcleo sob insanos e raivosos ataques de alto poder destrutivo dos Regentes, acidentalmente os perseguidores criaram uma reação em cadeia que fez o planeta inteiro se implodir num buraco-negro acidentalmente formado, mas o Círculo Aleatório consegue escapar pelo espaço com todos seus tripulantes ilesos.
Após a rendição dos Regentes, algumas horas depois, Cido se despede de todos, e é levado de volta à Terra por Hadazu por um veículo alternativo por Hadazu, que depois teletransporta os dois pra dentro de seu quarto, em seu apartamento.
– Estou em casa! Isso é real, Hadazu? Não é uma simulação de vocês?
– Não se preocupe. É sua casa de verdade. Você está de volta em seu planeta.
Eles ouvem de repente a voz da noiva e do pai de Cido na sala, falando com alguém ao telefone fixo.
Quase sem acreditar e entusiasmado, Cido vai ao encontro deles.
– Cido?! Como que você saiu de dentro do seu quarto se estamos aqui há horas? Você desapareceu por três dias! – diz espantada sua noiva.
– Filho! Onde você estava, cara? Ficamos preocupados, caramba!
Atrás de Cido vem Hadazu curiosa.
– Quem é ela? – pergunta a noiva de Cido.
– Olá! Muito prazer em conhecê-los! Sou uma... agente de viagens! Bem... o turista está de volta... missão cumprida... foi um prazer conhece-los pessoalmente! Adeus! Agora quem vai fazer turismo sou eu! – diz Hadazu deixando o pai de Cido, sua noiva, e até o próprio Cido boquiabertos com a fala inusitada da jovem, que sai pela porta do apartamento, fechando-a.
FIM
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O Precipício da Discórdia - A Saga de Cido
AventuraCido é um discente cético e materialista, que é surpreendido pelo inesperado, contrariando tudo que acredita.