O problema deles era chegar até o Castelo do Tormento, e assim o grupo dos cinco ia correndo e voando, e sempre que eles eram atacados por alguém, os outros 772 davam cobertura correndo ao redor deles, em formação. A proteção era tal que parecia que o grupo estava dentro de uma cúpula viva.
Mas esta cúpula era deformada sempre que os Imortais abocanhavam dezenas de uma vez, e os brutamontes tentavam lhes agarrar, esfaquear ou chicotear. Várias mãos surgiam de surpresa por debaixo da terra e puxavam alguns dos infelizes da Tropa de Assalto pro fundo do Inferno sem volta.
O ambiente do local era tétrico: no céu surge o rosto do Demônio, o Rei do Inferno, e todos os que olham praquele rosto gigante no céu, imediatamente era petrificado, tornando-se alvo fácil pros brutamontes quebrarem em vários pedacinhos, que os diabinhos pegavam, mergulhavam nas lavas e jogavam com força nos invasores.
— Não olhem pro céu! Não olhem nos olhos do Diabo no céu, nenhum de vocês! — assim gritava Tàmèq, e depois os demais uns pros outros, que notoriamente já estavam com uma sensação de medo crescente, pois em suas mentes já começava a pairar a dúvida sobre se aquela missão valia realmente a pena, e o mais importante: se eles iriam mesmo conseguir sair dali com vida!
Outra coisa das mais terríveis que infestavam o campo de batalha daquela cidade-pátio eram as estátuas-espantalhos do tamanho de pessoas comuns, a maioria; outras são gigantes de 30 metros que ficam completamente paradas, metade delas no chão e em pé, e a outra metade delas no ar, flutuando. Pra piorar, dificilmente alguma ficava pra trás, pois sempre que alguém passava por uma, logo aparecia outra igual à frente.
As estátuas-espantalhos têm a função de início de causar mau agouro e mal estar, no pior sentido da palavra, devido à expressão horrenda e indescritível a criatura, dando a vontade aos invasores de destruí-las devido ao incômodo de se sentir ser encarado o tempo todo pelas estátuas que pareciam estar vivas.
Elas emitiam um grito rouco simplesmente horrendo, de dar calafrios, dando mais vontade ainda de destruí-las por este incômodo. Mas todos os que as atacavam acabavam tendo suas almas roubadas pra dentro dessas estátuas-espantalhos, e seus corpos eram imediatamente possuídos pelo demônio que antes estava aprisionado dentro dela, e com o corpo recém roubado, começava a atacar aos invasores.
Tàmèq logo percebeu isso e gritou pra todos pararem de destruir as estátuas e pararem de olhar pra elas. Mas o grito rouco delas, junto com a inquietante sensação naquele horrendo rosto gigante cobrindo todo o céu olhando pra eles, os gritos dos demônios, as rosnadas das bestas e os xingamentos, ameaças, zombarias e cantos de vitória dos diabinhos estavam abaixando o moral rapidamente da tropa, que passava a ter a sensação de que o castelo parecia se distanciar, por mais que eles tentassem alcançá-lo!
— Hadazu... — disse Jasmim abatida. — não sei se é boa ideia continuarmos...
Hadazu também estava ficando desmotivada, porque já lutara contra dois Imortais do Inferno sem derrotá-los... apenas aprisionando-os temporariamente, testemunhando-os devorarem diversos companheiros e , restando a ela continuar seguindo adiante pra não perder tempo em sua missão.
Desde o ponto de aterrissagem, o grupo de Hadazu estava a apenas 9 quilômetros de distância do castelo. Essa distância foi escolhida por questão de segurança pra evitar armadilhas e surpresas desagradáveis.
Agora sim, finalmente chegaram, após um longo tempo, ao pé da montanha, a uma distância de apenas dois quilômetros da boca do castelo, situada lá no alto.
Mas pra sua surpresa e infelicidade, cinco titãs de cerca de 60 metros de altura cada, estavam escondidos sob uma fina camada da superfície rochosa da montanha, e cada um surge segurando uma enorme rocha nas mãos sobre suas cabeças e as lançam rapidamente nos invasores de surpresa, matando alguns que não tiveram tempo de reação.
Tudo foi tão rápido, e pra piorar, imediatamente os cinco titãs começaram a retirar mais pedregulhos da montanha freneticamente pra lançar nos demais, fazendo com que todos começassem a fugir, voltando instintivamente.
— Retirada! Retirada! — gritavam vários, em desespero.
Os titãs pisoteavam os que corriam, e esmagavam os voadores, com as palmas das mãos, e cuspiam fogo com suas bocas em todos, que passaram a conhecer a inesperada e dura realidade de tentar se aventurar no Inferno.
Cido percebera algo curioso, e no mínimo interessante quando dera seu ultimo passo: um estranho som no chão, típico de um piso oco. Mas ele já havia ouvido esse som antes, porém, somente agora ele se lembrou ao perceber esse som novamente e teve uma ideia dessa vez. Ele deu um poderoso murro, esburacando o chão, e depois outro, e mais outro.
Preocupados, Cintillo, Tàmèq, Hadazu e Jasmim voltam pra buscá-lo, quando veem que ele abriu uma cratera, que surpreendentemente expôs uma caverna ampla iluminada por rios e cachoeiras de lavas vulcânicas. Os outrora 772 guerreiros que com certeza seu número já devia estar pela metade entendeu o grito de Jasmim, e começou também a perfurar o chão pra ter acesso ao mesmo local.
Aqueles que demoraram muito ou deram azar acabaram mortos ou capturados, ou mesmo encontrando rotas alternativas de fuga.
Os titãs e os Imortais do Inferno começaram a esmurrar e a esburacar o chão pra seguirem atrás deles, pulando em cima de alguns na gigantesca caverna semidestruída, obrigando vários dos invasores a se refugiarem em túneis que serviram de forma apropriada, impedindo o acesso dos titãs e Imortais, que foram deixados pra trás.
Mas surgiu um grande número de arquidemônios, verdadeiros arquimagos-negros do Inferno, tão ou mesmo mais poderosos que os arquimagos regentes e humanos, especialmente ali naquele ambiente que lhes favorecia.. Eles eram mágicos, e não usavam nenhuma arma, exceto suas mão pra lançar ondas de calor mais quentes que o sol, ou pra invocar espíritos flexíveis e voadores do fogo, terra, gelo e ar pra se agarrarem nos inimigos feito sanguessugas e começar a aniquilá-los das mais sofríveis formas possíveis.
Os arquidemônios são quase tão assustadores quanto os Imortais, e são o segundo tipo mais poderoso de demônio, perdendo somente para os Imortais.
O grupo dos 5 dispersou-se completamente dentro dos túneis, mas eles tentavam se comunicar por telepatia uns com os outros sempre que encontravam um instante de sossego, no intervalo entre os golpes dos arquidemônios, dos diabinhos, dos espíritos elementares invocados, dos vermes gigantes, raízes diabólicas, e de toda sorte de criaturas que procuravam não dar sossego enquanto o grupo não fosse capturado ou dizimado.
Cido era o que menos apanhava, pois os arquidemônios não conseguiam atingi-lo devido a sua natural imunidade mágica, e somente os diabinhos conseguiam queimá-lo um pouco com a lava vulcânica, que lentamente o derretia em suas camadas superiores de rocha, mas era um processo lento. Mesmo quando um grupo grande de brutamontes abriu um buraco na parede de uns dos corredores pra fazer uma enorme cascata de uma cachoeira de lava engolir Cido, queimando-o, isso só foi suficiente pra derreter uma fina camada de sua pele de pedra especial. Ele logo saiu dali e foi correndo pelo labirinto de corredores na caverna já perdido, até que se deparou com um enorme salão cujas luzes piscavam e que lhe chamou a atenção principalmente pelo barulho de eletricidade e gritos femininos de dor.
A luz do piscar era extremamente intensa, e quanto mais se intensificava, mais os gritos ficavam altos.
Ele ficou apiedado de quem quer que fosse a criatura que poderia estar ali e entra pra ver. Até que ele tem a visão de um enorme moinho movido mecanicamente pelo rio de lava que batia nas pás de uma pequena engrenagem na base, que movia a grande roda onde estavam espetadas e presas oito pequeninas fadas distribuídas quase igualmente ao longo da superfície da roda para a qual elas estavam de frente.
Eram fadas de cerca de 10cm de altura cada, e podia-se perceber ao olhar mais de perto que haviam mais 4 que foram carbonizadas de alguma forma e ficaram negras e mortas, mas com seus corpos ali ainda, sem produzir as tais faíscas poderosas que as outras produziam.
As costas das fadas raspavam num material dourado... aparentemente metálico, raspando suas costas, tirando delas sua Luz, e roubando essa Luz Sagrada pra dentro de tubos de vdro que levavam a energia pra algum lugar misterioso.
– Por favor! Ei você! Por favor!
Todas queriam gritar um “me tire daqui” ou faça isso parar”, mas o sofrimento que elas passavam ali era tamanho e tão duradouro que até a menção dessa expressão levava a uma ideia que pra elas parecia distante demais e impossível, tornando-lhes impraticável esclarecer o que elas queriam com palavras.
Mas não eram necessárias palavras pra dizer a Cido o que fazer.
Ele arrancou cuidadosamente a roda gigante do lugar passando a retirar os espetos que atravessavam as fadas por dentro, fincadas em suas barrigas como estavam.
Elas não estavam podendo voar de imediato porque ainda estavam fracas e ofegantes, mas Cido conseguiu libertar a todas as oito sobreviventes.
Como Cido não podia falar no estado de golem e elas estavam ainda fracas e confusas, a líder delas sinalizava com a palma da mão pra ele esperar. Depois de alguns momentos, a líder se comunicou mentalmente com Cido.
As fadas são a essência máxima da vida. Elas são como um concentrado de vitalidade pura que assume uma forma conforme aquele que a está vendo. Elas podem habitar qualquer dimensão ou universo, exceto as dimensões do Chaos e do Inferno.
Elas são exatamente como as árvores num certo sentido: assim como as árvores brotam da terra, as fadas por sua vez, brotam do ar, naturalmente. Elas costumam ser chamadas de Forma de Vida Espontânea pelos Regentes.
Fadas comuns possuem metade da intensidade do poder de um arquimago, mas no entanto possuem uma espécie de reservatório de energia totalmente inesgotável, sendo famosas por serem incansáveis... inexauríveis.
A líder das fadas, assim como as outras, leram a mente de Cido com mais facilidade agora que a dor delas passou e sararam suas feridas, já se encontrando em condições de voar. Eles passam portanto a se comunicar.
– Por que vocês estavam presas ali? – pergunta Cido mentalmente.
– Fomos envenenadas e enfeitiçadas por Tchartha e trazidas pra cá por um mercador ilegal Orú. – disse Kobiche, a líder.
– Orú? Da raça de Jasmim? – pergunta o terráqueo.
– Jasmim... ? Ah,... sim daquela mesma raça dela. Os Orús eram como nós, mas eles quiseram experimentar os prazeres daqueles encantos da magia-negra e ficaram daquele jeito. Desde então foram expulsos, e se tornaram obcecados pela prática de magia-negra infernal. Muitos até continuam bons, mas a maioria é inconfiável e imprevisível. E há alguns perversos, como aquele que nos enganou e nos trouxe pra cá.
– Por que eles estavam fazendo isso com vocês, afinal?
– Eles queriam usar nosso poder pra criar titãs, que não são criaturas próprias do inferno. Provavelmente o rei do inferno os controla mentalmente a distancia.
Cido explicou pra líder daquele grupo de fadas, Kobiche, sobre sua missão ali, e então elas prontamente resolvem ajudar aproveitando a carona pra fugir dali. Elas indicam o lugar onde está escondido o Castelo do Tormento, que guarda a Linha.
Mentalmente, as fadas chamam por todos da Tropa de Assalto para aquele local, e todos vão chegando um a um.
Hadazu estava presa dentro de uma espécie de bola gigante lutando contra dois arquidemônios ao mesmo tempo, e alertado sobre o caso pela fada Kobiche, Cido vai até lá libertá-la e ajuda-la na luta, esmurrando os arquidemônios que nada conseguiam fazer pra feri-lo.
Os três voltam para o ponto onde estão todos e as fadas mandam que os sigam até o castelo e todos vão por entre numerosos corredores caverna abaixo até encontrarem uma gigantesca clareira iluminada pelo magma abaixo, e no centro se encontrava o imponente castelo, flutuando no magma, preso por três correntes à rocha bruta.
Três titãs de 60 metros cada estavam em pé ao redor do castelo que tinha um tamanho aproximado ao dos titãs, e o magma não parecia lhes afetar. O lugar todo era realmente colossal com uma vista estonteante, deixando todos impressionados sobre o fato de algo tão grandioso e majestoso estar assim ocultado dentro das entranhas do planeta.
Hadazu e jasmim vão voando e conduzindo Cido no voo pra quebrar o escudo mágico intransponível do castelo, mas os titãs acordam e começam a atacar a todos ali.
Alguns Orús e arquimagos ainda tentam entrar no castelo, mas tomavam um choque terrível do escudo, que os repelia, até mesmo quando tentavam teleporte.
Os outros demônios do inferno chegaram a clareira cercando-os no local. O castelo começou a brilhar de repente, disparando diversos tiros mágicos em formato de eneagramas que derretiam instantaneamente a todos que tocavam.
As fadinhas conversaram entre si ao perceberem que os titãs tinham a força vital delas dentro de si. Então elas voaram pra dentro de suas bocas nos momentos em que estes as abriam pra cuspir fogo, e conseguiram controlar os três titãs, que agora sob seu controle, passaram a atacar aos diabos, enquanto outro, sem sucesso, tentava esmurrar o castelo, levando choques incríveis.
Protegidas pela invulnerabilidade de Cido, Jasmim e Hadazu ficam em suas costas, enquanto voam com ele, até que por fim chegam ao castelo, quando a lava vulcânica começava a subir.
De fato, Hadazu e Jasmim se entreolham sorridentes quando veem Cido passando a mão pelo campo de força mágico de forma bem sucedida. Mas ele não consegue quebrar o campo... apenas abriu um círculo com os braços e pernas pros seus amigos passarem pra dentro.
Cintillo se junta a eles, assim como Kobiche, a fada, que entra escondida, dentro da roupa de Jasmim. Tàmèq fica do lado de fora porque estava cercado e ocupado demais, distante do grupo que entrou com sucesso.
Assim que entraram na lateral, por um corredor ordinário no primeiro piso, se depararam com um ambiente totalmente oposto ao do lado de fora: era escuro, exceto pelas pequenas chamas no próprio chão, que mais faziam a função de ofuscar a visão do que iluminar o local, e o silêncio... o silêncio do ambiente é que preocupava, pois lembrava a todos do tradicional silêncio de um animal caçador antes de dar o bote na presa. Ele se sentiam assim com aquele silêncio: como se fossem pássaros em um telhado espreitados por um possível gato escondido, pronto pra pular em seus pescoços.
Treinado por arcanjos como o fora no passado, Cintillo tentava iluminar melhor o ambiente com a sua espada e sua poderosa luz, mas o castelo tinha uma curiosa magia que impedia a luz de predominar.
O cheiro do local era certamente a pior parte. Era uma mistura horrenda de cheiro de cheiro de mofo intenso com cheiro de carne totalmente podre, repleta de larvas de moscas com uma intensidade sem precedentes, tudo isso elevado a um nível tão sublimemente demoníaco, que até mesmo aqueles cinco invasores estavam com seus estômagos dando voltas, e enxergando tudo torto, com vista dupla, exceto Cido, por estar na forma de golem.
– Ah... que bom.. já ia me esquecendo. – disse Jasmim, tirando alguma coisa empoeirada num saquinho dentro de sua roupa. – Comam isso... vão se sentir melhor.
Eram ervas pra se imunizarem do cheiro encantado, que todos comeram, exceto Cido.
De repente, ouvem-se estalos ao longe, e uma voz doce, forte, grave e sonífera, pode-se dizer assim, surgiu como que vindo de todas as direções ao mesmo tempo no meio da penumbra:
– Vocês! – esse era o tipo de saudação mais comum, como um “olá!”, muito usado até mesmo entre os Regentes e humanos.
A voz tinha um tipo de encanto que faria qualquer mortal comum dormir imediatamente, mas o grupo conseguia lutar contra o sono. Ao mesmo tempo em que esta voz surgiu, ouviu-se outro estalo, iluminando algumas jaulas com luz verde que estavam ao longo do corredor, trancadas por algum tipo de cristal mágico com uma criatura enorme, demoníaca, poderosa e horrenda dentro... na maioria demônios. Mas todos pareciam dormir.
À frente do grupo surge uma imagem com o rosto do rei do inferno. Um rosto quase comum, de pele vermelha, orelhas estranhas, que parecem guelras, chifres curvados e um olhar tétrico, de gelar qualquer alma de pavor. Seu olhar parecia dizer que ele estava pronto pra devorar vivo cada um que estava ali, e seus dentes afiados apareciam claramente sempre que ele falava alguma coisa abrindo bem a boca. Seu olhar e seus dentes faziam qualquer um ter pavor de ficar perto dele pra não ser devorado vivo. Ele olhava pras pessoas como se elas fossem alimento, e isso era assustador pra todos os ali presentes. Mas ele só vê quatro pessoas, já que a fada Kobiche está escondida dentro da roupa de Jasmim.
– O que querem? – pergunta ele, já não importando mais perguntar como haviam conseguido entrar ali.
– Viemos atrás da Linha do Equilíbrio Neutra, só isso. – disse Hadazu.
– Podemos discutir um preço. – disse o rei.
Antes de Hadazu responder, Jasmim toma-lhe a frente:
– Temos algo a oferecer: sua vida.
– Explique, bruxa, e vá direto ao assunto. – insistiu o rei.
– O senhor sabe que este Universo está em colapso... se extinguirá em dois dias. Se quiser continuar a existir, nos empreste a Linha, que saberemos como salvar a todos nós. Você sabe que estamos no precipício da extinção.
– Eu já me conformei com a ideia. Só quero aproveitar bem esses dois últimos dias. Venham até aqui onde estou pra negociarmos melhor. Entrem neste portal. – Nesse momento, um pequeno portal surge na frente deles.
– Ninguém entrará aí! – gritou Cintillo. – Não confiamos em você. Iremos a pé.
Hadazu toma a palavra novamente:
– Por favor, dê-nos a Linha. Você viverá por mais tempo. Todos nos salvaremos. O tempo está contra nós. Se quiser, podemos devolver logo depois de usarmos. Tem nossa palavra.
À bem da verdade, o grupo se sentiu aliviado e de certa forma até satisfeito emocionalmente ao ver que seu anfitrião tomou a iniciativa de estabelecer um diálogo ao invés de lutar mais outras incessantes e cansativas lutas ali naquele lugar, correndo risco de vida. E além disso, haviam histórias e lendas assustadoras sobre esse famoso castelo, e eles eram um pequeno grupo de apenas cinco dentro de um castelo que podia abrigar milhares de seres dos mais poderosos.
Nisso, o rei responde faminto:
– Acho que vocês não se deram conta de sua real condição. Vocês estão presos aqui. Nunca conseguirão escapar, a menos que eu deixe. Vejam. Tentem voltar ao ponto de onde vieram, se acham isso possível. Não há como voltar. Não há como achar o caminho da saída, porque este castelo é encantado. Não importa pra qual lugar do castelo vocês se desloquem... vocês sempre estarão no centro do castelo. Mesmo que se separem, e cada um vá por um caminho diferente dentro do castelo, ainda assim estarão sempre no centro dele... cada um de vocês!
Cintillo fica incrédulo com as palavras do anfitrião e volta pelo caminho de onde vieram, e não acha a parede que haviam derrubado pra entrar. Em seu lugar simplesmente havia um grande salão, que levava a outro, e outro, e outro...
– Eu acho que ele diz a verdade. – diz Cintillo, voltando pro grupo. – O lugar de onde viemos...não está mais ali!
Incrédula, Jasmim checa pra ver com os próprios olhos, e depois volta, resignada e preocupada.
– A única forma de saírem é com minha autorização, como eu disse antes. – reafirma o rei do inferno.
– Está bem... nós iremos até onde você está. – disse Hadazu. – Mas iremos a pé. Nada de portais nem truques. Mostre-nos o caminho e nós iremos.
– Sigam esta luz, e chegarão até mim... então negociaremos.
Dessa forma, eles foram caminhando lentamente seguindo uma linda luz branca, semelhante a um pólen.
Hadazu pega de seu cinto o aparelho ativador de fuga através de portais dimensionais, uma espécie de teletransportador de fuga pra extremas emergências, mas que se encontra fora de operação no momento, pelo fato de no inferno nenhum tipo de tecnologia funcionar.
“Se eu conseguisse fazer isso funcionar aqui, teríamos uma chance de roubar a Linha e fugir dando as cartas num plano B, mas sem isso funcionando... “, disse telepaticamente Hadazu para os demais.
“Deixa eu ver”, disse a fadinha, que depois de receber escondida o equipamento, permaneceu discretamente dentro das vestes de Jasmim, estudando e testando o dispositivo.
“Se ele não fizesse questão de sobreviver, não nos teria chamado pra conversar.” , disse Cintillo.
“Sim, sim. Certamente.”, respondeu Jasmim.
O encanto que fazia o castelo tornar-se um labirinto infinito foi desfeito pelo próprio anfitrião, já que os visitantes consentiram em negociar, e as luzes das celas verdes voltam a se apagar, e o grupo segue atrás do pequeno pólen luminoso que os conduzem por imensos corredores, salões, escadas e abismos ali dentro do enorme palácio.
Sem encontrarem nenhuma criatura viva por perto, eles chegam finalmente ao salão do trono, que abre a as portas sozinhas conduzindo-os ao seu anfitrião chifrudo, o próprio rei do inferno cabisbaixo e pensativo, que assim permanece até que o grupo se aproxima e saúda.
— Viemos conforme nos pediu pra negociar. — disse Cintillo, posicionando-se à frente dos outros. Tudo o que pedimos é que nos empreste a Linha e em até três dias nós a devolveremos.
O castelo volta a ficar encantado novamente com um simples gesto da mão esquerda do anfitrião, que sorri discreta e maliciosamente:
— Não gosto de sua voz. — diz ele com um tom mágico, causando sonolência no grupo, que luta contra o feitiço. — gosto da voz dela. Quero que ela fale comigo e peça. — acrescenta, apontando pra bela regente.
Hadazu repete palavra por palavra daquilo que seu irmão dissera, mas mantendo-se atrás dele sabiamente, e sem olhar em seus olhos para que a presença dela não sirva de tentação pro diabo, que mostrava claramente um interesse particular nela.
Depois de uma pequena troca de palavras maliciosas de ambas as partes, finalmente chegam a um consenso:
— Aceito lhes entregar a Linha contanto que ela fique comigo aqui até que a Linha volte. — disse, se referindo à regente.
— Acho muito justo, contanto que nos mostre a Linha primeiro pra termos certeza de que realmente está em seu poder, e nos explique como conseguiu aprisioná-la com você aqui, se aqui não funciona nenhum tipo de tecnologia. — arguiu Jasmim pra nova surpresa de todos.
A pergunta dela realmente fazia sentido, pois assim que as naves da Ruptura Regente chegara à galáxia de Quabates, do inferno, eles tentaram puxar a Linha através de suas ramificações, mas não conseguiram. Essa impossibilidade só acontece quando alguém já possui a Linha aprisionada num receptáculo.
Foi por esta única razão que tiveram que ir pessoalmente até o Inferno e desativar o equipamento que estava segurando a Linha, ou mesmo roubar o equipamento com a Linha dentro.
— Jasmim, sua maldita! Minha irmã não é mercadoria pra você vender. — grita Cintillo, colocando a ponta de sua espada sob o queixo de Jasmim.
— Mostre-nos a Linha, rei. — diz Hadazu.
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O Precipício da Discórdia - A Saga de Cido
AventuraCido é um discente cético e materialista, que é surpreendido pelo inesperado, contrariando tudo que acredita.