Capítulo 1 - Quem me dera.
Akaashi olhava pela janela da sala de seu antigo apartamento, admirando a paisagem de sua cidade natal enquanto podia, já que em breve não estaria mais ali. Ouviu a porta de entrada ser aberta, mas sequer se virou. Ele sabia muito bem quem tinha chegado.
— Você não é o Super-Homem. — A voz de Satori se fez presente, fazendo Akaashi dar uma leve risada.
— Quem me dera que eu fosse. — Ele fez uma pausa, enfim se virando para o amigo. — Você conseguiu?
— Tá aqui. — O ruivo tirou um envelope da mochila que carregava, estendendo para que o outro pudesse pegar. — Só não entendi o motivo de você só mudar o primeiro nome.
— É pra eu não acabar esquecendo quem eu sou...
Após abrir o envelope, Akaashi encontrou sua nova certidão de nascimento e identidade, onde constava um primeiro nome diferente do seu. Aquela seria sua nova vida e teria que se acostumar para conseguir alcançar seu objetivo. Ele suspirou, se aproximou de Satori e o abraçou com força.
— Muito obrigado, Satori.
— Não me agradeça... Só estou fazendo isso porque sei que mesmo que eu negasse, você daria um jeito de fazer sozinho. — Apesar das palavras de insatisfação, Satori abraçou o amigo de volta, já que não sabia se poderia fazer aquilo de novo algum dia.
— Vai dar tudo certo, não se preocupe.
— Você não sabe o quão impotente eu me sinto sabendo que sou incapaz de te impedir... Que tipo de amigo eu sou, deixando você praticamente cometer um suicídio desses?
— Satori, você é um amigo muito foda, pode ter certeza.
— Akaashi, é sério...Você tá se metendo em briga de cachorro grande. — Ele fez uma pausa, suspirando e se separando do abraço para que pudesse olhar nos olhos do moreno. — Você é a última pessoa que eu quero ver na minha mesa.
— Por favor, confia em mim, mais do que ninguém, eu sei exatamente onde estou me metendo... Você sabe que eu não posso ficar vendo esse tipo de coisa acontecer sem fazer nada.
Há cerca de seis meses, durante a investigação do assassinato do líder de uma organização criminosa, Akaashi acabou descobrindo alguns segredos sujos da polícia. Após isso, ele decidiu que iria investigar e provar que a instituição que deveria proteger as pessoas não era tão correta como parecia. Como sabia que estava sendo vigiado, decidiu tomar uma atitude drástica.
Supostamente, Akaashi Keiji tinha sofrido um grave acidente de carro há duas semanas atrás, onde antes de morrer, teve parte do seu rosto queimado. Satori Tendou, médico legista, só conseguiu identificar o corpo através da arcada dentária, mas confirmou que realmente era o investigador. O que ninguém - ou quase - sabia, era que Akaashi estava vivo e o médico tinha colocado informações inverossímeis no laudo.
O investigador estava pronto para começar uma vida completamente nova para descobrir tudo o que queria. Iria se mudar para uma cidade próxima, mudar de nome e profissão. E por mais que Satori lhe dissesse o quão perigoso era aquilo, Akaashi não estava disposto a morrer antes de deixar as pessoas saberem a verdade.
Agora era Akaashi Ryuji, um homem solteiro e desempregado, recomeçando a vida num lugar diferente.
Deixou seu antigo apartamento por volta das onze horas da noite e pegou um trem que o deixasse na cidade em que tinha escolhido para viver. Levava apenas uma mala com suas roupas e seu computador. Se alguém o perguntasse, diria apenas que estava fugindo de uma vida que não o pertencia mais, uma vida que tinha dado completamente errado.
Com a cabeça apoiada na janela do trem, Akaashi pensava em seus pais, que tanto temeram quando contou que queria ser investigador criminal. Agora, estava correndo na direção contrária que eles queriam que fosse, mas sabia que aquilo não seria uma decepção, afinal, estava querendo ser justo e correto. Sentia muita falta de seu pai e sua mãe, os dois tinham morrido muito cedo, mas naquele momento, preferia pensar que aquilo era o destino agindo. Akaashi não tinha nada que lhe pudessem tirar, apenas a sua vida.
Enquanto Akaashi seguia seu caminho no trem, Satori estava deitado na cama, com Goshiki adormecido em seu peito, enquanto via seu marido trocar de roupa. O médico era casado com Ushijima, mas há não muito tempo, tinham incluído uma terceira pessoa no relacionamento.
— Você quer falar sobre aquilo? — Ushijima perguntou e Satori sabia muito bem do que se tratava. — Ele era seu melhor amigo...
— Eu acho que a minha ficha ainda não caiu...
— Quando quiser, pode conversar comigo. Você sabe disso, não sabe?
— Sei sim, meu bem, obrigado.
Ushijima também era policial, na verdade, era investigador. Para ele, era estranho ouvir seu marido dizer que ainda "não tinha caído a ficha", já que Satori foi o responsável pela identificação do corpo de Akaashi. Sabia que eles eram melhores amigos e sabia que cada um tinha uma reação diferente. Algo lhe parecia errado, não só naquela fala, mas também no comportamento de seu amado, porém tentava ignorar e tratar como se fosse algo apenas de sua cabeça. Afinal, o luto pode transformar as pessoas.
Akaashi chegou na nova cidade ainda naquela madrugada. Foi direto para o local que tinha alugado, um apartamento de um cômodo só, que seria mais do que suficiente. Seus planos para o dia seguinte eram fazer compras e procurar um emprego que serviria apenas para disfarce, já que tinha uma boa quantia acumulada em sua conta bancária. Antes de mergulhar de cabeça na investigação, iria se organizar e ajeitar sua vida, o que provavelmente levaria cerca de uma semana.
Nada no mundo iria o impedir de concluir seu objetivo. Akaashi estava determinado, não deixaria nada e nem ninguém entrar no seu caminho.
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Confidencial
Misterio / SuspensoDurante a investigação de um assassinato, Akaashi descobre que algumas coisas não são como parecem ser. Então, para poder encontrar a verdade, decide assumir uma nova identidade. Porém, o que o investigador não imaginava que acabaria se apaixonando...