Uma empregada levemente surpresa com minha aparição,me recebe. Não é que não tenha me visto,é somente o horário que é inapropriado para surgir na casa dos patrões. Com a eficácia que se espera dela,prontamente me atende.

_ A Sra. Brandão já se recolheu,mas irei chamá-la. _ diz,cabisbaixa em sinal de submissão.

_ Não o faça!_ impeço-a antes que saia a cumprir o dever. _ Quero falar com o Sr. Brandão,ele se encontra?_ rezo para que sim,caso contrário perco a pouca coragem que reuni.

Dessa vez a jovem copeira ergue os olhos estupefata,não é preciso que me diga o que pensa,é visível em seu rosto. É extremamente impróprio que uma donzela procure por cavalheiro tarde da noite,isso fere a moral da boa conduta. No entanto,não será regras de decoro que resolverá o que vim fazer aqui.

_ Está surda?_ pergunto impaciente para a moça. _ O seu senhor está em casa?

Recobrando do seu torpor,ela assente com a cabeça.

_ Está no gabinete. _ diz por fim. _ Vou avisar que a senhorita...

_ Não precisa,vou até lá. E não necessita me acompanhar,sei o caminho. _ falo firmemente,passo por ela que está boquiaberta com minha atitude.

Certamente que será uma ótima fofoca na cozinha,tão logo chegue lá. Os empregados adoram cochichar sobre tudo que vêem dos amos,e não os culpo,pois os donos da casa fazem muitas coisas que dá que falar.

Com passos seguros e rápidos,chego a entrada do escritório. A porta está fechada,busco o ar que quer sumir e procuro acalmar meu coração,que bate freneticamente. Minhas mãos nervosas estão úmidas,baixo o olhar para elas e vejo o brilho do suor que se estende pela pele.

Uma coisa aparentemente simples quanto uma conversa que se pretende ter,está sendo um verdadeiro esforço hercúleo de minha parte.

Sufoco qualquer pensamento que possa me demover da missão,e bato na grande porta de madeira escura.

Nada se faz ouvir.

Bato outra vez.

Ouço o som de alguém resmungando.

Bato novamente.

_ Não quero ser incomodado!_ sua voz grave sai mal humorada. Pelo visto está muito abatido,pois deixar transparecer suas emoções não lhe é característico.

Poderia me identificar,mas vou insistir até que venha atender,nem que seja por irritação.

Torno a bater na grande folha de madeira.

Escuto o som da cadeira se arrastando,passos ecoando apressados e a maçaneta se mexe.

_ Já disse que não quero falar com ninguém. _ repreende truculento ao abrir a porta bruscamente.

_ Nem mesmo comigo?_ questiono mansamente.

Sua expressão é impagável no momento. Em completo estado de choque,me analisa de cima a baixo,como se para crer que sou real. Noto seus olhos sem brilho,tal como peixe morto,suas vestes amarrotadas e sua pele,que outrora era viçosa,agora não lembra o deus de ébano que me recordo.

É inegável que essa situação causou danos a ambos.

_ Bianca... _ diz meu nome num sussurro,ainda atordoado. Mas logo se recompõe,franzindo o cenho preocupado. _ É muito tarde para que ande sozinha! É arriscado e...

_ Vamos discutir no corredor?_ pergunto impaciente ao interrompê-lo.

Então se cala,abre espaço e entro no cômodo,ouvindo a porta ser fechada. Embora não tem bem iluminado,é visível a decadência de Luciano,uma garrafa com o uísque pela metade enfeita a mesa e o cheiro do charuto toma conta do ambiente.

Bianca _ A Cada Passo Uma Escolha Onde histórias criam vida. Descubra agora