[um poema aos mortos]

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#vmin90s

"My favorite time of the day..." Os crepúsculos costumam ser como tintas laranjas que escorrem pelas paredes de concreto da velha Busan, as ruas ficam magicas, o tempo parece parar por alguns minutos, para que todos tenham a oportunidade de apreciar sua beleza.

O estranho foi ver que nem assim a capela mortuária do templo fica mais agradável.

Sentiu a respiração de Taehyung sair da sua nuca, foi quando percebeu que o namorado se afastou dele para se isolar no jardim. Não teve coragem de entrar, de se aproximar da família de San-ha, mesmo sabendo que eles não o reconheceriam, Jimin foi até lá para prestar seus sentimentos.

Não gostava do rapaz, tinha nojo, mas ainda assim é uma vida jovem que se foi, e partiu de uma forma horrível. Não é tão difícil ver pessoas comentando que alguém tirou a própria vida na Coreia, ele sabe, mas tão próximo assim foi assustador.

Ajustou a blusa social preta, percebeu algumas pessoas do seu curso aglomeradas em um canto, os nervos estão a flor da pele. Como Hoseok havia comentado, com o calor vem a confusão, e agora com um jovem morrendo no estacionamento da própria universidade... contando ainda que reitores se recusaram a suspender as aulas por mais de um dia.

Um absurdo. Ter de voltar para aula como se alguém não tivesse morrido.

Amanhã tem aula de inglês, pobre Taehyung, não parece bom para isso. Depois de uma hora ali, rezando baixinho para que a alma de San-ha descansasse, caminhou pela estradinha de pedrinhas até o jardim, onde Taehyung está fumando, quieto, com os olhos vermelhos e cansados.

Jimin ficou ao lado, oposto da fumaça, mas Taehyung está tão perdido em pensamentos que nem sequer percebeu sua presença.

Nunca pensei que a morte de alguém assim, como San-ha, fosse afetar tanto Taehyung...

— São seis da tarde... podemos ir, hyung.

Taehyung tirou os olhos do horizonte, balançou a cabeça algumas vezes e tirou o cigarro da boca, o apagando no tronco da árvore ao seu lado.

— Ah, sim, claro. Você deve estar com fome. — forçou um sorriso estranho e tirou a chave do carro do bolso. — Vamos.

Abaixou a cabeça seguindo o professor até o estacionamento, uma curta caminhada de cinco minutos que parecia uma eternidade. Taehyung acordou naquele dia sabendo da morte do jovem cedinho pela manhã e por ser suicídio já estavam velando seu corpo sem muitas investigações. A cena grita tanto como "suicídio" que parece até forçado.

E ele sabe disso, ele sabe muito bem que aquilo não foi o que parece ser. Taehyung não é burro. Contudo, Jimin não gosta disso, Taehyung não o tocou o dia inteiro, nem o olha nos olhos, apenas fala baixo, com a voz amargurada e cabeça abaixada. Quando entraram no veículo, Jimin suspirou e encostou a cabeça na janela, desistindo de tentar um contato maior.

O carro foi ligado, menos a rádio e Taehyung viu que o menor parece pálido. Percebeu o que fez, está afastando o namorado para que ele não suspeite das coisas, mas está magoando ele no processo.

Se prometeu jamais magoar Jimin de novo.

Levou sua mão ao rosto do menor, que o fitou de canto com desconfiança.

— Me perdoa — pediu. — Acho que tudo isso me deixou muito mal... E saber que amanhã preciso trabalhar, só piora tudo.

Jimin o beijou na mão. — Hyung, não estou bravo, só preocupado. Você não almoçou direito, vamos comer algo.

Verdade. Resolveu assim dirigir até o centro, devagar, para que não fosse pego de surpresa pelos seus próprios pensamentos confusos. Jimin pediu a comida, escolhendo cuidadosamente baseado nos gostos de Taehyung. Hoje o lugar está vazio, percebeu.

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