Capítulo 4: Exploração

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O céu ficava mais cinza, escurecendo os arredores da mata. Mas nãopor ser noite, e sim por estar prestes a chover. O Sol mal conseguia emitirseus raios de luz, as nuvens e o tempo nublado anunciavam o início de uma longatempestade. Alguns animais indefesos corriam para seus esconderijos ou para bemlonge enquanto avistavam os portugueses passando. Os pés pisando em lama epoças de água causavam barulho, informando os predadores a presença do grupo.

— Já estamos longe da praia. — Falou Afonso, cortando asraízes e as grandes folhas que impediam sua passagem com sua espada. — E aindanão achamos nada.

A cada golpe ficava mais raivoso, o Sol já começava a sumirno horizonte e eles ainda nem sabiam onde iriam dormir. O plano inicialmenteseria de voltarem antes de escurecer, mas já parecia impossível, o escurodominava a floresta desde que desembarcaram, só poderiam voltar no momento queo Sol estivesse forte no céu, ou seja, no dia seguinte.

Padre Miguel acompanhava o grupo no último lugar da fila,virando-se atentamente com sua lamparina iluminando os cantos e buracos em quese ouviam ruídos.  Sentia-se apavorado,nas duas últimas viagens foi pior, não saía do encalço de Pedro. Pelo menosagora conseguia manter-se atento com os próprios pensamentos e andar sozinhocom as próprias pernas. Na sua frente estava Tiago, andando normalmente e asvezes rindo dos medos do pobre padre.

— Só continue em frente, temos de achar algo, ou alguém. —Alves retirou sua espada da bainha, começando a fornecer ajuda a Afonso.

Dois homens abriam caminho, tornando a caminhada muito maisrápida.

Pedro e Pereira estavam no meio, o primeiro iluminando avisão de Afonsos e Alves para os lugares, o segundo atento a qualquer sinal deperigo. Os seis podiam sentir um mal pressentimento no ar, pois a florestaestava silenciosa, a não ser pelos barulhos de cortes das espadas. Tiveram deparar no momento que a passagem estava bloqueada por um pequeno morro, os ladostinham muitas folhas, raízes e árvores, que mesmo sendo possível cortar,dificultaria muito a exploração, tornando-a mais lenta.

Tinham de subir.

— Maldição! Terei de me sujar, temos que tentar outra rota.— Enunciou Pereira.

— Deixe de besteiras, precisamos subir. Agora, segure aqui.— Pedro entregou a lamparina nas mãos de Afonso. — Só preciso. Tomar. Cuidado.— Falou entre grandes pausas, subindo o morro, apoiando as pernas e mãos naspedras que encontrava. Segundos se passaram e ele estava no topo. — É rápido,vamos. Passe isso para cá.

Afonso girou o braço e jogou o objeto para cima, Pedroagarrou a lamparina com louvor. Colocando-a no chão, apontou para Pereira. Esterevirou os olhos, demorou a subir por se preocupar demais com suas roupas,colocando os pés no mesmo lugar de Pedro, enfim estava no topo.

— Esperem um pouco! — Gritou Pereira.

Pedro o fitou, curioso. O sorriso de lábios surgiu quando oviu cortando uma raiz grossa da árvore e amarrando-a no tronco. Voltando àbeira do morro, soltou a corda, deixando a subida mais fáceis aos companheiros.Afonso guardou sua espada e foi o primeiro, seu peso não foi o suficiente parapartir a corda, mostrando mais segurança aos outros três.

O Padre foi o próximo, entregando a lamparina a Tiagoagarrou a raiz com força, com receio de acabar desabando. Sua escalada foi amais lenta de todos os presentes, queria se assegurar de subir cuidadosamente,uma queda poderia lhe partir um osso. Tiago arremessou a lamparina para Pedro,em seguida foi o próximo a escalar.

Alves mantinha-se preparado para subir, contudo, um som lhechamou a atenção. Um canto lindo de uma voz feminina ecoava nos seus ouvidos. Inclinandosua cabeça para trás, somente escuridão conseguia ver, nenhuma mulher cantavanada. Arregalou os olhos percebendo que a música continuava a ser cantada.Balançando a cabeça, apanhou a raiz e pendurou-se nela, conseguindo chegar aotopo, deu pequenos tapinhas nas roupas, removendo a sujeira.

— Andemos! Pois bastante tempo fora gasto neste morro. —Pedro afirmou.

Ao dar o primeiro passo, Alves parou, seus companheiroscontinuaram seguindo em frente. Olhando para o seu lado esquerdo, o som voltou,saindo da floresta por entre as árvores e penetrando nos seus ouvidos, chegandoagora em sua mente. Encantando, sem conseguir pensar direito, saiu da rota eadentrou a mata em busca da melodia. Retirou sua espada devagar, aindahipnotizado foi como se agissem por instinto, cortando as imensas folhas eraízes no seu caminho, a terra suja misturado a lama parecia ter aumentandonaquela área. Teve de dobrar o cuidado ou escorregaria feio.

Tivera a impressão de que as árvores aumentavam de tamanhona medida que descia no pequeno declive, suas pernas começavam a doer peloesforço para não acabar caindo e rolando até o final do caminho. A músicatornava-se mais forte, torando esse fato o mais importante. Tinha de saber,precisava desvendar a dona dessa misteriosa e encantadora voz.

Chegando a um pequeno desfiladeiro, havia um lago, e acentímetros uma pedra enorme onde sentada estava uma linda mulher. De costas,com a voz nas alturas, ela parecia se inclinar levemente para os dois lados,curtindo o próprio som da voz. A desconhecida elegantemente inclinou seu corpo,fitando diretamente o soldado.

Alves conseguiu enxergar um sorriso, entendeu a deixa comouma permissão para se aproximar. Colocando pernas e mãos sobre pedras,conseguiu descer lentamente, prestando atenção aonde pisava e segurava.Sentindo a terra firma, virou-se depressa no momento que percebeu o fim docanto.

Ele deu pequenos passos, ficando cada vez mais perto damagnífica mulher.

— Por obséquio, não pare por minha presença. Posso sair seassim preferir. — Implorou Alves, quase de coração partido.

A mulher pareceu corar, sorrindo timidamente, levantou-se.

— Gosto da sua presença... — ela aproximou-se. — Da suaaparência... — mais perto. — Dos seus lábios...

Inclinando-se sobre os seus dois pés, prestes a beijá-lo, amulher se afastou.

— Quem é você, qual seu nome?

A curiosidade matava Alves, tinha de saber mais informações.

Uma mulher de beleza estonteante, com a cabeleira loira quelhe atingia os joelhos, sua pele clara era quase translúcida. Sacudindo seuscabelos, ela começou a dançar, o vestido branco esvoaçando nos movimentoscalmos enquanto os olhos predatórios o miravam fixamente, brilhando de umaluxúria exagerada. Alves estava caindo direto na teia de sedução, uma visãodeslumbrante.

Ela girou em direção ao homem, envolveu os braços no pescoçodele e perto de beijá-lo percebeu uma discreta tenção.

— Algum problema comigo? — Perguntou a mulher.

— O problema é comigo, sou casado. Já tenho uma mulher.Sinto muito. — Alves quase deixou a tentação lhe corroer, mas tinha de fazer ocerto. Precisava ser fiel a quem amava.

— Ela não precisa saber!

Alves arregalou os olhos a um beijo da desconhecida, tentouafastá-la, mas sentiu-se fraco, com sono...queria descansar. O contato entre oslábios tornou-se mais intenso, principalmente por parte dela.

Ela o soltou, observando com um sorrisinho o desespero dohomem tateando o chão, tentando apoiar as mãos no chão e não conseguindo.

— Q-Quem é você? —Perguntou Alves, vendo tudo girar, afloresta, as árvores e o desfiladeiro. — O que aconteceu comigo?

A mulher deu pequenos passos, chegando mais próximo de suavítima seus cabelos reluzentes moveram para a esquerda e direita, desviando ofoco de Alves. Ajoelhou-se, mantendo o seu sorriso e fez um bico, moveu oslábios para frente e trás, simulando um beijo.

Alves sentia seu próprio corpo insustentável, sua respiraçãoacelerada indicava o seu cansaço. Tinha de resistir, aquela mulher só podia seruma bruxa, agarrou na sua garrucha, tentou puxar do coldre e não obtevesucesso. Tentou a espada, conseguiu sacá-la só até a metade, seus braçosficaram moles e a arma mergulhou de volta na bainha. Sua visão escureceu mesmona hora que desabou na terra por completo.

— Só fiz com que relaxasse. E meu nome, meuamor, é Alamoa.

Alamoa - A Dama De Branco (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora