Capítulo 7: Bosque Quieto

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A imensidão da noite crua começou a colocar medo no mais fraco do grupo, Padre Miguel. O religioso queria dar meia volta e fugir daquele lugar cheio de árvores a cada paço, tornando o espaço e claustrofóbico, a cantiga de animais mortos, o cheiro podre de fezes invadia suas narinas, forçando uma careta no seu rosto. Os outros quatro já estavam acostumados com aqueles obstáculos, tiveram treinamento em florestas várias vezes.

Tiago deu uma breve olhada no padre com uma lamparina na mão, a outra segurava o seu pingente. Perguntou-se o motivo de não ter nenhum terço em formato de cruz, já que todos os padres caminhavam com um desses enrolado no pescoço ou não mãos. Levantando a cabeça sentiu o vento forte balançando os galhos lá no alto, sentiu frio, bastante frio. Voltando a encarar o trajeto, o ar tornou-se intenso, fazendo as roupas do homem pairarem um pouco. O garoto preocupava-se mais com Pedro do que com os outros colegas. Ao contrário do próprio Tiago, Pedro parecia focado na missão de encontrar o companheiro desaparecido, nada parecia abatê-lo, ele não possuía temores ou medo da floresta.

— Por favor, meu jovem. — Sussurrou padre Miguel próximo de Tiago. — Faça com que Pedro dê meia volta e peça pela ajuda do capitão Henrique.

— Pedro é capitão também, e por qual motivo acha que tenho influência sobre ele? — Indagou Tiago, sem olhá-lo diretamente. Suspirou, desejando que conseguisse mudar a opinião de Pedro. — Se eu tivesse o poder, nenhum de nós estaria aqui.

Padre suspirou quando Tiago respondeu à própria pergunta, não queria ter de dizer o porque achava que o garoto podia mudar as decisões de Pedro. Dando uma ilhada de esguelha iluminou o caminho atrás de si, obviamente nada podia ver. Mas podia pressentir que os outros soldados também sentiam um certo pavor de estar andando pelas redondezas.

Afonso se aproximou de Pereira, começando a ficar paranoico, o receio de que algo grave tivesse abatido Alves era muito grande.

— Estamos perto do paradeiro dele?

— Olhe. — Apontou Pereira na direção do chão, onde enxergava o rastro de água. — Já está desaparecendo, estamos perto de chegar em algum lugar. Alves não pode estar muito longe.

Pereira passou o olhar na faceta de Afonso, preocupado e angustiado.

— Fique tranquilo, Alves é um bom soldado, deve estar tudo bem. — Pereira deu pequenos tapas no ombro do amigo, tentando passar um pouco de tranquilidade. — Ele precisa de nós, permaneceremos calmos, o localizaremos, e então poderemos voltar.

Deu seu simples sorriso de sempre antes de voltar a concentrar-se no rastro. Entendia a preocupação de Afonso, pois ele sentia o mesmo sobre Alves: o homem era como um irmão caçula, um maldito chato quase a todo momento, mas bastante querido quando precisavam dos seus conselhos.

Os sons dos passos dele começavam a chamar uma atenção desnecessária, caso continuassem caminhando por mais tempo teriam de ficar preocupados com um animal mais perigoso do que só uma cobra.

Afonso cortou mais um pouco de raízes e folhas, então Pereira pôde finalmente sorrir de alegria. Esperou até que os outros chegassem mais perto, seguidamente apontou para uma casa de tamanho médio feita de madeira perto de uma colina, parecia abandonada. Para os homens era a única pista que possuíam.

— Ali, podemos encontrar índios e perguntar sobre o paradeiro de Alves.

Padre Miguel franziu o cenho.

— Pensei que Índios morassem numas espécies de ocas. Pelo menos foi o que eu ouvi de marinheiros... — Pronunciou o Padre. — Acho que deveríamos voltar...

Pereira começou a andar, caso permanecesse parado seria capaz de socar Miguel, nunca viu homem tão covarde durante a vida. Tiago, Pedro e Afonso seguiram o colega, sem outra escolha o padre também começou a segui-los.

Saíram do meio de tantas árvores e mato, entraram numa área aberta de um pequeno bosque. Ali, nada se podia escutar. Pedro rapidamente sacou sua espada e os outros ficaram atentos.

— O que foi? — Perguntou o Padre.

— Nenhum som, de pessoas ou animais. Fique atento! — Respondeu Tiago.

Miguel engoliu em seco, só queria uma missão fácil, sem nenhum perigo aparente. Nas suas duas últimas jornadas ao lado de Pedro nunca chegou a correr perigo. Fez o ordenado, o medo tamanho o fazia olhar para os dois lados constantemente, preparado a correr caso um bicho pulasse de dentro da floresta e decidisse atacar.

Pereira parou perto da porta desgasta e com pequenas fenadas onde a luz da lua poderia passar. Bateu na porta uma vez, duas vezes, ninguém atendeu. Levantou a lamparina e tentou espiar em um dos buracos, movendo a pupila seu olhar focou-se numa mesa, o que era tudo que conseguia enxergar.

— Alguém aí? — Gritou, batendo com mais forças.

— Creio ser melhor não chamar a atenção. — Murmurou Afonso.

— Tens razão.

Pereira tocou na porta para examinar algum jeito de entrar sem fazer barulho, contudo, o seu toque sútil foi o suficiente para ela se abrir lentamente sozinha acompanhada de um ruído que fez Tiago tapar os dois ouvidos. A escuridão pairava dentro lugar, os cinco ficaram receosos de entrar, queriam tentar chamar por alguém novamente, no entanto, se ninguém respondeu na primeira vez, duvidavam muito que fariam isso agora.

Dando um passo adentro Pereira levantou a lamparina, iluminando a cama e o que pareciam ser.... dois pés amarrados a cordas. Andando mais um pouco a luz do fogo revelou a identidade do indivíduo por completo.

— Alves! — Chamou Afonso, guardando a espada na bainha e correndo na direção da cama podre. — Ele está preso.

Pedro Gonçalves por um momento paralisou no lugar, imaginando quem podia ter sequestrado um de seus homens e ter o prendido nu naquele lugar asqueroso. Sua guarda aumentou duplamente, pois sozinhos eles não estavam.

Pereira correu em direção ao Padre e pegou sua lamparina, colocando os dois objetos na mesa a luz forte iluminou todo o cômodo. Correndo na direção do amigo, desembainhou a espada e cortou as cordas.

Afonso tinha o rosto de Alves nas palmas das duas mãos, chamava seu nome várias vezes, mas foi no momento que deu pequenos tapinhas que um rastro de baba escorreu pelo lado direito da boca, seus olhos se abriam devagar.

— Depressa, pegue suas roupas! — Ordenou Pedro a Tiago, apontando para as vestes debaixo da mesa.

Tiago correu, ajoelhou-se e num piscar as roupas estavam em suas mãos, levantando-se correu na direção de Pereira.

Afonso fez o melhor amigo ficar sentado no colchão rasgado, levantando-o Pereira conseguiu vesti-lo, não abotoaram nem nada, o principal no momento era o seu bem-estar físico e emocional. Também precisavam saber o que aconteceu, só Alves podia contar quem o sequestrou.

— Vamos meu amigo, preciso que recobre a consciência. — Disse Afonso. — Isso, assim. Está indo muito bem.

Alves conseguiu com muita dificuldade remover a saliva abundante que escorrera involuntariamente da boca. Apoiando-se mais em Afonso, conseguiu manter as pernas firmes no chão e se sustentar sozinho. Sentou-se na cama e encarou seus amigos.

— Vocês vieram...

— Em nome de Deus, o que aconteceu a você? — Perguntou Miguel.

Alves precisou estufar o peito e soltar a respiração antes de falar, a vergonha obrigando-o a ficar quieto, a humilhação de ser abusado rondava a sua mente. Precisava ser forte, contar-lhes tudo, todavia, abrir-se com outros homens tornou-se uma tarefa impossível. Reprimindo suas memórias do sexo imundo, foi direto.

— Precisamos sair daqui ou nossas vidas terão umfim. Aqui. Nesta casa no meio da floresta! 

Alamoa - A Dama De Branco (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora