Capítulo 12: Sem Esperanças

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— Temos que sair deste lugar, companheiro. — Exasperou Alves, dando uma rasteira no chão e cegando a Pedro mais rápido.

Pedro tentou ficar de pé, mas a dor falou mais alto.

— É fácil dizer quando não é você que levou um golpe horroroso.

A testa do homem suava bastante, nunca imaginou que pudesse morrer ali, sem ter uma última vista de Tiago. Tinha tantos títulos a conquistar pelo resto da vida, só queria mais uma chance de sobreviver. Tentou adivinhar quais foram os últimos pensamentos dos seus amigos antes de morrerem, não que isso importasse naquele ponto, mas não havia nada melhor para se fazer.

Alves rasgou um pedaço da sua farda, numa manobra inteligente fez o tecido dar uma volta inteira pelo peito de Pedro, em seguida deu um nó resistente. Foi o máximo que conseguiu fazer, pois não tinham nada. Teriam de fugir se quisessem sair dali ainda vivos.

— Vamos! — Alves forçou Pedro a levantar com bastante dificuldade. — Logo a dor diminuirá e você conseguirá suportá-la o suficiente e andará sozinho.

Pedro rodeou seu braço no pescoço de Alves, apoiando-se e conseguindo permanecer de pé.

— E Tiago, e o Padre? Temo de encontrá-los.

— Sinto muito. — Falou Alves duramente, sem saber realmente se estavam vivos ou mortos. — Neste momento só nossas vidas importam. Precisamos encontrar a tripulação e contar o que houve nessa floresta infernal.

Pedro odiava a ideia de ter que deixar Padre Miguel e Tiago, mas nada podia fazer, pelo menos até que conseguisse recuperar as forças. Ao entrarem no interior nublado, o Vice Capitão sentia a dor diminuindo, desse modo, já conseguia colocar forças nos pés, ajudando Alves a se locomover mais rápido.

Nada podiam ver, com exceção da nevoa branca, tiveram de tomar muito cuidado para não caírem em mais uma armadilha, de olhos bem atentos, começaram a tatear alguns troncos. Alves tinha de ficar concentrado no seu objetivo, sair daquele ambiente medonho, ressurgir novamente sobre a luz da lua cheia, para que pudesse ter uma mínima chance de achar o caminho de volta.

Alves podia sentir o peso de Pedro ficando mais leve.

— Está vendo, já está conseguindo andar. — Alves tentou tirar alguma alegria daquele fato, tinha de reunir forças se quisesse continuar. As esperanças se esvaiam a cada vez que pensava, Alamoa já devia estar no encalço dos dois, Pedro estava longe de estar completamente apto a andar sozinho. — Logo, logo estaremos no Nau.

O rosto esquenta, as bochechas ardem quando as lágrimas emergem dos olhos, sua mente lhe dizia a verdade, nada podiam fazer para sobreviver. Enfrentavam um inimigo desconhecido com poderes misteriosos, não sabiam como detê-la. Queria conseguir chegar até sua mulher, dizer que a amava uma última vez, infelizmente o destino de um soldado poderia ser cruel, nunca mais a veria, nunca mais beijaria seus lábios ou provaria de seu corpo. A única lembrança forte no momento, eram quando os dois ficavam juntos, sem fazer nada, só aproveitando a companhia um do outro.

Conseguindo sair da nevoa viu as árvores nitidamente, bem como o chão, o mato e realces da lua por entre os galhos. Com cuidado colocou Pedro sentado num tronco, precisava respirar um pouco, já estava cansado. Olhando para o amigo percebeu sua expressão de dor, o ferimento devia estar mais horrível do que imaginava, mas antes se encontrava muito pior.

Ouvindo um rosnar fino e tenebroso, Alamoa anunciou sua volta precipitadamente.

Alves com as mãos nos joelhos respirando ofegante, o ar queimando sua garganta, levantou a cabeça e olhou para a nevoa, o suor escorrendo da testa. Soube que tinha de ir, agora. Por isso ajudou Pedro a ficar de pé e recomeçaram a caminhar, dessa vez mais rápido.

— Preciso que faça um esforço, está bem? — Alves forçou as cotas de Pedro, obrigando-o a ficar o mais reto possível. Nesse momento outro rosnar furioso ecoou.

Alves ficou surpreso com a leveza que levava o corpo, Pedro praticamente caminhava sozinho, mais um pouco e poderia soltá-lo. Desviaram de alguns galhos, mas as raízes juntamente com as folhas enormes dificultavam muito, já que não tinham suas espadas tinham de resistir ao incômodo.

A Lua cheia parecia ficar mais cheia, emitindo seus raios de luz mais brilhantes fazendo com que a nevoa se dissipasse no ar. Alves olhou por sobre o ombro por uma mínima curiosidade sua, vendo uma sombra esquisita e vulto soube que se tratava de Alamoa, mais do que nunca fez suas pernas trabalharem o dobro.

A cada passo dado sua respiração tornava-se algo difícil, os músculos inferiores tornavam-se difíceis de suportar. No momento que uma melodia estranha invadiu seus ouvidos, antes de transformar-se num zumbi sem alma, inundou seus pensamentos com sua esposa, aquela que aguardava sua volta, a mulher que o amava. Isso deu forças para conseguir manter sua mente sã, pelo menos, por um tempo.

O som na sua cabeça estava tornando-se insuportável, ter de aguentar o peso de Pedro e o seu próprio tão pouco contribuía. Quando deu por si, topou numa pedra e os dois caíram no chão, cansados, doloridos, derrotados.

— Preciso... tenho que... levantar... — Alves apoiou suas duas mãos no chão, tentando se erguer, contudo, fraquejou e voltou ao chão.

Sentiu uma mão nas suas costas, virando-se, deu de cara com Alamoa, com metade do rosto esquelético. Ela subiu em cima da cintura, ficando na mesma posição de quando fizeram amor pela primeira vez...

— Sentiu saudades meu amor?

— Por favor, não...

Alamoa o beijou, sua língua cruzando-se com a dele. Então num ato de frieza seus dentes prenderam a língua de Alves, fazendo este gemer de uma dor imensurável. Alamoa levantava sua cabeça devagar puxando o tecido com força. O corpo do soldado começou a se debater, nem conseguia mais falar, seus olhos reviraram. Parte do tecido desprendia-se e quando finalmente se partiu, sangue inundou a boca de Alves, o sufocando.

O pouco que respingava na face de Alamoa, seus dedos finos absorviam e depois ela esfregava as mãos sujas do líquido vermelho nos seios fartos sobre o vestido. Rindo enquanto a vítima debatia-se por entre suas coxas, observou o desespero no rosto do seu homem, a vida tentando se apegar a algo e não conseguindo.

Alamoa gemia igual uma louca, excitava-se com os gritos dolorosos e sufocantes do amante, e, quando menos esperou, ela teve um orgasmo enquanto o corpo parava aos poucos, até o momento que ficou imóvel.

— Sua Jabiraca!

Alamoa, satisfeita por completa, encarou o último homem com seus olhos vermelhos. Aproveitaria os últimos momentos do homem que foi capaz de resistir aos seus encantos, nada nela o atraia, pois apreciava um músculo de tecidos extras que a mulher não possuía. Equilibrando-se sobre as duas pernas, andou até ele sorrindo, imaginando todas as possiblidades que teria para prová-lo.

De repente pingos a fizeram parar a centímetrosdele, sua mão com escamas voltara ao normal, bem como a metade do rostoesquelético. Na forma de uma mulher assustada, frágil, apavorou-se no primeiroclarão. No segundo, virou-se, agarrou o colarinho do defunto e correu para aescuridão da floresta, arrastando o corpo junto para longe da visão de Pedro.

Alamoa - A Dama De Branco (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora