Capítulo 9: Correr ou Morrer

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Padre Miguel continua fugindo, Deus sabe-se lá para onde. Tinha esperanças de encontrar o caminho certo, sair daquela floresta e embarcar novamente no transporte que o levaria de volta ao lar. Sua batina encontrava-se encharcada, nem com a luz forte da lamparina conseguia enxergar direito, pelos inúmeros pingos de água atrapalhando.

Sempre dava uns vinte passos, depois girava várias e várias vezes, em seguida mergulhava mais afundo na floresta sem fim. Precisava sair, tinha de ficar o mais longe possível daquele inferno. Jamais imaginou que Deus pudesse mandar um demônio para punir seus pecados internos.

Tudo foi um erro, tinha de ter conseguido controlar os seus desejos. Nunca pensou que seria punido naquele lugar. Só queria ir embora. Lágrimas saiam de seu rosto vermelho encoberto pela chuva. Sua respiração pesada atrapalhava seu foco, parou novamente, erguendo a lamparina nada conseguia enxergar além de troncos por perto.

— Me perdoe Senhor, pelos meus pecados...

Virou-se ouvindo um guinchar fino, e rapidamente correu na direção oposta. A mulher demônio estava no seu encalço, podia senti-la chegando mais perto. Seus calcanhares doíam e seus dedos dos pés ardiam. Nesse momento queria ter aprendido a manusear uma arma, pelo menos teria alguma chance de se defender. O pobre coitado corria e corria, não chegando a lugar nenhum.

Junto com o guincho que lhe incomodava os ouvidos, Miguel escutara passos, pisadas fortes no chão. Ela o perseguia na mesma velocidade que a dele, ou até mais. Engolindo em seco, desatou a fugir. Tinha de ignorar a dor insuportável, caso parasse, seria o seu fim. Queria saber por onde ir, mas a verdade que já pensou na hipótese de estar dando círculos, o que seria ainda pior, pois seria questão de tempo até fosse capturado e morto.

— Deus, lhe imploro, me mostre um caminho... — Sussurrou entre os dentes.

O frio já ganhava forma nos dentes rangendo e no corpo trêmulo. Teve de parar, precisava recuperar o fôlego, apoiando-se nos joelhos, puxou o ar e depois o soltou. Ficou nesse estado até que os sons ficaram mais fortes. Rodopiou a área que estava, via muitos arbustos, raízes e troncos grossos. Num desses troncos deixou a lamparina, em seguida do outro lado, a metros de distância encontrava-se outra árvore, dessa vez fina, o suficiente para acobertá-lo.

Aquela luz iria atrai-la, vendo-a distraída fugiria para o outro lado. Abaixou-se e esperou, misteriosamente os guinchos pararam, contudo, os passos estavam a todo vapor. Olhando de relance a área iluminada pela lamparina arregalou os olhos, um homem asqueroso e deformado aproximou-se do objeto, curioso, ele andava como um animal sobre quatro patas, movimentando-se pelo chão com os pés e ambos os braços. Outro demônio, pensara que talvez Deus quisesse mesmo vê-lo no inferno.

A inocência do padre o fizera ficar distraído, em vez de sair ficou imóvel no lugar inerte nos próprios pensamentos. Nunca devia tê-lo conhecido, sua queda começou no momento que seus pensamentos indecentes o consumiram com o desejo da luxúria.

Prometer ser um homem puro de corpo e alma foi impossível, pois o prazer da carne lhe consumiu e agora seu senhor o punia por tal ofensa, enviando demônios para arrancarem sua vida e, talvez, purificar seus pecados.

Voltando ao mundo real, continuou encarando a criatura, que por sua vez tentava decifrar o objeto na sua frente. Miguel levantou-se devagar, com as mãos no tronco desgastado, ficou curvado, preparado para correr. Virando com cautela gemeu de surpresa, havia outra nas suas costas, com os lábios pingando sangue. A criatura grunhiu alto quando desferiu um golpe de unhas horizontalmente no rosto do padre, três marcas com o mínimo de espaço da testa do lado direito escorregavam ao queixo do lado esquerdo.

Condenado por gritar de dor, a outra criatura foi atraída pelo som interminável de agonia. A primeira agarrou suas pernas, tentando puxá-lo levou um chute tão forte no rosto que caiu no chão enraivecida. O Padre levantou no instante que o outro demônio pulou nas costas, mordendo o seu pescoço. Gritos de ambos foram ecoados, Miguel deu passos fortes para trás, chocando a criatura contra o tronco forte e duro.

Alamoa - A Dama De Branco (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora