Capítulo 8: Fuga

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Os homens queriam compreender os significados das palavras de Alves. Iriam morrer? Por mais que quem o tivesse sequestrado fosse forte, provavelmente era só um contra seis homens. Talvez cinco tirando Padre Miguel. O lugar ainda permanecia em silêncio, tendo como exceção a voz dos soldados.

— Existe uma mulher, perigosa e monstruosa. Uma bruxa com poderes de sedução. Temos de sair daqui. — Proferiu Alves, com mais afinco. Ver a dúvida nos olhares dos companheiros tiravam a sua calma.

— Foi sequestrado, amarrado numa cama, nu e desacordado por uma simples mulher? — Perguntou Pedro, querendo acreditar nas palavras de Alves, mas não conseguindo.

— Sei que parece loucura. — Alves engoliu em seco. — Evitem focar nos detalhes e se concentrem no fato de que devemos sair desta floresta.

Do seu lado, Afonso tinha um misto de sensações duvidosas, queria acreditar muito na história. Todavia, crer que uma mulher foi capaz de derrubar um homem grande parecia demais.

— Precisa de um descanso companheiro, sei que ser encontrado de forma humilhante pode ser vergonhoso....

— A forma que fui encontrado não importa! — Gritou Alves, removendo a mão que Pereira quis colocar no seu ombro. — Estamos perdendo tempo...

Os pelos do corpo arrepiaram com uma sensação estranha de medo, o vento parecia calmo de mais com o clima demonstrando estar prestes a chover. As árvores balançavam seus galhos não emitindo nenhum dos mais simples sons, as folhas verdes caiam formando pequenos redemoinhos no ar e sumiam no céu. A respiração de Alves aumentava na medida que ele virava, passando olhar pelos seus companheiros, Pedro, Miguel, Tiago, Afonso e quando finalmente chegara a Pereira, percebeu uma silhueta feminina atrás dele.

— Cuidado!

Tiago e Afonso sacaram suas garruchas e miraram na figura fantasmagórica loira atrás de Pereira. O próprio Pereira virou-se, a mulher usava um vestido verde, suas pernas extremamente longas a faziam ser a mais alta de todos ali, os olhos eram pretos. Pôde ver os inúmeros dentes no momento que Alamoa soltou um ganido.

A predadora pulou em cima do homem, apoiando os pés nos joelhos dele, mergulhou seus dentes no pescoço, a pele branca foi perfurada e sangue escorreu lentamente. O grito perdurou pela floresta, dois tiros acertaram a cabeça da criatura de repente. Alamoa pulou, arrancando um pedaço de Pereira.

O homem se ajoelhou com as mãos no pescoço, tentou soltar palavras, implorar por ajuda, mas só saliva saia, além do sangue banhando suas mãos e peito. Sua farda assumia uma cor mais vinho, quando caiu no chão os outros ficaram espantados.

Alamoa os encarou, a bala na testa e bochecha esquerda começaram a emergir de dentro dela, caindo no chão os ferimentos cicatrizaram num piscar de olhos. Ele segurou nas pernas de Pereira e tentou arrastá-lo, mas Afonso sacou sua espada e pulou em cima do corpo, conseguindo desferir um golpe nas mãos da mulher, fazendo-a soltar. Ela guinchou alto, agarrando os cabelos de Pereira, tentou puxá-lo novamente. Pedro e Alves tiveram de ajudar Afonso a puxá-lo pelas pernas.

Padre Miguel tinha dificuldades de manter a lamparina parada, nervoso da cabeça aos pés, fugiu para a floresta. Tiago era o único livre, não podia deixar o homem sozinho, em decorrência disso, saiu em disparada atrás do religioso.

— Ele é meu! — Rugiu a mulher, continuando a puxar.

Alves gritou, segurou a lamparina caída no chão e acertou o lado direito da cabeça dela, o vidro do objeto partiu-se em pedaços com a força do impacto. Chamas invadiram os cabelos longos da moça, ela fora obrigada a soltar.

Raios partiam o céu e pingos de água molhavam o chão, para o azar dos soldados o chuvisco logo se deu início, apagando as chamas na cabeleira da criatura. Alamoa olhou para o céu, vendo mais uma claridão seguida de um estrondo forte, gritou. Levantando-se desatou a correr na direção de sua casa.

— É nossa chance, temos de ir embora! — Gritou Pedro.

Os três usaram seus esforços para levantar o corpo inconsciente de Pereira, ligeiramente adentraram a floresta, encharcados, caso não achassem um abrigo logo pegariam hipotermia. Alves carregava as pernas enquanto movia-se de costas, Pedro segurava o lado esquerdo do corpo e Alves os ombros. Apavorados demais pelas visões aterrorizadoras daquela monstruosidade que nem sabiam para onde iam.

Do outro lado da floresta, Tiago corria atrás de Padre Miguel, conseguia enxerga-lo graças a lamparina mostrando sua luz aos longes. Aquele desgraçado era veloz, o medo podia revigorar uma pessoa. Podendo ouvir os próprios passos e escutar o som da respiração cortante, Tiago continuou a correr, havia receio de que Pedro sofresse as consequências por causa do Padre imbecil. Tinham de ficar todos juntos, seu erro foi continuar só olhando sua dianteira, se fosse mais atento teria olhando o chão aonde seus pés pisavam, a conclusão foi que tropeçou numa pedra enorme e caiu num buraco. A cabeça bateu em algo duro e o levou ao desmaio.

— Onde estão Miguel e Tiago? — Perguntou Pedro, a voz aflitiva. — Tenho de encontra-los!

Prestes a largar o corpo, Alves gritou.

— Ficou maluco? Temos um soldado ferido. — Olhando para trás só viu mais e mais fileiras de árvores. — Estamos presos aqui.

Afonso parou, devagar fez os outros dois junto dele depositarem o corpo no chão.

— Ouviram isso?

— O que? — Indagou Alves. — Temos de ajudar...

— Olhe para ele, não esboçou nenhuma reação desde que começamos a carrega-lo, seus olhos brancos cospem o inevitável, Alves. Pereira está morto! — Pronunciou Pedro.

Sons estridentes ecoaram na floresta, captando as atenções dos três homens.

— Ela está voltando! — Gritou Alves, sacando a espada.

— Guarde isso, vamos subir nas árvores, não temos mais lamparina. Usaremos a escuridão a nosso favor, subam e fiquem quietos. — Ordenou Pedro.

— E Pereira? — Afonso perguntou, tendo ideia da provável resposta.

— Receio que temos de deixá-los, algo que manchará nossos corações para sempre. Mas no momento, precisamos pensar na sobrevivência. — Pedro foi o primeiro a subir, agarrou no primeiro tronco enorme e grosso, conseguindo pendurar-se numa dos galhos mais altos.

Afonso e Alves permaneceram receosos por pouco tempo, já que ouviram o som agudo novamente. Subiram depressa na mesma árvore da de Pedro, e lá ficaram. Engoliram em seco no momento que escutaram galhos secos se partindo, alguém estava próximo.

— Sua garrucha tem munição? — Sussurrou Alves a Pedro.

— Nada, Afonso e eu já usamos a nossas e acho que aquela mulher destruiu a sua. Tiago usou a dele na criatura, só sobrou...

Os três olharam o cadáver do companheiro Pereira já sem vida estirado na terra. Tiveram de controlar a respiração ao se depararem com dois homens de aparências monstruosas chegando perto do corpo e farejando. Alves lembrava-se deles na casa de Alamoa enquanto era abusado, teve tempo de absorver cada detalhe. O mistério de saber como ela os controlava instigava sua mente, tinha de admitir. No entanto precisou reprimir à vontade vomitar, viu um dos monstros arrancando a orelha direita do corpo de Pereira.

Afonso recostou as costas no tronco e olhou para cima, desviando-se da visão infernal. Pedro continuava a encarar sem querer acreditar no absurdo. As criaturas continuaram arrancando pequenas partes até que finalmente lembraram-se do motivo de estarem ali, cada um segurou uma perna do cadáver e o puxaram de volta ao bosque, direto para a casa de Alamoa.

— Acha que devíamos sair? — Afonso sussurrou, ainda sem forças de olhar o local das barbaridades.

— Esperemos um pouco, só por garantia de que jáforam mesmo. — Pedro continuou cauteloso, inspecionava o lugar. Tinha aimpressão de que eles vieram com um único objetivo, matar os sobreviventes elevar o que restou a sua dona.

Alamoa - A Dama De Branco (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora