Capítulo 10: Sobrevivência

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Tiago permanecia neutro, somente respirando e encarando o corpo do padre onde o sangue escorria, sendo lavado pela chuva. O próprio soldado estava ensopado, tinha de sair dali, precisava, mas suas pernas não lhe obedeciam, pois, sua mente estava ocupada com uma única pergunta, sendo repetida por várias vezes na sua cabeça: como pudera ser tão burro? Tão iludido?

Acreditar num conto de fadas foi o seu erro, estava na vida real, devia estar preparado. Todo mundo estava sujeito àquilo. Piscou, voltando a realidade no momento que um ganido foi captado pelo seu ouvido. Engolindo em seco, encarou o padre pela última vez, desejando que o desgraçado queimasse no inferno. Outro ganido, dessa vez mais forte. A criatura voltara, e dessa vez não pretendia fugir.

O monstro chegou na área, avistando somente o corpo do padre. Virou o corpo completamente, examinando em todo o lugar. Farejou a terra suja e cheia de lama, nada conseguia detectar, a chuva levava o cheiro embora. Procurou por de trás das árvores, da última vez encontrou o padre escondido numa delas. Ficou ereto nas duas pernas, caso sua caça estivesse armada e decidisse ataca-lo.

Uma após a outra ele verificou os troncos, e nada. Em nenhum lugar o garoto se encontrava. Tinha de deixar o corpo do padre e procurar mata adentro.

Tiago conseguiu sair a passos lentos e silencioso do lugar, tendo êxito em não chamar a atenção, escutou mais rosnados e ganidos. O monstro por algum azar o seu estava no encalço, teve de continuar prosseguindo em frente sem perder a calma, encontrar os outros companheiros era sua única chance.

A floresta parecia não ter fim, suas entranhas pareciam querer que o garoto ficasse dando voltas e mais voltas. Os sons aterrorizantes o faziam querer correr, mas se por um acaso acabasse se rendendo a isso, o inimigo escutaria. Tinha de dar um outro jeito, mesmo com seu cheiro sendo encoberto pela chuva, o monstro fazia o possível para seguir os mínimos rastros, principalmente as malditas pegadas que deixava.

Moveu rapidamente, em círculos, na direção norte, sul e para todos os outros lados, deixando inúmeras pegadas, com rastro indefinido. Olhou para trás quando o vento frio ficou ainda mais gelado, soprando na direção do monstro, seu tempo acabou. Tinha de pensar rápido.

O monstro seguiu as pegadas direitinho. Chegando até a área com muitas outras pegados, franziu o cenho e gritou de raiva. O maldito tentava a todo custo fugir de suas garras, começou a tatear pelo chão lamacento, tentando descobrir o caminho por qual o monte de fezes prosseguiu. Achou um rastro onde as pegadas passavam por várias árvores, ele podia ter ganhado tempo, mas a criatura era rápida, por isso desatou a correr na sua única pista.

Tiago, agora em cima de um galho grosso no alto de uma árvore, sentiu um alivio vendo o homem-animal desaparecendo ainda mais afundo na mata. Esperou mais algum tempo, em seguida, com cuidado, desceu. Pondo os pés no chão, ainda se preocupou em evitar a fazer qualquer tipo de som, nem respirava direito com o temor de que de algum modo atraísse a criatura.

Sacou sua espada devagar, o som que a lâmina fez ao se arrastar e sair da bainha foi curto e baixo. Queria ainda poder ter sua arma, pois um tiro certeiro na cabeça conseguiria acabar com a criatura. Mas tinha de ficar contentado com a espada, começou a andar por muito tempo, a todo momento com receio de encontrar a criatura. Quando seus pés já começaram a doer, avistou uma luz forte, lembrou-se que o padre carregava uma lamparina e deve ter deixando-a cair. Correu até o objeto, e, abaixando para pegá-la, parou. Caminhar com um objeto luminoso entregaria sua localização, mas não havia outro jeito, com as rotas iluminadas poderia ser mais rápido e encontrar Pedro e os outros.

Se ainda tiver restado algum vivo.

No momento que agarrou o objeto, alguém se jogou contra ele e ambos caíram no chão. Tiago apoiou as mãos no chão e levantou a cabeça, o monstro rosnou e o garoto inclinou o corpo, conseguindo acertar um chute no rosto do outro. Eles voltaram a cair no chão lamacento, e, completamente sujos, conseguiram se reerguer.

Desferiu um golpe de espada no meio do peito da criatura, causando um corte profundo, sangue esguichou e a criatura gemeu fino. O monstro contra-atacou quando arranhou o rosto de Tiago, deixando apenas uma marca superficial.

Tiago se perguntou sobre de qual forma a criatura o encontrou, deviam ter tido a mesma ideia de seguir a luz forte. De qualquer forma, um dos dois iria morrer naquela área. Com cuidado, posicionou suas pernas e espada. A criatura avançou e ele também, os dois embrenharam-se no chão, a espada caiu na lama, deslizando para metros de distância.

O garoto virou-se, rastejando pela lama, tentando alcançar a espada, os movimentos lentos deviam-se pela criatura com um braço envolta do pescoço, o estrangulando. Conseguindo mover-se o suficiente para acertar uma cotovelada no queixo do inimigo, Tiago arrastou ainda mais. Novamente sentiu as garras da criatura, dessa vez rasgando suas costas.

Faltava pouco...

Muito pouco...

Seu braço direito estendido, buscando alcançar o cabo da espada.

Sentiu sua roupa sendo rasgada, as garras começavam a rasgar a pele, causando uma ardência insustentável. Tiago nos últimos esforços conseguiu mover mais alguns centímetros, conseguindo finalmente ter a arma nas mãos. Acertando mais uma cotovelada no rosto da criatura, inclinou-se e golpeou-a com um chute.

A criatura ficou de pé rapidamente, correu alguns paços e pulou para cima dele. O garoto gritou e enfiou a espada no olho esquerdo do monstro, fazendo-o cair rapidamente. Retirou a espada com a ponta ensanguentada e enfiou no coração da fera, o matando.

Respirando com dificuldade, a ardência nas costas já começava a diminuir, mesmo que ainda estivesse insuportável. Removeu sua espada do corpo morto, um pouco de sangue espirrou do peito, escorrendo por todo o lado. Guardou-a em sua bainha, em seguida agachou e segurou a lamparina. Tendo a luz que necessitaria para iluminar o trajeto, saiu daquele lugar imundo.

Precisava encontrar seus companheiros, oumorreria sozinho na escuridão da floresta. Tinha fé de que conseguiu matar asduas últimas criaturas daquela mulher misteriosa, restando agora só ela para matar.

Alamoa - A Dama De Branco (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora