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POV Percy

  Está definido: tem como uma pessoa morrer de tédio. E isso está acontecendo comigo agora mesmo. Morrendo silenciosamente.

  Se você ainda tem dúvidas, eu estou na reunião da empresa, sendo enforcado por uma gravata e apertado até a morte por um terno. Sério, qual a necessidade de usar essas roupas? E qual a necessidade de eu estar nessa reunião? Meu pai nem fala comigo, nem nenhum dos outros funcionários. Ele acha que eu aprendo melhor com a "arte da observação". Mas eu nem posso opinar. Não que eu queira. Se qualquer pessoa falar algo comigo agora sobre a reunião, eu não vou saber o que dizer.

  Olho para a janela, o que era uma espécie de tortura. A paisagem de Atenas era tão atrativa que eu faço a menor ideia do que eu estou fazendo preso nessa sala. O mar brilhando lá no fundo parecia estar me chamando (bem Moana). Veja, eu tenho essa afeição pelo oceano. Não sei de onde vem, mas o oceano sempre me encantou. Meu sonho de verdade é ser biólogo marinho, mas cadê que meu pai liga para isso? A única pessoa que realmente sempre me apoiou foi a minha mãe... mas aqui estou eu, a mais de três mil quilômetros dela.

  - Intervalo de dez minutos. - disse meu pai, se levantando e organizando os arquivos.

  É a minha hora. Me levanto e saio da sala, junto de todos os outros funcionários. Eu tinha que inventar uma desculpa plausível para ser tirado dali. Simplesmente sair? Não, conhecendo meu pai ele enviaria um grupo de busca atrás de mim. Dizer que estava se sentindo mal? Pode ser, mas como eu posso parecer doente? Posso dizer que estou com uma enxaqueca muito forte e molhar um pouco a minha cara. Tomara que meu pai me deixasse por isso. Fui no banheiro e joguei um pouco de água no meu rosto, baguncei mais ainda os cabelos e fiz a minha melhor cara de cansado. Esfreguei um pouco minha mão na minha bochecha, o que fez ela ficar meio vermelha. Ok, lá vou eu.

- Pai? - chamo, quando o encontro perto da cafeteira.

- Percy? Você está bem? - ele diz com uma cara de preocupado. Duvido que ele esteja de verdade.

- Tô me sentindo estranho. Minha cabeça tá doendo muito e tô suando frio - falo.

- Sabia que aquele aeroporto era mal-higienizado... vai pegar um remédio na minha maleta. - ele pediu (ordenou).

- O remédio tá no hotel - respondi. Era verdade.

- Que? Mas... - ele tenta começar, mas eu o interrompo com um espirro. O bom foi que esse espirro veio de verdade, por causa da poeira. - Quer saber? Hoje não tem mais tanta coisa... pode voltar pro hotel.

- Certo, obrigado, pai.

- Argos vai te levar. - ele afirma e já se vira para conversar com outros executivos.

Me viro para trás e quase tenho um ataque do coração quando vejo que Argos está parado atrás de mim. Argos é o cara que trabalha na segurança da empresa e também serve de motorista. Ele é louro, de olhos azuis, e nunca fala (se falar, é pra xingar).

- Ah... oi, Argos - balbucio.

Argos se vira e começa a andar até o elevador. O sigo.

                                              - - -

  Argos me acompanhou até meu quarto do hotel. Agradeci e entrei no quarto. Fui direto trocar de roupa. Coloquei uma camisa azul e uma bermuda qualquer, com tênis normais. Enxuguei minha cara e tentei pentear um pouco os cabelos. Não deu certo. Deixei do jeito que estavam. Só para meu pai não suspeitar de mim, deixei as coisas meio bagunçadas e deixei o remédio do lado de fora da mala. Bebi água e deixei o copo vazio do lado do remédio. Tudo certo. Coloquei uma quantia de dinheiro no bolso, junto do meu celular e a chave do quarto. Garanti que não tivesse ninguém do lado de fora do corredor e saí. Desci o elevador e atravessei a recepção, logo indo para as ruas. Finalmente livre.

Olhos solitários- PercabethOnde histórias criam vida. Descubra agora