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Annabeth POV

  - Aeroporto Internacional John F. Kennedy, por favor - instruo o táxi.

Ele nem me dá um resposta, apenas parte à caminho. Suspiro. Essa vai ser um viagem longa. Peguei meus fones de ouvido e os coloquei, conectando-os com a música no meu celular: Photograph, do Ed Sheehan. Essa é minha música preferida. Ela fala de assuntos pesados de uma forma leve e doce, mostrando que tudo passa. A dor passa. A tristeza passa. A solidão passa. O mundo passa. A vida passa. O sofrimento passa. Tudo na vida tem um fim, seja para bem ou para mal. As lágrimas cessarão. Os gritos se calarão. O fantasma se esvairá.

Observo os prédios e construções desaparecerem da minha visão. Eu estava deixando para trás uma parte de mim, uma parte que quero esquecer. O mundo se desmantelará em névoa no final, se é que existe um final. Tudo tem um fim. Espero que meu sofrimento silencioso também tenha.

Mal percebo que chegamos ao aeroporto. Foi até que rápido para o trânsito de Nova Iorque. Agradeci e paguei o táxi, logo me apressando a pegar as minhas malas (duas). Adentrei no estabelecimento e fui direto até a central de atendimento. Fiz todos os procedimentos, despachei minha mala e fiquei apenas com a mala de mão. Como gosto de já adiantar tudo e ficar esperando tranquilamente, já passo pelo detector de metais e me dirijo para a área de espera, que consistia numa sala longa, repleta de cadeiras no centro e lanchonetes nas laterais, além de janelas de pé direito alto num lado das paredes. Ando até a parte mais afastada, depois de ter pedido um café no Starbucks. Já que estou longe de todos, posso ser mais a versão quebrada de mim mesma, deixar a máscara cair um pouco. Recoloco os fones de ouvido e coloco a música Someone Like You da Adele. Fico olhando para a janela. Agora caía uma chuvinha leve.

  Bebo um gole do café, sentindo o líquido quente e meio amargo, com um toque de mel, descendo pela minha garganta. A bebida me aquece, me trazendo uma sensação de conforto que nunca recebi de ninguém. Brinco com a tampa do copo e volto meu olhar para a paisagem do aeroporto, com as pistas molhadas, refletindo as rodas dos aviões e o céu nublado. Uma névoa leve se instalava perto do chão do lado de fora. Uma névoa que aprisionava o vapor d'água. Assim como a névoa na minha mente, que aprisiona meus pensamentos ruins e sofrimentos o mais perto possível da minha consciência. Por que eu não fui forte o suficiente? Por que eu deixei que me calassem? Por que eu tive medo? Por que fiz aquele trato? Por que fugi? Sou inútil. Sou horrível. Sou uma menininha com uma cara até que bonitinha pra sociedade, me deixando ficar em silêncio.

  Sou tirada de meus pensamentos por um peso de alguém sentado na cadeira ao meu lado. Quando eu ia me virar para ver quem era, uma voz masculina com uma pitada de urgência, sussurrou para mim:

  - Oi, Loira

  Era o cara do Empire State. Olho para ele. Era ele mesmo, com seus cabelos mais negros que o petróleo, os olhos verdes-água profundos e brincalhões, assim como com seu sorriso sarcástico com uma covinha no lado esquerdo. Instantaneamente, me irrito.

  - O que você quer?

  - Muito legal você. Não quero nada, apenas não chame atenção. - ele responde.

  - Não tenho interesse em chamar atenção. - replico.

  - Eu tô me escondendo, apenas isso. - ele diz.

  Eu dou de ombros e coloco meus fones novamente, desviando meu olhar para a janela. Esqueço da existência daquele menino por um segundo, até que ele tira um dos meus fones.

  - Ei, qual seu problema? - pergunto, irritada.

  - Não quer saber o porquê de eu estar me escondendo?

Olhos solitários- PercabethOnde histórias criam vida. Descubra agora