Você canta bem

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    Levo as roupas e a mochila sobre a cama até o banheiro onde vejo um cômodo de tamanho médio com um grande box, uma pia com uma bancada pastilhada na cor verde e um vaso sanitário no canto.
    Olho aquelas roupas e percebo que os shorts  ou a calça ficariam muito largos em mim. Abro minha mochila e agradeço por sempre manter uma pequena necessaire com calcinha, escova de dentes, entre outros.
    Em cima da bancada da pia havia algumas toalhas brancas. Pego uma das toalhas e penduro no box antes de tirar as roupas que usava e entrar no mesmo.
    Abro a torneira do chuveiro e sinto a água quente bater sobre minha pele. Tomo um rápido banho e ao sair me seco com a toalha branca. 
    Coloco uma camisa cinza com uma estampa do Nirvana. Ela é grande e vai até um pouco acima de meus joelhos. Tento colocar o short ou a calça, mas, como já imaginava, ambos ficam grandes, então decido dormir só com a camiseta.
    Recolho minhas coisas e saio do banheiro. Vou até a pequena mesa  branca e coloco minha mochila e as roupas sobre a mesma.
    Escuto meu celular começar a tocar e atendo logo depois de ver o nome de Tory aparecer na tela.
    - Alo? - Pergunto assim que atendo.
    - Jess! Onde você se meteu, amiga? - Tory me pergunta do outro lado da linha.
    - Eu to na casa dele. - Respondo e ela solta um leve gritinho.
    - Na casa do Falcão? - Ela pergunta sem acreditar.
    - Sim, a gente veio pra cá depois da briga porque ele tinha se machucado e eu fui cuidar dele. E daí meu pai ligou dizendo que ia trabalhar a noite toda, então o Falcão me convidou pra dormir aqui. - Expliquei.
    - Vocês vão dormir juntos? - Ela pergunta animada.
    - Que? Não! Eu vou dormir no quarto de hóspedes.
    - Ah tá
    - Amiga, eu to preocupada. - Confesso querendo falar com alguém sobre meus sentimentos.
    - O que aconteceu? - Ela me pergunta, claramente nervosa.
    - To com medo de estar me envolvendo demais com ele. - Confesso com a voz baixa. 
    - Se acalma, Jess. - Ela me diz. - Tenta não pensar demais e só curte o momento. - Tory me aconselha.
    - É, acho que você tá certa. - Respondo.
    - Eu to sempre certa. - Ela brinca e eu rio um pouco.
    - Cala a boca. - Digo ainda rindo.
    - Enfim amiga, se você tá bem acho melhor ir dormir. - Tory fala depois de alguns segundos de risadas. - Amanhã a gente se fala.
    - Amanhã a gente se fala. - Digo e logo desligo.
Depois de falar com Tory me deito na cama e começo a refletir sobre tudo o que vinha acontecendo comigo. 
Há algumas semanas eu estava completamente fechada para o amor. Não queria me relacionar com ninguém por medo. Será que ainda não quero isso? Será que não posso me abrir para um novo amor? Será que não posso me abrir para Falcão?
Penso muito sobre tudo isso e confesso que por mais que todas essas perguntas ecoem em minha mente não tenho resposta para nenhuma delas. A única coisa que sei é que Falcão despertou em mim algo que estava adormecido desde quando o Jason fez tudo aquilo comigo.
Isso gerava ainda mais perguntas. Será que ele me machucaria? Será que também sente algo por mim? Será que posso confiar nele?
E foi assim que depois de refletir muito acabei adormecendo.

Estava correndo em um corredor escuro. Em cada lado do meu corpo se erguiam longas paredes de pedras pretas e o chão onde pisava era cimentado.
Já estava cansada e minhas pernas falhavam mas o medo que pulsava por meu corpo como o próprio sangue em minhas veias me obrigava a continuar correndo.
Por uma fração de segundos virei o rosto para observar de que fugia e então o vi. A coisa, sua aparência de palhaço completamente assustadora e seu hálito quente contra meu corpo me fizeram soltar um longo e alto grito.
Então percebi, estava sentada na cama, completamente ofegante. Tudo havia sido apenas um sonho, nada mais. Mas tudo fora tão real...
Precisava voltar a dormir, estava cansada. Olhei no relógio preso a meu pulso, já passava das duas da manhã. Me deitei novamente na cama e tentei fechar os olhos, mas tudo que podia ver eram aqueles olhos vermelhos me observando. Eu não conseguiria dormir, não sozinha.
Foi então que uma ideia louca me passou pela cabeça, teria que dormir com Falcão, seria o único jeito de dormir novamente.
Refleti sobre o assunto, sua cama era grande e eu poderia dormir numa ponta, acordaria cedo e voltaria para o quarto antes de ele abrir os olhos.
Me levantei da cama e afastei o edredom branco de meu corpo.  Pisei no chão e senti o piso de madeira gelada contra meus pés descalços. Comecei a caminhar em direção ao quarto do garoto de moicano e ao abrir a porta observei rapidamente a cena à minha frente.
As cortinas estavam abertas e a luz da lua e das estrelas entravam pelas janelas me permitindo observá-lo deitado em sua cama. Ele vestia apenas uma calça de moletom cinza e sua mão direita repousava atrás da cabeça.
Observei por alguns segundos seu rosto calmo enquanto dormia e admirei sua imagem silenciosamente. Ele parecia calmo e sereno e pude ver por trás de toda aquela marra o mesmo menininho da foto que encontrara no quarto de hóspedes. Inocente e amoroso.
Me aproximei da cama após fechar novamente a porta do quarto. Puxei levemente o cobertor da cama e me deitei ao seu lado. Apoiei minha cabeça contra seu peito me aninhando contra seu corpo.
Instintivamente Falcão passou seu braço esquerdo ao redor de meu corpo e pude sentir seu calor iminente e sua respiração calma. Em alguns minutos estava dormindo.

The bad boy ( cobra kai - Hawk )Onde histórias criam vida. Descubra agora