Se há algo que é uma certeza universal é que não temos certeza de nada e se não soubermos dançar com o destino o futuro fica insuportável.
Alice e Christopher se conhecem na infância, logo geram uma conexão forte e ao longo dos anos vão descobrindo...
Finalmente é Natal! Faltam apenas algumas semanas para que eu possa ver Christopher. Estou tão animada com essa ideia que me parece até algo surreal.
Não está sendo nada fácil para mim ficar sem o meu amigo. Os dias passam lentamente e são tão monótonos que não consigo explicar. As aulas se tornaram mais chatas. As únicas coisas que me alegram são ir à biblioteca, conversar com Fernando - ele reconheceu o seu erro e me pediu desculpas, disse que o que fez foi algo impensado e muito impulsivo (fico feliz que ele tenha reconhecido o que fez, até passei a gostar mais da sua companhia e da pessoa que ele verdadeiramente é) - e conversar com meu melhor amigo. O que estou estranhando é que Christopher ainda não mandou uma mensagem sequer hoje, e ele todo dia manda mensagem bem cedo.
Penso que pude ser ciúme, porque agi com raiva em uma breve discussão nossa e acabei comentando sobre Fernando, nada de mais, porém o suficiente para lhe servir como um gatilho, acrescentei mais algumas coisas com raiva e isso lhe bastou. Tentei me explicar, só que Christopher não acreditou muito em mim e desde então me trata um pouco estranho.
Porém também penso que, como hoje é um dia importante para muitas famílias, ele deve estar passeando para comprar os preparativos da ceia ou fazendo algo relacionado à data.
É um dia muito especial, mas também muito cansativo, e é por essa razão que começamos com os preparativos logo no início da tarde.
Desligo meu notebook, observo mais uma vez se tem mensagem de Christopher - não há nada - e resolvo descer para ajudar meus pais.
Chego na cozinha e me deparo com minha mãe repreendendo meu pai.
- Marcos, não é assim que se assa pudim, tem que ser em banho-maria.
Meu pai sempre tenta ajudar e realmente acho isso bonito da sua parte, mas ele é muito desastrado e não sabe cozinhar. Mal sabe fazer um miojo e ovos fritos. O miojo fica insosso e mole, ou seja, ele deixa muito tempo no fogo. Já os ovos fritos... Bem, ele usa muito óleo ou manteiga, usa muito sal ou pouco e frita bastante ou o deixa quase cru. Sinceramente, quando minha mãe não está e ele inventa de cozinhar, digo que vou sair para estudar com alguém, que vou à biblioteca ou que estou sem fome. Não gosto de fazer isso com ele, mas é inevitável.
Uma vez, ele insistiu que minha mãe e eu comêssemos e, para não fazer desfeita, comemos. Aquele dia foi muito ruim, ele todo empolgado, querendo saber como estava, se estava gostoso, e nós balançamos a cabeça confirmando, com as lágrimas quase escorrendo por nossos rostos - estava muito salgado.
- Querida, eu sei o que estou fazendo. Vi isso na Internet.
Minha mãe apenas suspira pela tamanha teimosia dele e fica convencida de que na nossa ceia não terá pudim. Meu amado pai quer assar o pudim como bolo. Triste!
Pego os ingredientes para fazer um pavê. Eu adoro, mas só como no dia seguinte por ficar muito cheia.
Começo a colocar o leite, a maizena, o leite condensado, a gema, o creme de leite e um pouco de essência em uma panela. De repente, meu celular apita, me informando que chegou mensagem. Estou empolgada achando que é de Christopher, mas tenho uma grande decepção quando vejo que é mensagem de um grupo de livros.
Resolvo, então, mandar uma mensagem para ele:
Ei, cadê você?? Sobre as férias, como vai ser?
Falta pouco tempo e não combinamos como será. Isso estava me preocupando, a ansiedade para o vê-lo está a mil.
Guardo meu celular, ligo o fogo e fico mexendo. Isso é tão entediante. Depois de alguns minutos, começa a pegar consistência e a soltar do fundo da panela. Desligo o fogo e, em seguida, vou em direção ao armário para pegar os biscoitos. Molho os biscoitos no leite e, antes que possam encharcar, coloco-os em uma travessa e adiciono o recheio. Faço isso até ter várias camadas. Coloco na geladeira e me sento com meus pais na sala.
Estamos na sala quando sentimos cheiro de algo queimando. Açúcar! Já esperávamos por isso, menos meu pai, lógico.
- O que será que é isso, querida? Não é algo que você fez, não?
- Não, querido, é o seu pudim. Eu te avisei que não se coloca pudim no forno sem banho-maria. Você é teimoso, nunca me escuta. Agora vai lá e dê um jeito naquilo. Minha mãe não está brava, está se achando por ter dado uma lição nele.
Meu pai vai para a cozinha e começamos a rir dele.
- Um dia ele aprende - comentamos.
Como em todos os anos na época de Natal, as ruas estão lindas e bem iluminadas. Quando nos mudamos e chegou a época natalina, se reuniram alguns vizinhos e foram até nossa casa. Eles começaram a explicar a meus pais que eles seguiam padrões em questão de enfeites natalinos; todos os vizinhos decoravam as suas casas com quase o mesmo estilo: colocando piscas ao redor da casa e nas árvores e enfeites como rena, Papai Noel, bonecos de neve e algumas coisas a mais. Desde então, nós também decoramos nossa casa e deixamos nossa rua bem linda e apresentável.
Nossa moradia está tão linda, dá até vontade de ficar horas e horas observando. Tudo está muito confortável, mas o que me entristece é o fato de Christopher ainda não ter mandado uma mensagem em resposta. Na realidade, ele nem chegou a recebê-las.
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Desço as escadas e me direciono para a cozinha, a mesa está farta e bem arrumada.
Minha mãe fez peru, torta de maçã, pão de milho, molho de cranberry, caçarola de feijão verde, purê de batata, batata doce, presunto assado e torta de abacaxi, e eu fiz o pavê, que acaba de ser adicionado à mesa.
Olho ao redor e observo a árvore de natal de pinheiro natural bem enfeitada. Embaixo dela, há alguns presentes e, na lareira, temos meias penduradas. Só o que falta começa a ocorrer pouco depois: neve.
Amo a neve. Quando era mais nova, tinha mania de me deitar nela e fazer anjinhos junto a Christopher.
A ceia é bem agradável. Comemos, bebemos, cantamos o hino natalino, visitamos e recebemos visitas. Ganho um par de botas de veludo, um vestido branco de renda da minha mãe, um par de brincos e colares.
Tomo banho e me deito na minha cama. Nenhuma mensagem de Christopher. Resolvo olhar as redes sociais e meu coração começa a pulsar mais rápido. Christopher sumiu, não encontro absolutamente nada dele e nem ele. Procuro de todos os jeitos, procuro novos possíveis perfis e nada. Ele excluiu absolutamente tudo.
Tento ligar para ele e cai direto na caixa postal, ligo para seus pais e nada. Faço isso vezes seguidas e não resulta em nada. Ele quis sumir e não me deu nenhuma explicação. Ele não cumpriu com o que me prometeu. Ele me abandonou.
