Capítulo 43

12.6K 1.1K 418
                                    

Anthony White

Estava mais ansioso do que o normal para essa viagem. Se fosse duas semanas atrás eu não faria isso nunca.

Colocar meu pai, minha mãe e a família da Grace em uma única casa durante um fim de semana era algo que, com sã consciência, eu nunca faria.

Mas nesse tempo que se passou desde o jogo, meu pai demonstrou estar realmente disposto a ser uma pessoa melhor fora do escritório. Nossa relação de pai e filhos estava aos poucos melhorando. Pelo menos eu acho isso.

- Vai demorar muito ainda? - Perguntei pela sétima vez na última meia hora.

- Vai Anthony! - Meu pai respondeu impaciente.

- E agora? Vai demorar muito ainda? - Questionei cinco minutos depois. Esse fim de semana seria importante para mim, eu estava sentindo isso.

- Vai Anthony... - Ele respondeu novamente impaciente. - Você tá vendo Brigitte? Você tá vendo né? Se eu jogar ele pra fora do carro... - Deixou a frase no ar e minha mãe riu acariciando o ombro dele.

- Fique calmo querido, ele tá ansioso. - Assenti freneticamente fazendo eles rirem.

- Essa menina tá deixando ele mais idiota do que já era antes... - Meu pai comentou baixo, acho que era só para minha mãe escutar.

- "Mais idiota"? Eu não sou idiota! - Resmunguei cruzando os braços. - Mas vai demorar muito ainda?

- Filho... - Minha mãe falou séria, em repreensão.

- Vai demorar pai? - Perguntei fazendo bico como uma criança inocente.

- Vai demorar para chegar lá Anthony, mas quer saber uma coisa que não vai demorar? - Falou me deixando curioso.

- O que?

- Minha mão na sua cara se você não calar a boca. - Ele sorriu falso e eu engoli em seco.

- Sem graça. - Falei colocando o meu fone dando play em uma playlist qualquer.

Fiz careta ao ver que não tinha sinal, assim eu não poderia mandar nenhuma mensagem para a Grace para perguntar como eles estão. Nós saímos da cidade um pouco antes deles e eu já estava morrendo de saudade de falar com ela.

Chegava ser sufocante a necessidade que eu tinha de compartilhar os momentos do meu dia com ela, de escutar ela falando sobre coisas banais que ela gostava, como combinar a cor da meia com o tênis. Ver, ouvir, abraçar e beijar ela faziam meu dia ficar infinitamente melhor e se isso era amar alguém... Eu queria amar ela para o resto da minha vida.

Mas tinha uma coisa me deixando curioso, alguma coisa que ela não queria me contar, algo que a estava deixando nervosa e pensativa. Eu não quis forçar a barra, estava esperando ela me falar, mas isso já estava me deixando paranóico.

Às vezes ela parava olhando para algum lugar qualquer com o olhar nervoso, perdido, angustiado e confuso, o que me partia o coração e fez perguntas surgirem.

E se ela quisesse desistir de nós?

E se ela não me quisesse mais?

E se ela percebeu que não gosta de mim?

E se ela estiver gostando de outro?

Confesso que minhas paranóias acabam me fazendo muito mal em alguns momentos.

O certo seria perguntar o que está acontecendo e tals, mas estava com medo do que fosse o real motivo para deixar ela assim.

A verdade é que eu não gostava nem de me imaginar sem ela, pode parecer meio psicopata, mas eu esperei por tanto tempo para ter ela comigo que era dilaceradora a sensação de perdê-la.

Mas se algum dia ela quisesse assim, eu respeitaria, pois não teria o que fazer.

Ninguém tem o direito de obrigar alguém a ficar ao seu lado.

Eu sei que sou meio maluquinho e pareço psicopata para alguns, mas nunca faria nada contra a vontade dela ou que qualquer outra.

O que me deixava menos tenso quando a insegurança batia eram os momentos bons que já passamos, os sorrisos sinceros, beijos carinhosos, o apoio, a ternura e o companheirismo que nós temos.

- Já estamos chegando. - Meu pai falou puxando um lado do meu fone quando a playlist já estava quase no fim e ela tinha algumas horas de duração. Eu acabei por sorrir animado.

Amava a casa de campo, mesmo não frequentando ela com a frequência que eu gostaria. Ter a menina que eu amo ao meu lado ali seria incrível.

Poucos minutos depois avistei o portão de madeira que indicava o início da propriedade dos meus pais, tinha uma fita laranja amarrada nele, era o que meus pais tinham pedido para o caseiro fazer, assim o senhor Thompson localizaria facilmente a nossa casa no meio de tantas outras nessa estrada afastada.

- Eu abro! - Falei alto praticamente pulando para fora do carro quando meu pai se aproximou o suficiente da entrada.

O cheiro do campo logo invadiu minhas vias nasais e eu sorri satisfeito com a sensação de paz quase completa que eu senti.

Aguardei pacientemente meu pai passar com o carro para então fechar novamente o portão, entrei no meu lugar e fiquei apreciando a paisagem por mais uns 5 minutos até chegarmos na casa.

Tudo aqui era diferente da nossa casa na cidade, as coisas eram mais "rústicas", tinha muita madeira e pedras por todas as estruturas, os cavalos pastando ao lado esquerdo perto do rio que cortava o terreno ao meio com gansos nadando pela extensão dele, mais ao fundo conseguia ver o lugar onde ficavam algumas vacas, porcos, galinhas e a horta.

Do lado direito era mais "limpo", ali ficava o jardim de flores da minha mãe, alguns balanços, bancos e mesas de madeira, a piscina e uma parte mais plana, onde eu fazia piqueniques com a minha mãe quando mais novo.

A coisa que mais se destacava no meio de tudo era a casa, que ainda tinha um toque meio moderno.

- Sejam bem-vindos, senhores White. -Flinn, o caseiro, falou quando descemos do carro.

- Obrigado. Boa tarde, Flinn. - Meu pai agradeceu e cumprimentou sorrindo de lado e estendendo a mão para o homem, que assustado retribuiu o cumprimento.

Meu pai estava mudando mesmo, ele nunca foi de conversar com os funcionários ou tratá-los com mais que o básico de educação.

- Tá tudo pronto? - Perguntou enquanto tirava as malas do carro com a ajuda de Flinn.

Minha mãe tinha cumprimentado Flinn e entrou correndo para falar com Diana, a mulher dele, que também trabalhava aqui.

Na verdade, eles moram em uma casinha menor aos fundos com os dois filhos, Dylan e Lisa, de 19 e 16 anos respectivamente.

Eu estava parado olhando para a paisagem, me sentia muito bem aqui.

- Sim senhor. - O caseiro respondeu tirando uma mochila do porta-malas. -Foram arrumados mais três quartos de visita como o senhor pediu.

- Ótimo! - Meu pai sorriu. - É pra família da namorada do Anthony. - Explicou mesmo sem necessidade.

- Namorada do Anthony? - Dylan e Lisa perguntaram em uníssono descendo a pequena escada da varanda.

- É... - Thomas respondeu orgulhoso. - Meu filho tá todo bobo pela menina, vocês precisam ver. - Comentou rindo e eu sorri bobo. - Não sei como ela aguenta, cada vez que ele olha pra ela fica com essa cara de esquisito. - Apontou na minha direção e eu revirei os olhos.

Dylan revirou os olhos descaradamente indo ajudar o pai dele com as bagagens, já Lisa bufou alto e voltou para dentro da casa.

Que gente estranha, credo!

Eu sabia que Dylan não gostava de mim, o motivo? Não sei, a gente mal conversa. E Lisa? Sei lá também. Nunca fui de conversar tanto com ela, só o básico.

Dei de ombros e fui ajudar a levar minhas coisas para o quarto.

____________
Continua...

Na Segunda Carteira Onde histórias criam vida. Descubra agora